Tribuna do Norte
Dos 1.141.873 domicílios particulares permanentes
ocupados no Rio Grande do Norte, apenas 35,4% estão ligados à rede de
esgotamento sanitário, o equivalente a 372.491. Em Natal, o percentual fica em
48%, ou 122.291 residências. Os números estão no Censo Demográfico 2022, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e apontam que, apesar
dos percentuais não chegarem à metade da quantidade de moradias no estado e na
capital, houve crescimento na cobertura desde o último censo em 2010. A
expectativa é de que as novas estações de tratamento e as Parcerias Público Privadas
(PPP) da Companhia de Águas e Esgotos do Estado (CAERN) mudem essa realidade
nos próximos anos.
“Na prática o que se observa em Natal, RN e Brasil é
o avanço no acesso ao saneamento. Em um nível menor do que o do acesso a água,
mas um crescimento. Com algumas desigualdades regionais”, explica o
Superintendente Estadual do IBGE/RN, Rogério Campelo.
Ele conta que um dos objetivos do Censo é mostrar
nas “fotografias” as mudanças ocorridas entre as suas realizações. “O
saneamento em 2022 mostrou uma evolução na comparação com 2010”, pontua.
Ainda assim, cerca de 1,3 milhão de pessoas em todo
o estado não têm acesso a uma rede de esgoto. São moradores cujos dejetos são
jogados em fossas sépticas ou rudimentares, buracos, valas ou outros locais.
Vale salientar que fossas sépticas, mesmo que não estejam ligadas à rede de
esgoto, são consideradas solução aceita como tipo de tratamento adequado de
esgoto pelo Plano Nacional de Saneamento. Se for considerada essa forma, os
percentuais de cobertura do estado e de Natal sobem para 60,24% e 75,64%,
respectivamente.
“Esse conceito de esgotamento adequado está ligado
ao Plano Nacional de Saneamento, que considera essas situações de rede geral e
fossa séptica formas de evitar a contaminação de solos, nascentes”, explica o
superintendente do IBGE/RN.
O diretor presidente da Caern, Roberto Linhares,
alerta para o problema de que, muitas vezes, essas fossas, que são muito comuns
no interior, não são feitas de forma adequada, sem o sumidouro, problemas de
infiltração do terreno e colmatação. “Se infiltra, vai resíduo, que não deveria
ir, e aí acaba contaminando o lençol freático. A gente tem grande parte do
lençol freático de Natal contaminado com nitrato justamente por causa da
infiltração de fossas sépticas inadequadas. Fechamos 78 poços em Natal por essa
razão”, conta.
Linhares aponta que a solução é justamente oferecer
uma rede para tratamento adequada, mas evoluir nessa questão é um desafio
porque o investimento em obras de esgotamento sanitário é muito alto, de modo
que estados e municípios não conseguem avançar.
“Os dados demonstram que precisa de investimento em
grande volume e que ainda não foi feito. E mostra claramente que somente com as
forças dos estados, municípios e até da União, não se consegue chegar a atender
a meta do Marco Legal do Saneamento”, diz ele.
Entre os objetivos do Marco está a universalização
dos serviços até o ano de 2033, garantindo que 99% da população tenha acesso à
água potável e 90% ao tratamento e à coleta de esgotos.
O presidente da Caern garante que, pelo menos,
Natal, vai conseguir alcançar essas metas nos próximos anos, graças as Estações
de Tratamento de Esgotos (ETE) da zona Norte (Jaguaribe) e da zona Oeste
(Guarapes). A ETE Jaguaribe deve entrar na fase de testes com água no mês de agosto
próximo e, em seguida, começa a operar com esgoto.
“Já em dezembro a cobertura da zona Norte deve subir
de 3% para 43% e no final de 2025 estará com 95%. Isso vai elevar o índice de
Natal para mais de 80%. Daí, quando entrar em operação o primeiro módulo da
estação do Guarapes, vai a 90%, entregando em 2026 o que prevê o Marco Legal”,
afirma Roberto Linhares.
PPP deve universalizar sistema de
esgotos
Devido ao alto custo para garantir que mais gente
tenha acesso à rede de esgotos, as Parcerias Público Privadas (PPP) da Caern,
que estão em estudo pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), são apontadas como a solução para que se garanta cobertura quase total
para o estado.
“O estudo dura 18 meses e se refere a 48 municípios
que vão ter realidade completamente diferente, tendo uma alavancada
significativa porque devem chegar próximo dos 90% em 2033. O privado é
importante pelo recurso e pelo braço operacional”, diz o diretor-presidente da
Caern, Roberto Linhares.
