Lula, o frentista
Petista chama de ‘assaltantes’ revendedores de
combustíveis ao se queixar dos preços, tentando forjar culpados para uma
inflação que tem no perfil perdulário estatal seu maior motor
O presidente Lula da Silva defendeu que a Petrobras
venda combustível diretamente aos consumidores, sem a intermediação de
distribuidoras e redes de postos. Trata-se de um diversionismo mequetrefe, com
o objetivo de forjar culpados para uma escalada de preços da qual seu governo é
o principal agente. Beira a leviandade dizer que “o povo, no fundo, é assaltado
pelo intermediário” e precisa “saber quem xingar” quando o preço sobe, já que o
governo, segundo o petista, é quem leva a fama.
O constrangedor discurso de Lula foi feito no
terminal da Transpetro, em Angra dos Reis (RJ), numa cerimônia especialmente
cara ao presidente: o anúncio de licitação para contratar a construção de oito
navios para a frota da Petrobras. O evento recendia a nostalgia de um tempo em
que Lula e o PT reinavam absolutos em mandatos presidenciais sucessivos
prometendo fazer o Brasil grande de novo, tendo o Estado como o formidável motor
do desenvolvimento. Não por acaso, é exatamente a estatolatria perdulária do
lulopetismo que cria o ambiente ideal para a carestia.
Mas, como de hábito, Lula preferiu a mistificação. E
caprichou: “O povo não sabe que a gasolina sai da Petrobras a R$ 3,04 e que, na
bomba, ela é vendida a R$ 6,49. Ou seja, é vendida pelo dobro do que ela sai da
Petrobras. Mas, quando sai o aumento, o povo pensa que foi a Petrobras que
aumentou. E nem sempre é a Petrobras, porque cada Estado e cada posto têm
liberdade de aumentar na hora que quer”. Segundo o petista, “o povo brasileiro
não tem as informações necessárias para fazer um juízo de valor”, razão pela
qual, “quando sai um anúncio de aumento no diesel, na gasolina ou no gás, a
Petrobras e o governo federal levam a fama, mas muitas vezes a Petrobras não
tem culpa nenhuma”. Para arrematar, Lula afirmou que “o povo tem que saber quem
é o filho da mãe disso”.
Ora, Lula sabe muito bem, ou deveria saber, já que
tem assessores perfeitamente capazes de lhe explicar isso, que não se pode
comparar a gasolina que sai da refinaria, ainda sem a incidência dos impostos
federais e estaduais e sem a mistura de etanol, com a que sai da bomba dos
postos de combustíveis. Mais de 20% do valor que o consumidor paga por litro no
posto corresponde a impostos. O preço é formado também pelo custo de transporte
e logística e pelas margens de distribuidoras e revendedores, que o presidente
classifica como “assaltantes” – ignorando o fato de que o preço dos
combustíveis é livre desde 2002. Fiscalizar e combater eventuais cartéis é
tarefa de órgãos reguladores do governo, em defesa dos consumidores.
O presidente propõe que a Petrobras abasteça
diretamente grandes consumidores, sem intermediários. Para prestar esse
serviço, a empresa precisa de autorização da Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis, o que inclusive é feito para produtos em
desenvolvimento, mas não será isso que irá baratear o preço dos combustíveis. A
Petrobras já teve sua própria distribuidora, a BR, atual Vibra, e nem por isso
regulava os preços na revenda.
Houve época em que o governo interferiu diretamente
no mercado, segurando preços de gasolina e diesel, mas isso se deu nas próprias
refinarias, como o congelamento irregular realizado na gestão de Dilma
Rousseff, que resultou num desastre financeiro para a Petrobras.
Depois da devastação nas contas da Petrobras durante
a trevosa era Dilma, a atual gestão petista na empresa não consegue manter os
preços nas refinarias inalterados por muito tempo. Mesmo derrubando
seguidamente pilares de governança da companhia, há limites para a
interferência estatal difíceis de transpor.
A bem da verdade, a interferência política nos
preços dos combustíveis não é exclusividade do lulopetismo. Foi assim nos
governos de Jair Bolsonaro, Michel Temer e Fernando Henrique Cardoso, na maior
parte dos casos por meio de subsídios, zerando os impostos federais por um
tempo para forçar uma queda de preços. De um jeito ou de outro, porém, sempre
que um presidente reclama do preço dos combustíveis, é porque seu governo está
nas cordas.
Opinião do Estadão
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