Lula faz demagogia ao criticar preço dos combustíveis
Presidente diz que intermediários são responsáveis
por 'assalto' contra consumidores, mas gasto público gerou inflação
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alardeia ter
descoberto um modo de diminuir o preço dos combustíveis. Basta acabar com os
"intermediários", que distribuem e revendem esses produtos, os
responsáveis pelo "assalto" do povo. Além do mais, o valor pago nas
bombas pouco teria a ver com a Petrobras e com o governo federal, já que os
estados cobram impostos.
Não se sabe se Lula acredita nessa propaganda, mas
parece crer que, assim, tiraria das costas o peso do desgosto popular com a
inflação. Atormentado pela baixa inédita de sua popularidade, o presidente se
esquiva de suas responsabilidades.
Há quase um mês, afirmou que tomaria medidas para
reduzir os preços dos alimentos, sem apresentar providência. Vaticina que os
pobres logo terão mais "dinheiro na mão". Antecipa que o Banco
Central baixará a taxa Selic, assunto sobre o qual não tem ou não deveria ter
ingerência.
A pretexto de esclarecer "o povo", Lula
difunde informação falsa. Com o objetivo de causar indignação, o petista disse
que o diesel deixa as refinarias da Petrobras a R$ 3,03 por litro e é vendido
por quase o dobro nos postos —a R$ 6,47, na média, segundo levantamento da
Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Na tabela publicada pela própria Petrobras, com base
em dados da ANP, a parcela da petroleira no preço médio final é de 46,8%. O de
impostos estaduais, 17,3%; os federais, 4,9%. A mistura de biodiesel custa
12,5% do total. Distribuição e revenda, 18,4%.
O presidente abrirá mão do imposto federal ou
forçará estados a fazer isso, como fez Jair Bolsonaro (PL)? Em seu governo,
Lula voltou a tributar o combustível e ofereceu compensações aos estados pelas
perdas de arrecadação.
O mandatário prega intervenção estatal na
distribuição e revenda de combustíveis. Pediu à Petrobras que se encarregasse
da tarefa. Parece achar que os custos de logística, armazenagem, transporte,
negociação e administração assim desapareceriam.
Talvez Lula esteja a dizer que há cartéis ou
distorções na distribuição e na revenda. Tomou alguma atitude a respeito ou ao
menos solicitou estudos a fim de verificar problemas nesse mercado?
Não há notícia de tais iniciativas. Restam fantasias
desinformadas, arengas demagógicas e insinuações de intervenção estatal
daninha. Lula queria retomar o poder sobre a Eletrobras, empresa que teve
graves prejuízos com o aparelhamento em governos petistas, assim como no caso
da Petrobras e dos Correios, para citar os mais escandalosos.
Desnorteado, o presidente reabre o baú de palavras
vazias e ensaia intervenções equivocadas. Teme-se que o governo tente evitar um
possível desaquecimento da atividade econômica com medidas populistas e mais
gastos, que estão na raiz do dólar caro que pressiona tanto os alimentos quanto
os combustíveis.
Espera-se que Lula tenha clareza dos riscos dessa
estratégia para seu futuro político.
Editorial Folha de São Paulo
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