O Transtorno do Espectro
Autista (TEA) continua sendo um grande desafio para muitas famílias e – não
seria um excesso dizer – para toda a sociedade. No exercício de sua profissão,
o neurologista José Araújo, da Hapvida NotreDame Intermédica, tem sido
testemunha de como o entorno das crianças autistas precisa mudar para que elas
possam ter a mesma qualidade de vida e as mesmas oportunidades de
desenvolvimento que as das outras.
Quando o assunto é a
convivência social das crianças com TEA, José Araújo enfatiza a importância de
a sociedade adotar atitudes respeitosas e adaptativas. “Tudo começa com
informação e respeito. Tentar ver o mundo sob o olhar de uma pessoa autista é
um desafio, mas ajuda a entender que uma criança que não consegue usar a fala
para se expressar pode acabar utilizando a linguagem física para demonstrar
insatisfação ou angústia, por exemplo”, afirma ele. O neurologista ressalta
ainda que as estereotipias, como movimentos repetitivos ou comportamentos não
convencionais, fazem parte do dia a dia da pessoa autista e “está tudo bem”.
“Compreender que essas características fazem parte do ser autista é essencial
para uma convivência mais harmoniosa”.
Para o médico, uma das
maiores falhas da sociedade é esperar que as crianças autistas se adaptem a um
mundo que não foi feito para elas. “Em muitos casos, a sociedade exige que elas
se ajustem aos seus padrões, ao invés de criar um ambiente que acolha suas necessidades”,
explica. Ele defende que a adaptação de espaços públicos, como escolas, locais
de trabalho, rodoviárias e aeroportos, é essencial para garantir que a inclusão
seja real e não apenas teórica. A instalação de salas sensoriais ou de
descompressão nesses lugares, sugere o neurologista, poderia ser uma solução
para ajudar as crianças a lidarem com estímulos excessivos.
A demanda por essa postura
acolhedora não é por acaso. O aumento significativo no número de diagnósticos
de TEA nos últimos anos reforça a importância de iniciativas como as sugeridas
pelo neurologista. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o
transtorno afeta uma em cada 100 crianças no mundo. O relatório anual dos
Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) indica que uma em cada 36
crianças de 8 anos é diagnosticada com TEA.
O primeiro passo nesse
processo de convivência social, claro, é a identificação. José Araújo destaca
que os sinais iniciais do TEA geralmente são muito sutis, o que pode tornar a
percepção um desafio. “Os sinais mais precoces são pouco interesse em outras
pessoas e crianças, poucas expressões faciais, atraso no desenvolvimento da
fala, dificuldade em manter contato visual, movimentos repetitivos, brincar de
forma pouco convencional”, detalha ele. Reconhecer essas características cedo
pode ser fundamental para garantir um acompanhamento adequado desde os
primeiros anos de vida.
As terapias têm um papel
de destaque no desenvolvimento das crianças com TEA, sendo fundamentais para a
evolução do neurodesenvolvimento, segundo o médico. Ele comenta que o
tratamento é sempre realizado de forma multidisciplinar e deve ser adaptado
conforme as necessidades de cada criança. “As terapias, assim como o apoio
familiar e da sociedade, são essenciais para o progresso no
neurodesenvolvimento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista. O
atendimento é personalizado e ajustado de acordo com as demandas de cada
paciente”, explana. O neurologista da Hapvida NotreDame Intermédica dá o
exemplo de uma criança com dificuldades na fala, que pode precisar de
fonoterapia, enquanto uma com desafios comportamentais pode necessitar de
acompanhamento psicológico. Para ele, esse olhar individualizado é fundamental
para o êxito do tratamento.
Em relação ao tempo e
intensidade das terapias, José Araújo afirma que essas variáveis precisam ser
ajustadas de forma personalizada. “O tempo e a intensidade são individualizados
de acordo com cada criança, quase como um trabalho artesanal”, afirma ele, destacando
que as sessões são orientadas pelos conselhos de classe de cada especialidade.
“Os profissionais têm autonomia para atuar como acharem necessário para cada
paciente”, explica, deixando claro que a abordagem precisa ser flexível para
responder a cada particularidade.
A inclusão social de
pessoas com TEA, portanto, depende de um trabalho conjunto. A sociedade precisa
entender sua parte no processo, sobretudo que a adaptação não deve partir
apenas da criança autista, mas também do ambiente ao seu redor. Para que isso
aconteça, é essencial a combinação de um tratamento adequado, do apoio das
famílias e, claro, da colaboração da sociedade.
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