O ministro Fernando Haddad (Fazenda) negou por meio
de sua assessoria, neste domingo (26), que já haja novas medidas de contenção
de gastos a serem apresentadas ao presidente Lula (PT).
É a segunda vez em menos de um mês que Haddad afirma
não haver novas propostas para tentar acalmar o mercado financeiro.
Segundo nota da Fazenda, não há novas medidas
elaboradas nem anúncio previsto para esta semana.
A afirmação ocorre num momento em que o dólar
retomou a um patamar abaixo de R$ 6, após uma trajetória ascendente desde o fim
do ano passado, quando renovou o recorde histórico para R$ 6,267.
Há uma preocupação no governo em barrar de antemão a
formação no mercado financeiro de expectativas de que haverá anúncio de novas
medidas para breve, de acordo com auxiliares do presidente ouvidos pela Folha.
O risco que entrou no radar é que, no caso da
ausência de medidas, haja um novo movimento de alta do dólar e dos juros
futuros no momento em que a cotação da moeda norte-americana começou a cair.
O dólar fechou a sessão da sexta-feira (24) com
queda de 0,12%, cotado a R$ 5,917, após o presidente dos Estados Unidos, Donald
Trump, admitir que existe a possibilidade de um acordo comercial com a China e
que preferia não criar tarifas de importação aos produtos daquele país.
Foi o menor valor desde 27 de novembro do ano
passado (R$ 5,913) e o maior recuo semanal (2,42%) desde 9 de agosto do ano
passado, quando cedeu 3,43% em cinco dias úteis.
A negativa de Haddad foi divulgada em razão de
notícia publicada pelo jornal O Globo segundo a qual ele já teria fechado com
sua equipe três propostas para apresentar a Lula na tentativa de convencer o
mercado financeiro de que o governo está preocupado em reverter a deterioração
do quadro fiscal.
De acordo com o jornal, medidas poderiam ser
anunciadas nesta semana.
No dia 29, a assessoria de Haddad já havia negado
informação anterior, no mesmo sentido.
O governo quer evitar a repetição do que ocorreu
durante as discussões das medidas de corte de gastos, no ano passado, quando a
demora do anúncio e especulações sobre o tamanho do pacote acabaram promovendo
um ciclo de piora das condições financeiras com alta do dólar e dos juros.
Na avaliação de integrantes do governo, essa espera
acabou levando a uma avaliação ruim pelo mercado do impacto das medidas.
Um ministro de Lula disse à Folha, na condição de
anonimato, que Haddad ainda está construindo no governo as condições para que o
presidente Lula aceite retomar as discussões de novas medidas.
Antes disso, o governo ainda terá que negociar a
votação do Ploa (Projeto de Lei Orçamentária) de 2025, após a eleição dos novos
presidentes da Câmara e do Senado, no sábado (1º).
O auxiliar do presidente destacou que não tem como
discutir medidas antes da votação das Mesas Diretoras do Congresso e das
negociações orçamentárias, que são sempre delicadas. A equipe econômica precisa
acomodar no Orçamento as medidas do pacote fiscal.
Ele reforçou que, apesar da ansiedade dos analistas
do mercado, há o “timing” da política para as decisões e que Haddad estaria
jogando com isso para ter mais tempo de conversas com o presidente Lula sobre a
estratégia de política fiscal e a adoção de novas medidas.
Folha de São Paulo
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