Além de Natal, que deve chegar a esse patamar
somente com a operação das estações elevatórias, Parnamirim sai, por exemplo,
de 7% para 70% e depois para 90%; e Mossoró avançará dos 50% para cerca 90%.
Com a iniciativa privada atuando no esgotamento
sanitário, o diretor da Caern diz que a companhia vai se dedicar à questão do
abastecimento de água. Natal já está praticamente atendendo o novo marco com
98,29% da população tendo acesso à água. No restante do estado há 85% de
cobertura. “Há muita área rural que a companhia não atua e esse atendimento vai
aumentar porque a PPP vai se dedicar a esgoto e a Caern ao abastecimento de
água”, prevê Roberto.
Segundo ele, nenhum município está em colapso total
por falta de água no momento, uma vez que as condições climáticas melhoraram o período
chuvoso dos últimos meses ajudando a encher os reservatórios. A previsão é de
que, ainda em 2025 a adutora do Seridó entre em operação e garanta mais
segurança hídrica à região. “Temos Serra do Mel em colapso parcial. Os outros
são atendidos de forma permanente ou em rodízio, dependendo das condições dos
mananciais de superfície ou dos poços”, explica.
Mossoró deverá garantir suficiência hídrica com a
adutora Apodi-Mossoró. Atualmente o abastecimento é feito por poços, com 35%
fornecido pela adutora Armando Ribeiro Gonçalves.
Esgotamento contribuirá para
desenvolvimento
Um dos fatores que mais influenciam no adensamento e
atração de investimentos é a condição das bacias de esgotamento sanitário. Elas
são, inclusive, consideradas no novo Plano Diretor de Natal, que modernizou o
regramento para uso e ocupação do solo do município, atraindo mais
investimentos para a cidade.
Victor Diógenes, diretor Técnico da Agência
Reguladora de Serviços de Saneamento Básico do Município (Arsban), também prevê
que, entre 2026 e 2027, a capital alcançará a meta de universalização do esgoto
e diz que, a partir do aumento da cobertura, novos investimentos devem chegar,
especialmente à zona Norte, que dará um salto no esgotamento. “Com certeza, a
valorização, o estímulo é bem maior em áreas que dispõem de esgoto e de água
tratada”, explica.
Para tanto, as estações de tratamento são projetadas
estimando esse crescimento. “Vamos supor que na zona Norte tem a 100 mil casas.
(a ETE) Jaguaribe prevê um crescimento 20 vezes mais do que o atual e por isso
tem capacidade de expansão. Ela não se limita só ao que tem hoje, é projetada
para novos módulos serem edificados, a depender do escalonamento da expansão
urbana daquela área”, explica.
Outro ponto é a questão da saúde da população.
Victor diz que é constatado que nos municípios onde há esgotamento sanitário
satisfatório, o custo com saúde cai drasticamente porque as enfermidades
hidroviárias, que são aquelas causadas pela falta de saneamento e transmitidas
pela água contaminada e pelo esgoto, são as que mais atingem a população.
“Onde se tem saneamento básico, água potável de
qualidade e esgoto bem tratado, o custo com a saúde chega a cair R$ 9 por
habitante”, aponta o diretor da Arsban.
Na zona Norte toda a rede está implantada e após o
resultado dos testes de operação da ETE Jaguaribe, é que serão feitas as
ligações para as casas. “As residências da Zona Norte têm a rede de esgoto
implantada nas ruas e dentro de 60 dias com o funcionamento de Jaguaribe é que
as casas vão se ligar ao esgoto efetivamente. São etapas e a Caern tem metas
para cumprir e fazer essas ligações”, diz Victor Diógenes.
Números esgotamento
2022
RN
n372.491 (35,4%) ligados a rede de esgotamento
n315.406 (27.62%) ligados a fossa séptica ou fossa filtro
n406.291 (35,58%) ligados a fossa rudimentar ou buraco
n23.204 (2,03%) ligados a vala
Natal
n122.291 (48,1%) ligados a rede de esgotamento
n81.963 (30,35%) ligados a fossa séptica ou fossa filtro
n61.738 (22,86%) ligados a fossa rudimentar ou fossa filtro
n1.579 (0,58%) ligados a vala
2010
RN
n222.630 (24,7%) ligados a rede de esgoto
177.403 (19,72%)
424.035 (47,14%)
10.115 (1,12%)
Natal
n74.213 (31,5%) ligados a rede de esgoto
72.654 (30,85%)
82.818 (35,16%)
1.159 (0,49%)

Nenhum comentário:
Postar um comentário