Um grupo de cientistas desenvolveu, em Natal, um
método baseado em inteligência artificial capaz de prever um surto de dengue
com até seis semanas de antecedência. Dessa forma, as autoridades de saúde
podem ser avisadas com antecedência sobre o risco e executar medidas de
contenção.
Para realizar o estudo, ao longo de quatro anos,
foram espalhadas armadilhas para coletar ovos, conhecidas como ovitrampa (que
simulam um ambiente perfeito para a procriação do Aedes aegypti), nas quatro
regiões de Natal, a cada 300m², formando uma malha de captura de mosquitos e
ovos.
“Essa técnica, conhecida como ovitrampa, foi
implantada em Natal pelo então diretor do Centro de Zoonoses de Natal,
Alessandre Medeiros (in memorian). O Centro de Zoonoses de Natal é vinculado ao
Departamento de Vigilância em Saúde (DVS) da Secretaria Municipal de Saúde
(SMS) de Natal”, explicou Ricardo Valentim, diretor do Laboratório de Inovação
Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN) e um dos pesquisadores envolvidos na pesquisa.
Além disso, os pesquisadores recolheram informações
sobre casos confirmados e internações pela doença.
O trabalho realizado pelos pesquisadores foi
validado cientificamente, por meio da publicação de um artigo científico no
Scientific Report, periódico do grupo Nature, um dos principais repositórios
científicos do mundo.
Com o título em português 'Inteligência
computacional orientada a dados aplicada à previsão de surtos de dengue: um
estudo de caso na escala da cidade de Natal, RN-Brasil', o trabalho apresenta
os resultados obtidos pelos pesquisadores que desenvolveram um algoritmo usando
a técnicas de inteligências artificiais, como por exemplo, aprendizagem de
máquina, que ensina os computadores a aprenderem determinados padrões.
“A publicação é importante, pois chancela a
qualidade da pesquisa feita, o que garante o rigor científico e a revisão por
pares, aspecto importante para ciência global, além de divulgar internacionalmente
um importante resultado científico de cientistas potiguares”, reforça Ricardo
Valentim, diretor do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (Lais) da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Ainda de acordo com ele, a grande inovação deste
método computacional foi a utilização de ovos dos mosquitos. Com isso, o
algoritmo consegue prever com antecedência um iminente surto de dengue no
município, antes mesmo dos primeiros casos ocorrerem.
“A precisão de acerto do algoritmo é superior a
90%”, completou.
“Esse achado científico representa um marco
importante, pois agora a autoridade de saúde pública do município de Natal
poderá aplicar métodos mais efetivos de prevenção aos surtos de dengue na
cidade, e com isso poderá evitar adoecimentos, hospitais lotados e mortes”,
pontuou.
Expansão
Segundo os pesquisadores, o método pode ser
replicado para outros lugares do Brasil e também para outros países tropicais
que vivem surtos ou epidemias de dengue, possibilitando a melhora da resposta
dos sistemas de saúde à doença que nos últimos anos se espalhou rapidamente por
todas as regiões das Américas. O vírus da dengue é transmitido por mosquitos
fêmea, principalmente da espécie Aedes aegypti e, em menor proporção, da
espécie Aedes albopictus.
Esses mosquitos também transmitem outras doenças,
como a chikungunya e a zika. A dengue ocorre de forma generalizada ao longo dos
trópicos, com variações locais de risco influenciadas pela precipitação,
temperatura e rápida urbanização não planejada.
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