Dados do Ministério da Saúde obtidos pelo jornal o
GLOBO por meio da Lei de Acesso de Informação (LAI) apontam que o valor perdido
com as vacinas inutilizadas em 2023 e ao longo deste ano, até a segunda-feira
passada (11), foi de R$ 1,75 bilhão, um recorde desde os quatro anos do segundo
mandato de Lula, quando o prejuízo acumulado foi de R$ 1,96 bilhão. A quantia
jogada no lixo nos últimos dois anos seria suficiente, por exemplo, para
adquirir 6 mil ambulâncias do padrão utilizado pelo Samu (R$ 276 mil cada
unidade) ou 101 milhões de canetas de insulin, que ficaram em falta em postos
de saúde do país no primeiro semestre.
Para evitar novos desperdícios, a Saúde informou ter
adotado inovações no processo de distribuição dos imunizantes, “como a entrega
parcelada por parte do laboratório contratado e possibilidade de troca pela
versão mais atual aprovada pela Anvisa”.
A maior parte das perdas de vacinas ocorreu em 2023,
com 39,8 milhões inutilizadas, somando prejuízo de R$ 1,17 bilhão, enquanto de
janeiro deste ano até agora foram mais 18,8 milhões sem uso, o que já custou R$
560,6 milhões aos cofres públicos.
Procurado, o Ministério da Saúde afirmou ter
encontrado imunizantes contra Covid-19 já com prazo expirado ao assumir. “As
vacinas vencidas em 2023 foram reflexo de estoques herdados da gestão anterior
e campanhas sistemáticas de desinformação que geram desconfiança sobre a
eficácia e segurança do imunizante, impactando na adesão da população”, afirma
a pasta, em nota.
Além do número maior de vacinas perdidas,
proporcionalmente a atual gestão desperdiçou mais doses do que utilizou. Foram
217 millhões de aplicações desde o ano passado. Ao mesmo tempo, outras 385
millhões tiveram que ser descartadas, 176% a mais.
Cada unidade de vacina pode contemplar mais de uma
dose, a depender da indicação do fabricante. Um frasco do imunizante contra
Covid-19 da Pfizer, por exemplo, possui 10 doses na sua versão pediátrica e
seis na adulta.
As vacinas contra Covid-19 respondem por três de
cada quatro das que foram descartadas neste. Enquanto isso, 80,62% da população
não tomou a segunda dose de reforço contra a doença.
Presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e
colunista do GLOBO, a médica Margareth Dalcolmo aponta que lotes recebidos
perto do vencimento e a baixa procura da população pelas vacinas são fatores
que levaram às perdas dos imunizantes.
O desperdício, porém, não se restringe às vacinas
contra Covid. Outros imunizantes também foram descartados, como o DTP (16,5% do
total fora da validade) — contra difteria, tétano e coqueluche — febre amarela
(3,5%), e meningocócica (1,8%).
O desperdício ocorre apesar do aumento na cobertura
vacinal dessas doenças. A da DTP, por exemplo, passou de 64,4% da população
imunizada em 2022 para 87,5% em 2024. A da febre amarela foi de 60,6% para
75,4%. E da meningocócica, de 75,3% para 95,3%.
Coordenador da Sociedade Brasileira de Infectologia,
o professor Alexandre Naime avalia que o governo pouco investiu em campanhas
pró-imunização. Ele também aponta problemas na gestão do sistema de saúde, o
que inclui governo federal, estados e municípios.
"A gestão e o planejamento do ministério está
tendo muita falha, está muito mal-articulado. E não era assim no passado.
Precisa ter muitas mudanças para o dinheiro do contribuinte não ser jogado
fora", disse ele.
Ministro da Saúde de 2007 a 2010, no segundo mandato
de Lula, o pesquisador da Fiocruz José Gomes Temporão avalia que o próprio
sucesso do PNI pode explicar a redução da procura por vacinas. Segundo ele, com
o sumiço de muitas doenças a partir de 2016, como sarampo e tétano, pais podem
ter deixado de buscar postos de saúde para vacinar seus filhos. Somado a isso,
conforme o ex-ministro, houve uma redução de gastos com publicidade e
estratégias de comunicação para convencer a população a se vacinar.
Com informações de O Globo
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