Tribuna do Norte
Há quatro anos, Alexandre Cristian da Silva
Beveluto, de 40 anos, desempregado, sente na pele as dificuldades de ser uma
pessoa ostomizada no Brasil. O natalense, segundo dados do Ministério da Saúde,
está entre as cerca de 400 mil pessoas que apresentam a mesma condição no país.
Contudo, há cerca de um mês, ele teve sua saúde
agravada ao precisar improvisar bolsas de colostomia utilizando sacolas de
supermercado. Após repercussão sobre a triste situação, Alexandre recebeu
algumas doações, incluindo, uma caixa de bolsas de colostomia e uma cesta
básica.
“Ainda existem pessoas de coração bom, se não, eu
não sei o que seria de mim agora”, agradeceu.
Sem receber auxílio financeiro e desempregado desde
2019, quando passou a utilizar a bolsa, Alexandre confidencia não ter tido
condições de ir buscar os materiais hospitalares disponibilizados pela
Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap), para o mês de outubro passado.
No Rio Grande do Norte, as bolsas são entregues
mensalmente por meio do Centro Especializado em Reabilitação (CER III/RN).
Vítima da vulnerabilidade social e sem recursos para se locomover ao CER,
Alexandre precisou improvisar com as sacolas plásticas. Essa não foi a primeira
vez que precisou enfrentar o problema. Isso porque, segundo ele, o número de
bolsas entregues é insuficiente. “Quando a pele está muito agredida
precisa de mais bolsas”, lastimou.
Durante os momentos mais críticos da pandemia
da covid-19, eram entregues 20 bolsas para abastecer por 2 meses, a fim de
evitar o deslocamento e, consequente, exposição do paciente ao vírus.
Atualmente, o número retornou a entrega padrão de 10 bolsas mensais para cada
pessoa assistida pelo CER. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande
do Norte (SESAP/RN), nunca faltaram unidades do material para os pacientes
ostomizados ou descontinuidades nas entregas.
Alexandre reforça, contudo, que já tentou solicitar
mais bolsas de colostomia, dada as dificuldades que passa com a atual
quantidade entregue. Segundo ele, a resposta é sempre a mesma: “Eu vou lá, pergunto
se pode e eles dizem que só se alguém desistir de alguma bolsa, porque o número
fixo para todo mundo são 10”.
Em resposta à reportagem da TRIBUNA DO NORTE,
a Sesap informou que para receber mais bolsas, o paciente passa por uma
avaliação multidisciplinar.
O procedimento pode ser solicitado tanto durante o
cadastro na Unidade de Atendimento Interdisciplinar ao Estomizado do
CER/RN, quanto após esse processo. Mas em nenhum momento, afirma Alexandre, lhe
foram repassadas orientações sobre a possibilidade de realizar uma avaliação
para receber um maior número de bolsas de colostomia. Com a falta do material,
aliada a ausência de condições para buscar as unidades, os problemas
aumentaram.
“A situação é muito crítica, você consegue dormir de
banda. Só consigo dormir à noite”, disse.
Foi visualizando essas dificuldades que Jailson
Cristiano dos Santos, amigo de Alexandre há quase nove anos, tomou a iniciativa
de falar com uma emissora de TV sobre o caso. Emocionado, ele não esconde
a alegria ao contar sobre cada uma das atitudes solidárias que tem alcançado a
vida do amigo, com quem também divide o mesmo teto. Ver a mobilização das
pessoas diante do caso, conta, lhe transmite um misto de gratidão e felicidade.
Para Alexandre, a principal expectativa para o futuro
é conseguir realizar a cirurgia para suspender o uso da bolsa de colostomia.
Com o estado de saúde atual, afirma, não dá para trabalhar. Mas com veemência,
afirma: “Emprego não falta pra mim. Sei ser Barman, cozinheiro, pintor”,
pontuou.
Além disso, nesta quarta-feira (16), ele deve buscar
as bolsas entregues pelo estado no CER. De acordo com a Sesap, o material fica
disponível ao paciente mesmo após o dia oficial da entrega e pode ser
solicitado por familiares, vizinhos ou quaisquer pessoas acionadas pelo
paciente.
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