Tribuna do Norte
Um relatório do Serviço Geológico do Brasil (SGB)
apontou “alto risco” de deslizamentos no Morro do Careca, em Ponta Negra, e
sugerem medidas de “prevenção de desastres” no principal cartão postal de
Natal. Além disso, o documento sugere a ampliação do isolamento às margens da
subida do Morro numa faixa de área retangular com dimensões aproximadas de 30
por 60 metros, com o intuito de evitar que frequentadores circulem pelo local,
que possui riscos de deslizamentos. O relatório surge em meio às discussões e
projetos da Prefeitura de Natal para ampliar a faixa de areia numa grande intervenção
em Ponta Negra, a chamada "engorda" da praia. O Idema vai analisar o
relatório apresentado pelo SGB.
Segundo informações do relatório da avaliação
geotécnica, os pesquisadores do SGB concluíram que há risco “muito alto” de
deslizamentos. “Os deslizamentos podem ser de areia, tombamentos de blocos da
falésia, ou queda/rolamento de blocos rochosos”, indica o documento. O relatório
do SGB faz parte de um inquérito civil do Ministério Publico Federal (MPF) que
acompanha o processo erosivo no Morro do Careca e na praia de Ponta Negra. O
MPF está analisando o relatório. Em outra frente do processo, a Secretaria de
Meio Ambiente e Urbanismo chegou a produzir relatório e vistoria sobre o Morro
a pedido do MPF.
O relatório Serviço Geológico do Brasil é assinado
pelos geólogos Ivan Bispo de Oliveira e Filipe de Brito Fratte, pesquisadores
em geociências do SGB, órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia (MME).
A visita técnica dos geólogos aconteceu no começo de agosto deste ano.
Ainda de acordo com o relatório, a tendência é que o
processo de erosão costeira continue a comprometer a base da falésia e, desse
modo, faça com que “mais sedimentos arenosos da duna deslizem e tragam consigo
grandes fragmentos de blocos rochosos com potencial para provocar graves danos
aos frequentadores do local”.
Para o professor Rodrigo de Freitas, do Departamento
de Geografia da UFRN, o deslizamento de areia já ocorre no Morro. Tomando como
base manuais de gestão de risconacionais, por ser um local turístico e com
pessoas, esse deslizamento ganha potencial de risco.
“Como lá tem pessoas, então tem um certo risco, que
é de repente um deslizamento desses ser maior e atingir alguém sentado próximo
à base. O outro movimento de base que o relatório explica é o de tombamento de
blocos, que são aqueles que têm logo acima da formação barreiras, que é a rocha
que forma a falésia, e o relatório cita essa possibilidade desses blocos
moverem e atingirem as pessoas que porventura estejam ali. O último risco é o
tombamento em si, isto é, alguns daqueles blocos que apresentam fraturas se
deslocarem, podendo atingir mais de uma pessoa. Seria o maior potencial de
danos”, disse.
Os estudos apontam que o deslizamento é restrito às
áreas próximas à base do Morro do Careca, o que facilita as medidas de
prevenção. Uma dessas ações seria a ampliação da área de proteção do
Morro do Careca em uma área retangular de 30 a 60 metros. Atualmente, grades de
madeira com cordas sinalizam a proibição da subida no Morro. Nos últimos meses,
especialistas sugeriram uma espécie de muro de concreto na base da falésia.
“Toda proposta deve ser discutida e pensada do ponto
de vista técnico. Em termos de dinâmica costeira, as intervenções caso não
sejam bem pensadas, podem ampliar o problema. O segundo aspecto é o impacto na
paisagem, porque se colocar sacos de areia ou blocos de concreto, imagine só:
temos turistas que chegam aqui diariamente para tirar fotos. Sempre tem gente
lá. Então se fizer qualquer intervenção que venha modificar a imagem do cartão
postal, poderíamos ter um impacto no turismo”, avalia o professor Rodrigo de
Freitas.
Os pesquisadores também sugerem a instalação de mais
placas informativas sobre os riscos geológicos existentes no local,
posicionadas de forma visível aos frequentadores da praia. Outra recomendação é
a realização de estudos geológicos-geotécnicos específicos a respeito da erosão
costeira no local e, a partir deles, determinar a melhor intervenção a ser
feita para preservar a base da encosta/falésia, com o objetivo de interromper o
recuo.
Acerca do projeto da engorda da Praia de Ponta
Negra, projeto em discussão e em fase de licenciamento ambiental e licitações
por parte da Prefeitura, os pesquisadores informaram não ter acesso aos
projetos e alegam no relatório que “não é possível afirmar se a intervenção
solucionará ou minimizará o processo de erosão na base do Morro do Careca”.
O Instituto do Desenvolvimento Sustentável e Meio
Ambiente do RN (Idema) informou que irá avaliar o relatório do SGB e a
viabilidade de se ampliar o isolamento, uma vez que a área indicada é o trecho
de "quebra-mar". Além disso, o órgão já trabalha numa licitação
interna para contratação de serviço para aquisição de uma nova cerca no Morro
do Careca. A última manutenção ocorreu em dezembro de 2019.
Licitação da engorda segue sem prazo
Conforme publicou a TRIBUNA DO NORTE na edição do
último dia 14 de setembro, a Prefeitura de Natal solicitou ao Ministério da
Integração (MIDR) mais R$ 32 milhões para as obras da engorda de Ponta Negra. A
atualização no orçamento depende de análise do Ministério e não tem prazo para
resposta. Com isso, também não há prazos para início das obras, que precisará
esperar a análise do órgão federal. Antes, a obra estava orçada em R$ 52,4
milhões e agora pode chegar a R$ 85 milhões.
Segundo o ministério, os valores constam na última
versão do Plano de Trabalho protocolado pela Secretaria de Infraestrutura de
Natal (Seinfra) no começo de setembro. De maneira geral, as intervenções em
Ponta Negra custarão R$ 110 milhões, em valores que incluem ainda a proteção costeira
(enrocamento) e outras obras. A aprovação desse plano é uma etapa necessária
para que a Prefeitura consiga abrir o edital de licitação da engorda, obra que
promete minimizar a erosão costeira e o avanço do mar na principal praia urbana
do Rio Grande do Norte.
Segundo o secretário de Infraestrutura de Natal,
Carlson Gomes, em entrevista no último dia 13 de setembro, o acréscimo no
orçamento se deve a mudanças nos valores do pagamento das dragas que farão o
transporte da areia do fundo do mar para ampliar o a faixa de areia em Ponta
Negra. O orçamento inicial é datado de 2019, segundo Carlson Gomes.
“Essa mudança no valor acontece porque o processo da
engorda é antigo e precisou ser atualizado de quando foi orçado para os valores
atuais, a preço de dólar. As dragas são todas elas a preço de dólar, então teve
um aumento considerável nesse valor da locação nas dragas. Tem o combustível e
o fato de que são equipamentos que não são nacionais, são de empresas
internacionais”, disse.
A Prefeitura já possui cerca de R$ 55 milhões
referentes à engorda garantidos para execução da obra. O secretário disse ainda
que após a aprovação do Plano de Trabalho, a expectativa é de que a licitação
saia logo depois. O MDIR foi procurado, mas não respondeu.

Nenhum comentário:
Postar um comentário