segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Bernardo Mello Franco: Fiasco da esquerda no segundo turno é novo alerta para governo Lula

 


Fiasco da esquerda no segundo turno é novo alerta para governo Lula

Campo progressista perdeu em cinco capitais e só venceu em Fortaleza; em Porto Alegre, eleitores tiveram mais medo do PT do que de uma nova enchente

No dia seguinte ao primeiro turno, o ministro Alexandre Padilha tentou atenuar as derrotas da esquerda nas urnas. Alegou que “o conjunto de partidos que apoiam o governo” teria vencido as eleições municipais.

O balanço cor de rosa contabilizava triunfos de siglas do Centrão que ocupam ministérios, como PSD, MDB e União Brasil. Faltou dizer que essas legendas não apoiaram Lula em 2022 e não se comprometem a apoiá-lo em 2026.

Os partidos de esquerda e centro-esquerda disputavam o segundo turno em seis capitais. Perderam em cinco e venceram apenas em Fortaleza, onde Evandro Leitão (PT) bateu o bolsonarista André Fernandes (PL) por míseros 10 mil votos de diferença.

O PT também tinha esperança de levar Cuiabá, onde Lúdio Cabral escondeu as bandeiras vermelhas e buscou o apoio de barões do agronegócio. Apesar da mudança de figurino, ele perdeu para Abílio Brunini (PL), um deputado folclórico que conseguiu ser expulso de uma CPI por mau comportamento.

Em Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB) se reelegeu com 60% dos votos, apesar de ter deixado a cidade embaixo d’água. O resultado sugere que os eleitores tiveram mais medo do PT do que de uma nova enchente.

A derrota mais dolorida para Lula foi a de seu pupilo Guilherme Boulos (PSOL), que comeu poeira em São Paulo. Ele repetiu a votação de 2020, apesar do apoio presidencial e do alto investimento financeiro.

Após a divulgação dos resultados, Boulos disse que sua campanha “recuperou a dignidade da esquerda brasileira”. O psolista enfrentou golpes baixos e lutou até o fim, mas precisa tomar cuidado para não deixar o fracasso subir à cabeça.

O mapa das urnas mostra que o discurso antiesquerda continua forte no país. Parte da explicação se deve à ofensiva reacionária que criminaliza os direitos humanos e leva temas como drogas, aborto e sexualidade para o centro do debate político.

Mas seria ilusão desprezar o peso da avaliação mediana do governo Lula. Segundo o último Datafolha, a gestão é considerada boa ou ótima por 36% dos brasileiros. O desempenho é similar ao de Jair Bolsonaro à mesma altura do mandato, e o capitão não conseguiu se reeleger.

No discurso da vitória em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) lançou informalmente a candidatura do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao Planalto em 2026. Estavam no palanque os presidentes nacionais de PSD e MDB — dois partidos que o ministro Padilha disse estarem no “time do Lula”.

Bernardo Mello Franco - O Globo

 

 

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