sexta-feira, 3 de março de 2023

Falta de infraestrutura afasta geração de empregos no Nordeste e no RN, defendem economistas

 


Agora RN

Atualmente, o Rio Grande do Norte é o quinto estado nordestino na taxa de desemprego, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). De acordo com o levantamento, a taxa de desocupação do RN é de 9,9%. Em situação melhor do que o Rio Grande do Norte estão Piauí (9,5%), Alagoas (9,3%), Maranhão (8,3%) e Ceará (7,8%); este o único da região abaixo da média nacional, que é de 7,9% segundo o IBGE. Para economistas, a situação do RN e do Nordeste pode ser explicada pela ausência de uma indústria pujante – que dificulta a geração de empregos – além da falta de infraestrutura e ausência de mão de obra qualificada, que afasta potenciais investidores da região.

Ainda de acordo com os números da PNAD, o RN tem 2,897 milhões de pessoas em idade de trabalho, mas 1,361 milhão estão fora da força de trabalho, o equivalente a 46,98% da população apta a trabalhar. Isto faz do RN o sexto em porcentagem de pessoas desempregadas com base no número de aptos a trabalhar. Neste quesito, o melhor estado foi o Sergipe, em que 40,98% das pessoas em condições de trabalhar estão desocupadas. Outro indicador que chamou atenção, foi a média nacional para o mesmo quesito, consideravelmente mais baixa que a dos estados nordestinos: 37,94%.

Segundo o economista Janduir Nóbrega, essa particularidade em relação à região Nordeste pode ser explicada pela falta de um segmento industrial mais robusto. “O Nordeste, em si, ele é muito vulnerável por não ter um parque industrial pujante. Quanto maior a dificuldade de gerar emprego, maior é a propensão desse indicador ficar mais elevado. No caso do RN, temos o setor público – federal, estadual e municipal – e um parque industrial altamente limitado. A dificuldade de geração de emprego é muito maior do que em outras regiões. Em Santa Catarina você quase não tem desempregados. Além de você quase não ter desempregados, pouquíssimas pessoas estão à procura de emprego. Por que lá, dá para trabalhar quase que pulando de emprego em emprego. Mas é uma realidade da região Sul”, analisou.

Outro economista convidado a refletir sobre a taxa de desemprego à convite da reportagem, Robespierre Do Ó refletiu sobre a origem dessa falta de segmento industrial maior no estado. “Começa na questão da educação. A qualidade da mão de obra que você tem disponível, a falta de planejamento para atração de novos negócios para o Nordeste. Você olha para o nosso estado, por exemplo. Qual foi a última empresa a se instalar no RN? Quantos empregos ela gerou? O que o atual e o governo anterior fizeram para atração de novos investimentos para o estado?”, questionou.

Janduir defende que Ceará, Pernambuco e Bahia possuem indústrias mais sofisticadas, mas que outros estados, assim como o RN, possuem outra realidade. “Na minha perspectiva, é uma característica do Nordeste na questão do parque industrial nordestino. A gente tem uma coisa forte na Bahia, Pernambuco e Ceará. A Paraíba volta e meia apresenta alguns indicadores melhores que o RN. Alagoas, Sergipe e Maranhão, tem outra realidade, é a cana de açúcar. Indústria mesmo, de peso, que gera empregos, a gente sabe que a coisa é limitada. E aí dificulta o processo de geração de emprego”, pondera.

Número que chamou atenção foi o de que mesmo mais industrializados, Pernambuco e Bahia tiveram taxa de desocupação maior que o Rio Grande do Norte. “Quando você olha a Bahia, tem um polo petroquímico que tem passado por mudança forte após a privatização da refinaria. Pode estar gerando isso. Mesma coisa em Pernambuco e no Ceará, com essa matriz energética. Há uma rearrumação, mas o fato de você ter uma indústria pujante só facilita o acesso, mas não significa que aquilo vai gerar emprego direto. O grau de incerteza no mercado é muito elevado. Então as empresas de uma maneira geral estão tentando se rearrumar e isso dificulta essa geração de emprego. Acho que a gente só vai ter uma leitura mais clara disso no segundo trimestre do ano”, explicou.

