Com o aumento da alíquota do imposto sobre
importação de painéis solares, que foi ajustada de 9,5% para 25% pelo Governo
Federal, os investimentos em energia fotovoltaica do Rio Grande do Norte podem
ser um dos mais impactados, visto que o RN é o quinto estado com mais
investimentos em energia solar de grande porte no País. Entidades do setor
local e nacional, como a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica
(Absolar) apontam preocupação com a medida. O presidente da Federação das
Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), Roberto Serquiz, classificou a
decisão como “inoportuna”, enquanto o presidente da Associação Potiguar de
Energias Renováveis (Aper), Williman Oliveira, diz que o retorno dos
investimentos, o Payback, pode levar mais tempo, mas que a falta de segurança
jurídica seja mais grave no setor.
A mudança na alíquota de importação de células
fotovoltaicas foi publicada em resolução no Diário Oficial da União no último
dia 13 de novembro. O documento prevê que algumas empresas importadoras de
módulos fotovoltaicos ainda conseguirão ter acesso à isenção desta alíquota por
meio de uma cota da ordem de US$ 1.014.790.000 até o dia 30 junho de 2025. Essa
cota, estabelecida pelo Comitê-Executivo de Gestão da Câmara de Comércio
Exterior (Gecex-Camex), será encerrada na data final de sua vigência ou
enquanto o saldo restante do montante original não for consumido em sua
totalidade.
O Governo justificou que a medida favorece a
produção local de componentes e insumos, como células, wafers e módulos,
reduzindo a dependência externa e aumentando o valor agregado no país. Além
disso, que busca estimular o fortalecimento da indústria solar nacional,
contribuindo para a diversificação da matriz energética, alinhando-se aos
compromissos ambientais e climáticos do Brasil. É a terceira interferência no
setor desde o início da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No governo de
Jair Bolsonaro havia a isenção do imposto.
A medida gerou críticas na indústria. “Inoportuno,
porque em nível nacional a indústria ainda não está devidamente estruturada
para suprir a demanda atual. Isso [o aumento do imposto] aumentaria o preço,
ameaçando o crescimento e conseqüentemente os investimentos”, alerta Roberto
Serquiz, presidente da Fiern.
Informações da Aneel mostram que atualmente existem
21.224 usinas fotovoltaicas instaladas no Brasil, com outras 2.641.323 de
unidades de geração solar na modalidade de GD, totalizando uma capacidade
instalada de geração de energia elétrica de 43,6 GW, cerca de 18,7% do total do
país. Esse valor coloca a energia solar como a segunda maior fonte de energia
do país, em termos de potência instalada. Para se ter uma ideia, mais de 150
mil moradores de regiões remotas da Amazônia Legal receberam energia elétrica,
nos últimos cinco anos, apenas por meio da fonte solar.
Williman Oliveira, presidente da Aper, diz que o
preço do kit solar, que já havia caído cerca de 40% desde 2020, poderá sofrer
um aumento de cerca de 10%. “Ainda assim, o sistema continua sendo atrativo
para o consumidor. Apenas o payback (tempo de retorno do investimento) terá um
leve aumento para quitação do investimento”, avalia.
Para ele, há uma preocupação maior quanto à
regulação da geração distribuída e, por isso, as entidades monitoram os
projetos de lei que tramitam no Congresso. “Temos as concessionárias mudando a
cada tempo as regras. Isso sim, preocupa muito mais. Queremos segurança
jurídica no setor”, destaca Williman.
Risco
Para compreender a dimensão do dano causado à fonte
solar, a Absolar realizou o levantamento junto aos associados com projetos em
potencial risco. Segundo a entidade, são pelo menos 281 empreendimentos de
grandes usinas solares, que somam mais de 25 GW e mais de R$ 97 bilhões em
investimentos até 2026.
A Associação divulgou nota técnica no dia seguinte à
publicação da resolução, apresentando os riscos que o aumento na alíquota de
importação pode trazer para os investimentos no setor de energia fotovoltaica
do país. O documento explica que esse risco está ligado ao fato de que usinas
solares possuem linhas de crédito aprovadas pelos bancos operadores dos fundos
constitucionais, que são veículos de crédito fundamentais para o
desenvolvimento de projetos viáveis de energias renováveis no País.
“Tais linhas utilizam metodologias de concessão de
crédito que envolvem a consulta à lista de ex-tarifários vigentes, publicada
pela Câmara de Comércio Exterior (CAMEX). Como os ex-tarifários de módulos
fotovoltaicos foram revogados, a concessão destes empréstimos aos
empreendedores fica prejudicada, inviabilizando os projetos, inclusive aqueles
com crédito já concedido”, argumentou a associação.
A perda do ex-tarifário inviabilizaria os projetos
por completo, por conta da perda automática do financiamento vinculado ao
empreendimento. Estes projetos podem contribuir para a geração de mais de 750
mil empregos novos empregos e para a redução de 39.1 milhões de toneladas de
CO². Segundo a Absolar, no País, a fonte solar fotovoltaica tem quase 50 GW de
capacidade instalada operacional, atraiu mais de R$ 230,4 bilhões em novos
investimentos e gerou mais de 1,5 milhão de empregos verdes, proporcionado mais
de R$ 71.2 bilhões de arrecadação aos cofres públicos.
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