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sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

TANGARAENSE - Editorial Folha de São Paulo: Governo só exibe despreparo ao mirar preço de alimento

 


Governo só exibe despreparo ao mirar preço de alimento

Inflação tem origem em fatores climáticos, agravados por alta de gastos sob Lula; ensaio de intervenção gera polêmica

O Brasil viveu em 2024 uma grande seca e incêndios disseminados, além de enchentes que destruíram parte do Rio Grande do Sul. Um dos resultados desses desastres foi perda na produção de carnes, leite, arroz, café, açúcar e laranja, por exemplo, afora danos na horticultura. Houve problemas climáticos no mundo, fora a demanda elevada por certos produtos.

Além do mais, a moeda brasileira passou por aguda desvalorização —em grande parte, pelo descrédito da política econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que impulsionou o crescimento do PIB por meio de expansão insustentável do gasto e da dívida pública. Isso teve impacto na inflação, particularmente na de alimentos.

O país ainda convive com grau elevado de inércia inflacionária —vale dizer, o encarecimento de algumas mercadorias tende a afetar outras; o consumo, ademais, está em nível alto, dado o desempenho robusto da atividade econômica, o que facilita o repasse de custos para os consumidores.

Esse é o cenário da elevação recente dos preços da comida, que suscitou reações desencontradas de um governo ora obcecado por críticas nas redes sociais.

O presidente da República pediu a seus ministros que tomem providências rápidas a respeito do tema—dando mostras de que a gestão petista não tem consciência das causas da inflação, imagina que possa tomar medidas relevantes no curto prazo e, de quebra, arrisca-se a comprometer ainda mais seu prestígio.

O custo dos alimentos consumidos em domicílio aumentou ao longo do ano passado, com alta de 8,2%. O fenômeno teve dois efeitos na percepção da carestia.

Primeiro, atingiu itens essenciais: carnes, óleo de soja, café, arroz, laticínios. Segundo, agravou um problema que persiste desde a epidemia de Covid-19: embora o avanço do valor médio dos rendimentos do trabalho supere o da inflação, o nível do preço da comida continua acima do normal.

Houve grande descolamento desse segmento em relação a salários, o que é muito evidente a partir do terço final de 2020. De fins de 2019 até agora, registrou-se encarecimento de mais de 60% dos alimentos que se consomem em casa, ante expansão média de cerca de 40% dos rendimentos do trabalho. A distância voltou a crescer a partir de agosto do ano passado.

Um governo, em tese, pode tomar medidas para tornar mais eficientes a produção e a distribuição de alimentos: estudos sobre localização de lavouras, mitigação da crise climática, crédito, assistência técnica, seguros, transportes melhores, diminuição do poder de mercado de firmas, tributação comedida. Em uma perspectiva otimista, isso tem efeito no médio prazo.

Salvo algum milagre, Lula não conseguirá conter preços de imediato —sendo mais prováveis intervenções desastradas ou novas polêmicas inúteis, como ao aventar a flexibilização de prazos de validade de alimentos.

Editorial Folha de São Paulo

 

 

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