Ele também explicou a situação peculiar da economia do Rio Grande do Norte. “O RN, especificamente, como setor público forte, setor industrial não tão forte e o comercial ainda um pouco robusto. Mas o que entra nesse indicador é a questão de você procurar o emprego que você quer e não achar. Aí você tem que fazer qualquer coisa”, completou Nóbrega.

INFRAESTRUTURA

Do Ó defende que mais investimentos, principalmente em infraestrutura, são cruciais para atrair novas empresas ao estado. No entanto, o obstáculo pode ser a situação financeira das unidades da federação. “Para trabalhar, você precisa fazer investimentos. E investimentos com praticamente todos os estados com dificuldades financeiras, quebrados, não consegue fazer investimentos para contratar mão de obra e assim atrair novos empregos”, ponderou.

Ambos economistas reiteram que já existe uma série de projetos estruturantes que podem atrair novas empresas ao estado. “O RN é interessante. Você tem proposta de três portos. Porto de Areia Branca, o Porto de Natal e a proposta do Porto-Indústria, em Caiçara do Norte. O que você tem? Propostas. Mas cadê recursos para fazer isso? Não existe. O que a gente precisa? De investimentos. Que os estados tenham condições de fazer investimentos. Só que a maioria tá quebrada e consequentemente não consegue fazer e não consegue atrair novos investimentos”, afirmou Robespierre.

Previsto para Caiçara do Norte, na Costa Branca potiguar, o Porto-Indústria, aliás, é visto com bons olhos pelos dois especialistas. Jurandir, entretanto, afirma que a atuação na região pode ser expandida. “Eu creio que é uma coisa boa o Porto-Indústria em Caiçara do Norte. É uma região que não é muito distante, tem um poderio pesqueiro muito forte, mas é desestruturada. Se puder fazer um polo pesqueiro, isso vai impulsionar o desenvolvimento do RN”, sugeriu Jurandir.

Questões portuárias à parte, outra indústria de geração de empregos no Rio Grande do Norte, segundo Jurandir Nóbrega, é a energética. “Quando você olha um estado do tamanho do RN e a força que ele tem na questão da energia eólica offshore e a onshore, é o primeiro [estado] no Brasil. A questão da matriz de energia solar, que o RN também vai ser muito forte nisso, por conta das condições. E a questão do Porto, se acontecer, a tendência é que o estado tenha uma nova dinâmica na geração de empregos e no desenvolvimento. Mas até acontecer, a gente só torce que dê tudo certo”, disse.

No entanto, Robespierre chama atenção para algo que vem com base na educação, preparo e comportamento do mercado e que interfere diretamente na decisão de empresas decidirem pela região Nordeste. “A qualidade da mão de obra formada no Nordeste, e no RN, é de baixa qualidade. Então qual o tipo de emprego que gera? Emprego de piso de fábrica, de baixa remuneração. É essa a discussão do que a gente tem que fazer no estado”, observou.

Com posicionamento geográfico que pode servir como diferencial, o RN conta com estruturas que podem atender outros estados, como a fruticultura que exporta produtos produzidos em Mossoró, mas também em Petrolina, em Pernambuco. Do Ó acredita que a saída passa pelo aproveitamento máximo dos quatro modais de transporte. “O RN tem condições de ser um hub de logística. Tem atrativos para isso. Mas precisa ter uma política clara. Qual a proposta da Secretaria de Desenvolvimento Econômico para isso? Você tem um aeroporto, em São Gonçalo do Amarante, que tem déficit. A empresa que operava lá, entregou. Você tem o porto de Natal que recebe um navio por mês. Tem ferrovia.Então eu vou fazer investimento em infraestrutura para quê? Para que a logística funcione. De preferência integrando os quatro modais de transporte: aeroviário, rodoviário, ferroviário e portuário. Com isso você tem condições de trazer novos investimentos”, finalizou.

Taxa de Desocupação nos estados Nordestinos

  • 1º CE: 7,8%
  • 2º MA: 8,3%
  • 3º AL: 9,3%
  • 4º PI: 9,5%
  • 5º RN: 9,9%
  • 6º PB: 10,3%
  • 7º SE: 11,9%
  • 8º PE: 12,3%
  • 9º BA: 13,5%

 

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