No Rio Grande do Norte, o impacto nas cidades
atingidas pelos ataques criminosos ocorridos em março deste ano ainda é nítido
e atravessa áreas como saúde, educação, saneamento básico e assistência social.
Em cinco municípios do Estado, o prejuízo estimado ao erário é de pelo menos R$
16,5 milhões e quase nada foi recuperado. Ao todo, de acordo com o último
levantamento realizado pela Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte
(Femurn), mais de 20 cidades tiveram bens danificados, incluindo veículos,
equipamentos e prédios públicos. Dados da Coordenadoria de Informações e
Estatísticas Criminais da Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa
Social (COINE/SESED) apontam, ainda, registros de incêndios a 98 imóveis, 56
ônibus e 64 veículos.
O valor estimado do prejuízo em cinco municípios foi
coletado pela reportagem da TRIBUNA DO NORTE junto às prefeituras. O objetivo
foi reunir informações sobre quais bens foram danificados, custo estimado
do prejuízo, medidas para substituir os equipamentos e principais segmentos
afetados com os danos. As informações se referem a Coronel Ezequiel, Florânia,
Tibau do Sul, Boa Saúde e São Gonçalo do Amarante. Com exceção desta última,
que conseguiu restituir alguns bens, os demais não conseguiram recuperar os
danos. Outras cidades como Parnamirim, Pedra Preta e Campo Redondo foram
contactadas, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.
Os dados da Coordenadoria de Informações e
Estatísticas Criminais da Sesed, por sua vez, constam no Ofício nº
151/2023-GE. O documento foi encaminhado pelo Governo do Rio Grande do Norte ao
Ministério da Fazenda, em 27 de março deste ano, com o objetivo de solicitar apoio
institucional da pasta na recomposição dos bens perdidos.
Conforme aponta o documento, além dos
prejuízos listados pela Sesed, o levantamento contou com o apoio de informações
prestadas pela Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência
Social (SETHAS) e da Femurn. As entidades integram o “Comitê Estadual de
Monitoramento, Acompanhamento e Apoio às Vítimas de Violência no Rio Grande do
Norte”, que buscou identificar os prejuízos, elaborar diagnóstico e articular
medidas de apoio às cidades no que se refere aos ataques no Estado.
Segundo a Sesed, de 14 a 24 de março deste ano,
foram registrados 307 ataques ao Estado. No ofício encaminhado pela
Governadora, dados da Sethas detectaram perdas significativas, sobretudo, às
entidades voltadas ao atendimento de pessoas em vulnerabilidade social. É
o caso do CREAS, CRAS, Conselho Tutelar, CadÚnico e Centro POP. No Cras
de Campo Redondo, por exemplo, 22 equipamentos foram perdidos com o ataque,
tais como notebooks, computadores e ar-condicionado. O resultado disso foi o
mau funcionamento do local para assistir a população.
O mesmo panorama ainda se projeta em Boa Saúde, no
interior do Estado, onde um carro que atendia ao Cras foi incendiado e por
conta disso as visitas à população de comunidades vulneráveis foram reduzidas.
De acordo com a Prefeitura da cidade, o custo estimado do prejuízo foi de R$ 24
mil. Embora tenha solicitado apoio ao Governo do Estado por meio da Femurn, o
veículo ainda não foi restituído. A gestão reitera, contudo, que a assistência
do Centro segue em funcionamento e não foram registrados outros danos a bens da
cidade.
Em Coronel Ezequiel, a cerca de 154,2 km de Natal, a
Prefeitura estima um prejuízo total de R$ 4,8 milhões, sendo cerca de 1, 8
milhões com três ônibus escolares depredados e aproximadamente R$ 3 millhões
com outros equipamentos, incluindo carro, caçamba e caminhão. O prefeito do
município, Cláudio Marques, também afirma que nenhum dos bens foram
restituídos. O Governo do RN, no entanto, cedeu dois ônibus escolares alugados
e a própria gestão viabilizou o aluguel de um microônibus para atender aos
estudantes prejudicados. No momento, segundo ele, os principais efeitos
negativos são para a Saúde e Educação.
