Fonte: Portal Grande Ponto
O Rio Grande do Norte é um dos estados com menor
número de aulas por dia no Ensino Médio. De acordo com as planilhas do Censo
Escolar 2023, do Ministério da Educação, o Estado tem o 2º pior índice de média
diária de horas-aula da região Nordeste, com 5,2 horas-aula no ensino médio. No
cenário nacional, dos sete melhores colocados neste quesito, seis são estados
nordestinos. Pernambuco lidera esse ranking com 7,6 horas-aula por dia. Sergipe
e Paraíba disponibilizam para os alunos 7,5 horas-aula por dia. No Ceará, são 7
horas-aula por dia. Em relação ao resto do País, o RN é o oitavo com menor
número de aulas para os alunos. Entre as causas do problema está a
infraestrutura das escolas potiguares. Em uma unidade da zona Norte de Natal,
as atividades foram reduzidas por causa do forte calor.
Para especialistas ouvidos pela Tribuna do
Norte, a quantidade reduzida de aulas é um entrave para o
desenvolvimento da aprendizagem e influencia negativamente outros índices
educacionais. Gestores, professores e pesquisadores ressaltam que questões de
infraestrutura, precariedade do ensino em tempo integral e as greves da
educação, que acabaram provocando uma reprogramação nos calendários letivos,
são fatores que contribuíram para o desempenho desfavorável do Rio Grande do
Norte em mais um Censo Escolar. A Secretaria de Educação do Estado foi
procurada, mas não comentou o assunto.
Para a pedagoga Cláudia Santa Rosa, que é doutora em
educação, há pouco aproveitamento do tempo do aluno. “Nossa jornada escolar é
muito reduzida. A gente tem turnos que funcionam 3 e 5 horas. É preciso
pensarmos no noturno, nas escolas que têm alunos da zona rural que precisam de
transporte escolar. Isso são fatores que acabam também atrapalhando a
aprendizagem do aluno quando eles está na escola. O RN tem uma dificuldade
grande de garantir o professor na sala de aula, com isso a carga horária
diminui, o que gera uma reação em cadeia porque o aluno não aprende e depois a
gente vê isso nas quedas dos nossos índices educacionais”
O indicador educacional “média de horas-aula diária”
pesquisado no Censo avalia o tempo médio diário de permanência do aluno na
escola em diferentes etapas. No ensino fundamental, o desempenho do Rio Grande
do Norte é semelhante. Com média diária de 4,9 horas-aula, o Estado também é o
2º pior do Nordeste em quantidade de aulas ofertadas, bem atrás do Ceará que
tem uma média diária de 6,2 horas-aula. Assim como os outros indicadores do
Censo Escolar 2023, esses dados estão disponíveis no Portal do Inep.
Sem estrutura
Na Escola Estadual Professora Dulce Wanderley, a
mais tradicional da Redinha, na zona Norte, os horários das aulas foram reduzidos
de 50 minutos para 35 minutos por causa do forte calor. A escola não possui
aparelhos de ar-condicionado e os ventiladores de teto foram doados por outra
escola. “A gente vê que tem um forte impacto no aprendizado desses alunos, são
estudantes que muitas vezes são de famílias carentes, que não têm uma
alimentação adequada, por exemplo. Isso também influencia porque como é que
alguém vai aprender com fome e no calor?”, argumenta a gestora da unidade,
Cláudia Queiroz.
A escola tem cerca de 600 alunos divididos em turmas
dos ensinos médio e fundamental, nos três turnos. Queiroz diz que os problemas
são constantes. “A gente já teve muitos casos de professores passando mal por
causa do calor, aluno passando mal. As salas até foram isoladas para receber
ar-condicionado, mas a rede elétrica não comporta, então colocamos os
ventiladores já desgastados de outra escola e que fazem muito barulho. Além
disso, vai fazer um ano, em abril, que o nosso pátio está interditado. Está
sendo um caos”, comenta a diretora.
A diretora da Escola Estadual Professora Josefa
Sampaio, Mônica Vitt Ferreira, acrescenta a dificuldade das escolas com a
implementação do novo ensino médio para a redução da média da carga horária no
RN.
“Acredito que isso prejudica o aluno que passa a ter
menos aula, isso também acaba modificando as rotinas dos professores, então no
fim das contas o aprendizado é comprometido no momento em que o estudante passa
menos tempo na sala de aula”, acrescenta a direta da unidade, que fica no
bairro de Santos Reis.
A volta às aulas na rede estadual está marcada para
a próxima segunda-feira (4) no RN, que é o último Estado do Nordeste a retomar
as aulas. A SEEC aponta que o atraso no calendário é devido à greve dos
professores pela implantação do reajuste no piso salarial, no ano passado.
A reportagem da Tribuna do Norte procurou a
Secretaria de Educação, que não respondeu às perguntas até o fechamento da
edição.
Ranking
Veja a posição do Estado em relação ao
Nordeste
Maior média de horas-aula por dia no
Nordeste (ensino médio)
n1º Pernambuco: 7,6 horas-aula;
n2º Sergipe: 7,5 horas-aula;
n3º Paraíba: 7,5 horas-aula;
n4º Ceará: 7 horas-aula;
n5º Alagoas: 6,9 horas-aula;
n6º Piauí: 6,6 horas-aula;
n7º Maranhão: 5,6 horas-aula;
n8º Rio G. do Norte: 5,2 horas-aula;
n9º Bahia: 4,9 horas-aula;
(Os cinco primeiros estados do Nordeste também
lideram o ranking nacional. No País, o RN é o 20º colocado)
Maior média de horas-aula por dia no
Nordeste (ensino fundamental)
n1º Ceará: 6,2 horas-aula;
n2º Piauí: 6,2 horas-aula;
n3º Sergipe: 5,7 horas-aula;
n4º Maranhão: 5,7 horas-aula;
n5º Alagoas: 5,4 horas-aula;
n6º Paraíba: 5,3 horas-aula;
n7º Bahia: 5 horas-aula;
n8º Rio G. do Norte: 4,9 horas-aula;
n9º Pernambuco: 4,8 horas-aula;
(No País, o RN é o 15º colocado)
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