Luis Otavio Leal, economista-chefe e sócio da G5
Partners, projeta alta de 5% nos alimentos este ano, abaixo da média histórica
de 7%. Ele avalia que a dinâmica deverá ser ajudada pela safra recorde de grãos
e pelo clima, já que o fenômeno La Niña tende a ser fraco este ano. No entanto,
a carne bovina e o café serão os grandes “vilões”, com altas de 7,5% e 20% este
ano, respectivamente.
Ele espera outros impactos significativos nos preços
do frango, com chances de aumento na casa de 8%, de 9,1% sobre o arroz e de
5,5% sobre o leite longa vida:
— São alimentos que acabam tendo muita sensibilidade
ao consumidor. No caso do frango, não é questão de oferta. Mas como o preço da
carne sobe, as pessoas aumentam o consumo da outra proteína.
Alexandre Maluf, economista da XP, espera alta mais
significativa: um aumento de até 9,2% para os preços de alimentos e bebidas
este ano. O vilão, diz ele, serão as proteínas. Ele espera que a carne bovina
fique até 20% mais cara este ano, seguido do frango, que deve ter alta de 14%:
— Vimos uma escalada de preços no fim de 2024 e
devemos ver uma alta similar no segundo semestre deste ano. A inversão do ciclo
da pecuária faz parte do negócio do próprio setor, e não existe política
governamental que consiga intervir nisso no curto prazo.
O café pode ter alta superior a 20%, projeta o
economista da XP. E ele não vê instrumento efetivo para conter o preço diante
da restrição do grão no mercado internacional.
— É difícil imaginar algum instrumento efetivo e
poderoso no curto prazo — diz.
José Carlos Hausknecht, sócio diretor da consultoria
MB Agro, diz que os preços do café e das carnes estão altos no mercado
internacional pela baixa oferta global, o que traz reflexos sobre preços
domésticos. E, por causa da desvalorização do real frente ao dólar, o custo
fica maior e afeta a paridade interna.
No mercado interno, o preço da saca de café arábica
de 60kg chegou a R$ 2.387,85, uma alta de 132% em apenas um ano, considerando
preços de janeiro deste ano frente a igual mês do ano passado. Os dados são do
Cepea, compilados pela MB Agro.
— Baixar o câmbio seria a melhor medida (para conter
os preços de alimentos) — avalia Hausknecht.
Heron do Carmo, professor da Faculdade de Economia e
Administração (FEA) da USP, prevê que a inflação dos alimentos em 2025 fique
mais próxima à média do índice geral de preços, projetado em 5,5% pelo Boletim
Focus. Ele diz que a alta da carne bovina está relacionada ao ciclo da
pecuária, e os preços sobem quando existem menos fêmeas disponíveis para abate:
Heron destaca, no entanto, que as perspectivas para
os preços de alimentos este ano são mais favoráveis em comparação a 2024. Ele
aponta menor pressão do câmbio, que não deve desvalorizar no mesmo ritmo do ano
passado, e o impulso da safra agrícola recorde no país.
Na visão do economista, o “nó” atual que impede
melhora das projeções de preços é a política fiscal. Se o governo conseguir
retomar a confiança dos agentes econômicos a partir da apresentação de
resultado primário melhor que o esperado, traria reflexos aos preços e
estabilidade à inflação.
— Essa deve ser a preocupação. Mexer em preços pode
ainda perturbar o mercado, e se preocupar (com alimentos) dessa forma me parece
uma preocupação prematura e exagerada com eleição. Não é boa motivação — diz
Carmo, que defende a retomada da política de estoque regulador para amenizar
preços em períodos de grande oscilação.
Leal, da G5 Partners, também cita a importância de o
governo fazer estoques reguladores para ajustar os preços em momentos de alta,
mas considera a medida mais estrutural do que de curto prazo. Segundo dados da
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) coletados até dezembro de 2024, o
estoque de café está praticamente zerado desde 2018:
— É um pouco da história da cigarra e da formiga.
Ninguém se prepara e depois realmente não tem nem o que fazer.
Em nota, o Ministério do Desenvolvimento Agrário
cita o aumento de preços de commodities, como café, açúcar, laranja e carne no
mercado internacional e eventos climáticos que afetaram a safra passada como
fatores para a alta de preços no mercado interno.
A pasta, recriada em 2023, cita a retomada de planos
safra para agricultura familiar e a redução da taxa de juros do crédito rural
do Pronaf (de fortalecimento da agricultura familiar). O ministério cita maior
financiamento a alimentos como batata, feijão, banana, além da criação de
programas para fomentar a produção de arroz e leite.
A nota ressalta que o país deve registrar safra
recorde, de 322,3 milhões de toneladas, de acordo com a projeção mais recente,
alta de 8,2% sobre a anterior.
O Globo
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