Coluna
do Mario Sabino – Metrópoles
Socialismo e Liberdade: tal é o nome embutido na
sigla PSol, partido fundado no início do século por parlamentares expulsos do
PT, como a então senadora Heloísa Helena. A expulsão ocorreu porque eles se
opuseram ao “neoliberalismo” do primeiro governo Lula.
O mensalão ajudou a engrossar as fileiras do PSol,
mas, ao longo dos anos, o coração endurecido da dissidência foi sucumbindo ao
charme do painho Lula. Até que o PSol se tornou linha auxiliar do PT.
O PSol é conveniente para Lula. Ele faz realpolitik
juntamente com o PT, enquanto os psolistas prestam serviços mais à esquerda,
provocando o STF a legislar contra a direita e mantendo os chamados movimentos
sociais em órbita próxima.
Nesse fim de semana, o Congresso do PSOL definiu que
continuará a ser linha auxiliar do PT. O pau comeu na disputa pela
presidência do partido, porque a corrente Movimento Esquerda Socialista
(existiria uma Direita Socialista?) queria ser independente em relação a Lula,
mas a corrente Primavera Socialista (imagine-se o Verão Socialista), do
camarada Guilherme Boulos, não.
A Primavera Socialista (imagine-se o Outono
Socialista) venceu e a presidente do PSol será a historiadora Paula Coradi.
Entrevistada por um portal, ela disse, em sintaxe peculiar: “Eleger
Guilherme Boulos prefeito de São Paulo vai ser uma das grandes tarefas e
desafios que o PSol vai se empenhar e vai fazer de tudo para produzir essa vitória
política que, além de ser uma vitória do PSol, vai ser uma vitória enorme para
toda a esquerda brasileira”.
Não creio que será uma vitória maiúscula ou
minúscula para ninguém, à exceção do próprio Guilherme Boulos e o seu pessoal.
Deixando de lado que o negócio da esquerda não é tapar buraco, mas abrir
buraco, fato é que o buraco é mais embaixo.
PSol como sujeito da oração “vai fazer de tudo para
produzir essa vitória política” é de causar calafrios (imagine-se o Inverno
Socialista). Um prenúncio dessa disposição de “fazer de tudo” é a greve de hoje
em São Paulo.
Os sindicalistas do PSol resolveram organizar greve
de um dia no metrô, nos trens urbanos e no fornecimento e tratamento de água, a
fim de protestar contra a privatização das respectivas estatais. É greve
política em serviços essenciais, a fim de desgastar o governo de Tarcísio
de Freitas. A esperteza é que, para os eleitores mal-informados, a maioria
deste esplêndido universo democrático tropical, a culpa do por que parou, parou
por quê é sempre do governante. Greve em São Paulo: um oferecimento do PSol e
as suas táticas limpas como as cuecas de Karl Marx.
Essa greve é aperitivo do tipo de enfrentamento que
o atual prefeito Ricardo Nunes pode esperar na eleição para a
Prefeitura de São Paulo, em 2024. O marqueteiro que fez campanhas para
João Doria e Geraldo Alckmin tentará disfarçar a extrema esquerdice de
Guilherme Boulos — cara de bonzinho, fala macia, fotinhos de família, música
suave ao fundo –, mas o chefão do MTST é o chefão do MTST e o PSol é o PSol.
É o realismo socialista cheio de liberdades em
relação à propriedade privada, à livre-iniciativa, à urbanidade— e que, no
escurinho dos diretórios e das salas dos sindicatos, adjetiva pejorativamente a
democracia representativa de “burguesa”. Tudo bem de acordo com o que se
pensava — não todo mundo — há pelo menos 100 anos. O socialismo foi enterrado
no cemitério das ideias, menos no Brasil e outras latitudes igualmente
paradisíacas para a burrice.
O PSol sucumbiu ao charme de Lula só até certo
ponto. A essência da sua natureza é incontornável. Como linha auxiliar, o PSOL
presta um grande serviço ao PT; no comando de uma cidade como São Paulo,
prestará um desserviço ainda maior ao país, inclusive ao partido de Lula. Nem
tudo que é ruim para o PT é bom para o Brasil.

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