Tibau do Sul
Os eixos também foram afetados em Tibau do Sul, na
faixa litorânea do Estado, que ainda soma prejuízos na área de saneamento
básico e economia. Segundo a Prefeitura do município, a perda está estimada é
de R$ 1,4 milhão de reais somente com a depredação total de oito veículos,
incluindo um ônibus escolar, com base na tabela Fipe. Além disso, uma UBS da
cidade teve diversos itens e equipamentos furtados. De todos os danos, o único
veículo restituído foi um trator, mas este não conta com a mesma capacidade de
trabalho de antes. “Além do prejuízo ao atendimento da UBS em questão, a
indústria do turismo - maior engrenagem econômica do município - relatou uma
queda brusca nas reservas do restante do mês de março”, informou a
gestão.
Em Florânia, o prejuízo estimado com a perda de um
ônibus escolar foi de R$ 350 mil. Segundo o prefeito Saint Clay Alcântara Silva
de Medeiros, conhecido como Galo de Florânia, o valor não foi restituído e um
microônibus foi alugado pela Prefeitura para atender os 16 estudantes que
dependiam da rota do veículo. O aluguel demanda um gasto mensal entre R$ 6 a R$
10 mil e, segundo ele, os principais impactos são nos recursos da educação que
poderiam estar sendo investidos na infraestrutura das escolas.
Já na região metropolitana da capital potiguar, um
incêndio provocado em um depósito de medicamentos da Prefeitura de São Gonçalo
do Amarante na madrugada de 17 de março gerou uma perda de cerca de R$ 10
milhões. Segundo o gestor da cidade, Eraldo Paiva, a Secretaria Municipal de
Saúde precisou ser realocada e praticamente nada do que havia no local pôde ser
aproveitado. Apesar disso, a cidade chegou a receber mais de 160 mil itens da
Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Sesap) e uma
remessa de medicamentos do Ministério da Saúde. No momento, aponta, a cidade
está buscando recursos junto aos governos Estadual e Federal e emendas
parlamentares para avançar no reabastecimento de medicamentos e
equipamentos.
Mobilizações para restituição de
equipamentos
Em abril deste ano, a Femurn participou de uma
reunião junto ao Ministério do Desenvolvimento Regional (MIDR) e da Codevasf,
vinculada à pasta, fora representantes da Bancada Federal do RN, visando
acelerar a reposição das máquinas e caminhões perdidos. O presidente da
entidade, Luciano Santos, explica que na oportunidade foram apresentados os
prejuízos, mas o ministro Waldez Goés apontou entraves orçamentários.
“O ministro alegou que estava sem orçamento e estava
aguardando deliberação da Casa Civil. Por sua vez, nós também oficiamos a Casa
Civil informando sobre os atentados e essas necessidades”, complementa. Após o
encontro, pontua Luciano Santos, ocorreram outras reuniões, nas quais o MDR
afirmou estar aguardando disponibilidade financeira para aquisição
dos equipamentos solicitados.
Em resposta à TRIBUNA DO NORTE, que solicitou
informações sobre a previsão de aquisição dos equipamentos,o MIDR informou que
o assunto deve ser tratado com a Codevasf. Esta última, contatada pela
reportagem, afirmou que não tinha informações sobre a reunião realizada entre a
Femurn e o Ministro Waldez e que a demanda deveria ser atendida pelo MDR.
Em relação aos ônibus escolares, de acordo com
Luciano Santos, a Federação conseguiu um retorno a partir de reunião realizada
entre a governadora Fátima Bezerra (PT) e o Ministério da Educação (Mec).
“O ministro Camilo Santana, segundo palavras da Governadora [Fátima Bezerra],
teria informado que assim que concluísse o pregão para aquisição de ônibus
escolares que o FNDE estaria efetivando para todo país, as primeiras 20
unidades seriam destinadas aos municípios afetados”, complementa. Até o
momento, ele aponta que não há uma previsão precisa.
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE entrou em contato
com o MEC para saber em qual fase encontra-se o trâmite das licitações dos
ônibus escolares, quais cidades serão contempladas e se há um prazo para essa
chegada. Até o fechamento desta edição, o MEC não respondeu as questões.
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