Agora RN
Atualmente, o Rio Grande do Norte é o quinto estado
nordestino na taxa de desemprego, segundo dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). De acordo com o levantamento, a
taxa de desocupação do RN é de 9,9%. Em situação melhor do que o Rio Grande do
Norte estão Piauí (9,5%), Alagoas (9,3%), Maranhão (8,3%) e Ceará (7,8%); este
o único da região abaixo da média nacional, que é de 7,9% segundo o IBGE. Para
economistas, a situação do RN e do Nordeste pode ser explicada pela ausência de
uma indústria pujante – que dificulta a geração de empregos – além da falta de
infraestrutura e ausência de mão de obra qualificada, que afasta potenciais
investidores da região.
Ainda de acordo com os números da PNAD, o RN tem
2,897 milhões de pessoas em idade de trabalho, mas 1,361 milhão estão fora da
força de trabalho, o equivalente a 46,98% da população apta a trabalhar. Isto
faz do RN o sexto em porcentagem de pessoas desempregadas com base no número de
aptos a trabalhar. Neste quesito, o melhor estado foi o Sergipe, em que 40,98%
das pessoas em condições de trabalhar estão desocupadas. Outro indicador que
chamou atenção, foi a média nacional para o mesmo quesito, consideravelmente
mais baixa que a dos estados nordestinos: 37,94%.
Segundo o economista Janduir Nóbrega, essa
particularidade em relação à região Nordeste pode ser explicada pela falta de
um segmento industrial mais robusto. “O Nordeste, em si, ele é muito vulnerável
por não ter um parque industrial pujante. Quanto maior a dificuldade de gerar
emprego, maior é a propensão desse indicador ficar mais elevado. No caso do RN,
temos o setor público – federal, estadual e municipal – e um parque industrial
altamente limitado. A dificuldade de geração de emprego é muito maior do que em
outras regiões. Em Santa Catarina você quase não tem desempregados. Além de
você quase não ter desempregados, pouquíssimas pessoas estão à procura de
emprego. Por que lá, dá para trabalhar quase que pulando de emprego em emprego.
Mas é uma realidade da região Sul”, analisou.
Outro economista convidado a refletir sobre a taxa
de desemprego à convite da reportagem, Robespierre Do Ó refletiu sobre a origem
dessa falta de segmento industrial maior no estado. “Começa na questão da
educação. A qualidade da mão de obra que você tem disponível, a falta de
planejamento para atração de novos negócios para o Nordeste. Você olha para o
nosso estado, por exemplo. Qual foi a última empresa a se instalar no RN?
Quantos empregos ela gerou? O que o atual e o governo anterior fizeram para
atração de novos investimentos para o estado?”, questionou.
Janduir defende que Ceará, Pernambuco e Bahia
possuem indústrias mais sofisticadas, mas que outros estados, assim como o RN,
possuem outra realidade. “Na minha perspectiva, é uma característica do
Nordeste na questão do parque industrial nordestino. A gente tem uma coisa
forte na Bahia, Pernambuco e Ceará. A Paraíba volta e meia apresenta alguns
indicadores melhores que o RN. Alagoas, Sergipe e Maranhão, tem outra
realidade, é a cana de açúcar. Indústria mesmo, de peso, que gera empregos, a
gente sabe que a coisa é limitada. E aí dificulta o processo de geração de
emprego”, pondera.
Número que chamou atenção foi o de que mesmo mais
industrializados, Pernambuco e Bahia tiveram taxa de desocupação maior que o
Rio Grande do Norte. “Quando você olha a Bahia, tem um polo petroquímico que
tem passado por mudança forte após a privatização da refinaria. Pode estar
gerando isso. Mesma coisa em Pernambuco e no Ceará, com essa matriz energética.
Há uma rearrumação, mas o fato de você ter uma indústria pujante só facilita o
acesso, mas não significa que aquilo vai gerar emprego direto. O grau de
incerteza no mercado é muito elevado. Então as empresas de uma maneira geral
estão tentando se rearrumar e isso dificulta essa geração de emprego. Acho que
a gente só vai ter uma leitura mais clara disso no segundo trimestre do ano”, explicou.
