O subfinanciamento da saúde pública tem comprometido
a qualidade dos serviços e dificultado o acesso da população a exames, tratamentos
e procedimentos de média e alta complexidade. Diante desse cenário, secretários
municipais de saúde de diferentes regiões do Rio Grande do Norte alertam para a
necessidade urgente de uma revisão na distribuição dos recursos, cobrando maior
participação da União e dos estados. Segundo eles, os municípios estão
assumindo uma carga cada vez maior para garantir o atendimento da população,
enquanto enfrentam limitações financeiras crescentes.
Ângela Vilma, diretora financeira do Conselho de
Secretários de Saúde do Rio Grande do Norte (Cosems/RN) e secretária de saúde
do município de Major Sales, diz que a precariedade da rede assistencial é um
reflexo direto da falta de investimentos. “Nosso SUS passa por mil e uma
dificuldades, independentemente do porte do município. O financiamento, sem
dúvida, é o que realmente tem dificultado toda essa conjuntura. A rede de
assistência precisa de suporte e de um olhar mais aguçado do Estado e do
governo federal”, afirmou.
Segundo ela, a falta de equipamentos modernos e o
baixo investimento na assistência farmacêutica são entraves que prejudicam a
população. “O financiamento para a parte de assistência farmacêutica ainda é
muito baixo. A própria saúde mental, que já era um problema antes da pandemia,
teve uma demanda ainda maior e precisa de mais oferta de serviço”, acrescentou.
É a mesma percepção da secretária de saúde de São
José do Seridó, Andréa Dantas, que aponta a sobrecarga da média complexidade
sobre os municípios como um grande desafio. “Os exames, como ressonância e
tomografia, têm sido colocados a critério dos municípios, que não têm
financiamento suficiente para isso. Em tese, deveríamos cuidar apenas da
atenção básica, mas hoje arcamos também com a média complexidade”, explica.
Segundo conta, o município arca com o custo do
tratamento de pacientes oncológicos, que é caro e prolongado. Dantas defende a
regionalização dos serviços de saúde para reduzir a dependência dos
atendimentos realizados em Natal. “Fortalecer as unidades regionais evita que os
pacientes precisem se deslocar constantemente para a capital, o que chamamos de
ambulância-terapia”, afirmou a secretária seridoense.
Na Grande Natal, as dificuldades são semelhantes. Em
São Gonçalo do Amarante, a secretária de saúde, Terezinha Rego, ressalta que as
prefeituras extrapolam a parcela do orçamento destinada à saúde. “Os municípios
são obrigados, por lei, a investir no mínimo 15% da arrecadação na saúde, mas
hoje nenhum aplica menos de 20%. Muitos chegam a 30% ou até 40% devido ao
subfinanciamento do Ministério da Saúde e da baixa participação dos estados”,
afirmou.
Para ela, o envelhecimento populacional e o aumento
das doenças crônicas tornam ainda mais urgente o fortalecimento da atenção
básica e a ampliação da rede hospitalar municipal. “Em São Gonçalo, estamos
construindo um hospital municipal para atender a nossa demanda e reduzir os
encaminhamentos para Natal. Além disso, a violência também impacta a saúde, com
o crescimento dos acidentes de trânsito e agressões”, pontuou.
Os gestores de saúde defendem que a descentralização
dos serviços precisa vir acompanhada de um financiamento mais eficiente. “Em
Assú, já aplicamos 34% da arrecadação na saúde. O problema não é apenas
aumentar o financiamento, mas também melhorar a eficiência do uso dos
recursos”, explicou Viviane Lima, secretária de saúde assuense.
Para ela, a solução passa pela integração das redes
de atenção e pelo fortalecimento do diálogo entre os gestores. “O Cosems tem
sido um espaço importante de discussão e pactuação. Precisamos ampliar essa
cooperação para enfrentar os desafios do SUS de forma conjunta”, concluiu.
Secretários se reúnem em encontro do
Cosems
O Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Rio
Grande do Norte (Cosems-RN) encerra nesta terça-feira (18), no Hotel Holiday
Inn, em Natal, um encontro que reúne os gestores de todo o estado. O evento
começou ontem (17), quando ocorreu a Assembleia Geral do Conselho, com a posse
da nova diretoria, mantendo na presidência Maria Eliza Garcia, secretária de
saúde de Doutor Severiano.
Com o tema “Abraçar e Acolher: o papel do gestor na
atuação municipal de saúde”, a programação inclui palestras e painéis voltados
ao fortalecimento da gestão da saúde nos municípios potiguares. Participam do
evento representantes do Ministério da Saúde, da Superintendência Estadual do
Ministério da Saúde no RN (SEMS-RN), da Secretaria de Estado da Saúde Pública
(Sesap), do Conasems e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), entre
outras instituições.
Nesta terça-feira, a programação inclui debates
sobre liderança na saúde pública, planejamento e monitoramento municipal, além
da apresentação de iniciativas como o Programa Mais Acesso a Especialistas
(PMAE). A missão da SEMS-RN e da Sesap encerra o evento, abordando o
fortalecimento do SUS no estado.
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