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quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

TANGARAENSE - José Roberto de Toledo: Popularidade toma tombo histórico e triplamente dolorido para Lula

 




A popularidade de Lula tomou um tombo histórico no meio do seu terceiro mandato. Pesquisa presencial e nacional de uma das melhores casas do ramo identificou perda de cinco pontos da avaliação positiva do presidente neste começo de janeiro em comparação a dezembro.

Mas a sondagem revelou coisas ainda mais doloridas para o presidente. Pelo menos três.

1) Os cinco pontos perdidos entre quem aprovava o desempenho de Lula 3 não foram para quem está em cima do muro; isto é, não se somaram a quem acha o governo regular.

Os pontos perdidos engrossaram o lado de quem avalia mal a atual administração: 

os cinco pontos da ponta de cima foram para a ponta de baixo sem escalas;

contando dobrado, fizeram surgir um saldo negativo inédito de dez pontos.

Resultado: Lula entrou no vermelho, tem maisgente achando seu governo ruim/péssimo do que ótimo/bom. Em 2024, Lula estava no zero a zero. Começou 2025devendo. Daí os pitos todos dados aos ministros antes, durante e depois da reunião ministerial.

2) Ter um governo com mais dívidas do que créditos junto à população já seria ruim o suficiente para um presidente que podia se gabar de ter deixado o cargo com a maior popularidade já registrada por um locatário do Palácio do Planalto (em 2010). Mas a notícia é ainda mais dolorosa para Lula.

Desde que tomou posse como presidente em 2003, é a primeira vez que o saldo de popularidade de Lula fica negativo para além da margem deerro nesses dez anos (não consecutivos) no cargo.

No auge do mensalão, em dezembro de 2005, Lula chegou a ter três pontos a menos de ótimo/bom do que de ruim/péssimo: 29% a 32%, mas a diferença estava dentro da margem de erro. Poderia ser 31% a 30%, considerando dois pontos a mais ou a menos. Era discutível. E foi passageiro.

Agora não há dúvida. Há mais brasileiros achando o governo ruim ou péssimo do que bom ou ótimo. Isso é inédito para Lula.

É também histórico: ocorre quando Donald Trump toma posse como presidente dos EUA com um discurso mais agressivo e xenofóbico do que nunca, dizendo, entre outras coisas, que não precisa do Brasil.

3) Mas talvez a pior das três notícias reveladas pela pesquisa é que a queda de popularidade do presidente aconteceu no coração do lulismo. Algumas das maiores perdas de aprovação foram entre:

* os mais pobres;

* os menos escolarizados;

* os moradores do Nordeste.

São três dos segmentos da população que mais ajudaram Lula a derrotar Jair Bolsonaro nas urnas em 2022. Pareciam sustentar uma fortaleza inexpugnável. Apareceram trincas nas muralhas.

Perder apoio entre os seus eleitores mais tradicionais e convictos é especialmente grave. São eles que sustentam o presidente na cadeira. É a quem o governante pode recorrer quando a oposição ameaça conspirar com um presidente da Câmara mais afoito. Lula ainda tem três vezes mais apoio do que Dilma Rousseff tinha dez anos atrás. Mas o alarme soou.

A pergunta sem responsa da pesquisa é por quê? Por que agora?

O maior evento político do período foi o tsunami de fake news sobre taxação do Pix. Houve tanta repercussão negativa no Instagram, WhatsApp e, depois, nos meios de comunicação que provocou um atabalhoado recuo do governo em portaria da Receita Federal sobre fiscalização de transações de baixo valor em instituições financeiras até então fora do radar do Leão.

Um vídeo maroto do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) nas redes "denunciando" uma suposta tentativa do governo de taxar e vigiar o dinheiro dos trabalhadores informais teve 50% mais visualizações do que há pessoas no Brasil. Foi anormal.

O conteúdo era enganador, mas explorava uma das mais relevantes mudanças sociais ocorridas no Brasil nos últimos anos: a incorporação de cerca de 40 milhões de brasileiros ao sistema financeiro, principalmente via Pix e as chamadas Fintechs.

A portaria da Receita priorizava transações ilegais, muitas delas cometidas pelo crime organizado, mas foi "denunciada" como uma tentativa de o Leão cobrar impostos de trabalhadores informais que transacionam via Pix: ambulantes, motoristas de aplicativo, entregadores, manicures, diaristas.

Foram provavelmente esses "informais", que respondem por 39% da força de trabalho ocupada do Brasil, que, assustados com o rugido falso do Leão, mudaram de opinião sobre o governo. Afinal, eles se concentram nos segmentos mais pobres e menos escolarizados - os mesmos segmentos que a pesquisa registrou terem mais se decepcionado no último mês com o governo Lula.

Mais: como lembraram os pesquisadores da FGV Lauro Gonzalez e Bruno Sanchez em artigo recente, 90% dos adultos inscritos no Cadastro Único do governo federal têm chave Pix. E empreendem também. Entre os que recebem benefícios como Bolsa Família, 14 milhões de pessoas exercem atividades empreendedoras.

Não é loucura assumir que parte significativa dessas pessoas tenha se convencido nas últimas semanas de que o governo está querendo cobrar imposto delas nas transações via Pix - e, por essa convicção, tenham passado a ver Lula com outros olhos.

São os "pixadores" pichando o governo.

José Roberto de Toledo - UOL

 

 

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