Ele também explicou a situação peculiar da economia
do Rio Grande do Norte. “O RN, especificamente, como setor público forte, setor
industrial não tão forte e o comercial ainda um pouco robusto. Mas o que entra
nesse indicador é a questão de você procurar o emprego que você quer e não
achar. Aí você tem que fazer qualquer coisa”, completou Nóbrega.
INFRAESTRUTURA
Do Ó defende que mais investimentos, principalmente
em infraestrutura, são cruciais para atrair novas empresas ao estado. No
entanto, o obstáculo pode ser a situação financeira das unidades da federação.
“Para trabalhar, você precisa fazer investimentos. E investimentos com
praticamente todos os estados com dificuldades financeiras, quebrados, não
consegue fazer investimentos para contratar mão de obra e assim atrair novos
empregos”, ponderou.
Ambos economistas reiteram que já existe uma série
de projetos estruturantes que podem atrair novas empresas ao estado. “O RN é
interessante. Você tem proposta de três portos. Porto de Areia Branca, o Porto
de Natal e a proposta do Porto-Indústria, em Caiçara do Norte. O que você tem?
Propostas. Mas cadê recursos para fazer isso? Não existe. O que a gente
precisa? De investimentos. Que os estados tenham condições de fazer
investimentos. Só que a maioria tá quebrada e consequentemente não consegue
fazer e não consegue atrair novos investimentos”, afirmou Robespierre.
Previsto para Caiçara do Norte, na Costa Branca
potiguar, o Porto-Indústria, aliás, é visto com bons olhos pelos dois
especialistas. Jurandir, entretanto, afirma que a atuação na região pode ser
expandida. “Eu creio que é uma coisa boa o Porto-Indústria em Caiçara do Norte.
É uma região que não é muito distante, tem um poderio pesqueiro muito forte,
mas é desestruturada. Se puder fazer um polo pesqueiro, isso vai impulsionar o
desenvolvimento do RN”, sugeriu Jurandir.
Questões portuárias à parte, outra indústria de
geração de empregos no Rio Grande do Norte, segundo Jurandir Nóbrega, é a
energética. “Quando você olha um estado do tamanho do RN e a força que ele tem
na questão da energia eólica offshore e a onshore, é o primeiro [estado] no
Brasil. A questão da matriz de energia solar, que o RN também vai ser muito
forte nisso, por conta das condições. E a questão do Porto, se acontecer, a
tendência é que o estado tenha uma nova dinâmica na geração de empregos e no
desenvolvimento. Mas até acontecer, a gente só torce que dê tudo certo”, disse.
No entanto, Robespierre chama atenção para algo que
vem com base na educação, preparo e comportamento do mercado e que interfere
diretamente na decisão de empresas decidirem pela região Nordeste. “A qualidade
da mão de obra formada no Nordeste, e no RN, é de baixa qualidade. Então qual o
tipo de emprego que gera? Emprego de piso de fábrica, de baixa remuneração. É
essa a discussão do que a gente tem que fazer no estado”, observou.
Com posicionamento geográfico que pode servir como
diferencial, o RN conta com estruturas que podem atender outros estados, como a
fruticultura que exporta produtos produzidos em Mossoró, mas também em
Petrolina, em Pernambuco. Do Ó acredita que a saída passa pelo aproveitamento
máximo dos quatro modais de transporte. “O RN tem condições de ser um hub de
logística. Tem atrativos para isso. Mas precisa ter uma política clara. Qual a
proposta da Secretaria de Desenvolvimento Econômico para isso? Você tem um
aeroporto, em São Gonçalo do Amarante, que tem déficit. A empresa que operava
lá, entregou. Você tem o porto de Natal que recebe um navio por mês. Tem
ferrovia.Então eu vou fazer investimento em infraestrutura para quê? Para que a
logística funcione. De preferência integrando os quatro modais de transporte:
aeroviário, rodoviário, ferroviário e portuário. Com isso você tem condições de
trazer novos investimentos”, finalizou.
Taxa de Desocupação nos estados
Nordestinos
- 1º
CE: 7,8%
- 2º
MA: 8,3%
- 3º
AL: 9,3%
- 4º
PI: 9,5%
- 5º
RN: 9,9%
- 6º
PB: 10,3%
- 7º
SE: 11,9%
- 8º
PE: 12,3%
- 9º
BA: 13,5%

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