O aumento
do preço do diesel, anunciado pela Petrobras no mesmo dia do aumento da
gasolina e do gás de cozinha, pode mexer também com o transporte público de
Natal e intermunicipal, inclusive na quantidade de ônibus circulando.
A Federação das Empresas de Transporte de
Passageiros do Nordeste (Fetronor) e o Sindicato das Empresas dos Transportes
Urbanos (Seturn) estão se reuniram com os entes públicos por entenderem que os
custos atuais com combustível já prejudicam a operação das linhas em Natal e no
RN.
Entre as propostas sugeridas pelas entidades está:
um possível reajuste da passagem, o Poder Público subsidiar parte da operação
ou ceder óleo diesel às empresas.
Sem uma das mudanças, a Fetronor diz que a
frota atual de ônibus pode ser reduzida - a medida também é avaliada pelo
Seturn. Hoje em dia a frota é de 90% em Natal e nas linhas intermunicipais -
nunca retomou à normalidade desde o início da pandemia.
“O governo tem que entender que a situação é
gravíssima. As empresas estão insustentáveis e não sabem como manter o serviço.
Alguma medida precisa ser tomada”, falou o presidente da Fetronor, Eudo
Laranjeiras.
“Só esse aumento da sexta-feira, representa na
tarifa em torno de 9 a 10%. Então, nós estamos precisando urgentemente de
alguma solução. Se eu só posso rodar com 20% da frota, eu vou rodar com
isso. Isso em detrimento da qualidade, do passageiro", afirmou.
As empresas do transporte público de Natal também
alegam aumento de 10% nos custos por conta do diesel. O Seturn disse
que cobrou à Secretaria de Mobilidade Urbana de Natal (STTU) e à prefeitura
nesta segunda-feira (14) uma forma de compensar esse aumento nos custos, também
solicitando subsídios ou reajuste de tarifas à prefeitura.
"Foi comunicado hoje à STTU que tem que fazer
essa redução [no consumo de diesel] e evidentemente a pasta, como órgão gestor,
deve apresentar esse planejamento. As empresas estão aguardando em caráter de
urgência, inclusive pedindo audiência com o prefeito, pra resolver isso de
imediato", disse o consultor técnico do Seturn, Nilson Queiroga.
Segundo Queiroga, pode haver a devolução de
linhas das empresas para a prefeitura caso nenhuma medida seja tomada, já que
haverá prejuízo nas operações. Há possibilidade de reduzir cerca de 10 linhas
na cidade. Durante a pandemia, 26 já haviam sido reduzidas - atualmente 50
linhas circulam.
"Parte do sistema de Natal vai ter que parar.
As linhas mais deficitárias as empresas vão ter que devolver à STTU. As
empresas não podem esperar por promessas de decisões. A qualquer dia, momento
[podem parar]", falou o consultor técnico.
O que diz o Poder Público
Em nota, o governo do RN disse que desde 2020 tem
"concedido benefícios para viabilizar a atividade e, no fim do ano
passado, decidiu prorrogar por mais um ano a isenção de ICMS sobre o óleo
diesel adquirido pelas empresas que operam na região metropolitana e um
desconto de 80% sobre o mesmo imposto no caso do transporte intermunicipal.
Essas vantagens, no entanto, estão diretamente vinculadas a contrapartidas por
parte do empresariado, sendo a principal o não reajuste de tarifas".
A equipe econômica disse que vai analisar analisar
os pleitos tão logo sejam recebidos. "É importante ressaltar que os
benefícios já concedidos representam uma renúncia fiscal, por parte do estado,
que ultrapassa R$ 5,5 milhões por ano".
Já a STTU disse que, quanto ao aumento da tarifa,
"descartou tal possibilidade quando fez acordo com o Governo do Estado
para isenção do ICMS. No tocante à isenção de ISS, a matéria está sendo
discutida com a Secretaria de Tributação".
A pasta ainda disse que em relação à devolução de
linhas, a STTU não se coaduna com nenhuma devolução. "A STTU está
debruçada através de sua equipe técnica para fazer a licitação do transporte
público, finalizando o edital ainda este mês".
Passageiros sofrem
Os passageiros que precisam utilizar o transporte
público de Natal e da Região Metropolitana reclamam do possível aumento do
preço da passagem, principalmente se considerada a qualidade do serviço
oferecido pelas empresas atualmente.
Quando viu o aumento do preço
do diesel anunciado pela Petrobras, o ambulante João Rodrigues da Silva já
suspeitou que isso afetaria o transporte público de alguma maneira.
"Até sem aumentar [o diesel] eles já estavam
questionando isso [aumentar a passagem]. O diesel subiu, aí só sobra pro
usuário, o mais humilde. Se aumentar, piora mais pra população mais humilde. Os
gestores, o prefeito deixam os empresários mandarem", reclama.
O ambulante diz que tem sofrido com a redução da
frota nos últimos anos para poder se locomover.
"Eu digo porque sofro todo dia pra pegar o
ônibus, na Zona Norte, no Parque das Dunas. Eles diminuíram a frota, tiraram
até do domingo o 75 que vai pra Praia do Meio, só tem o 79 - e de hora em hora.
A gente paga muito caro nisso, a gente que sofre com isso".
A estudante Rafaela Gomes também diz que antes do
início da pandemia esperava no máximo 10 minutos por dia para pegar ônibus da
linha B e P, que ligam Parnamirim a Natal. Recentemente ela já chegou a esperar
por 1h20.
"A frota completa acho que não voltou, pelo
costume que eu tenho de pegar. Porque está demorando muito a passar e também o
número de pessoas dentro dos ônibus, sempre estão lotados. E sempre tem gente
na parada reclamando que não estão vindo, que estão demorando, que não estão
passando", relatou.
Ela conta que recentemente recebeu até
"dicas" de um funcionário.
"O motorista disse pra eu rezar dois pai-nosso
e uma ave-maria pra ver se passava no dia de domingo. A gente está na mão deles
[empresários]. Vir de carro está inviável e de ônibus está desse jeito. A gente
acaba pagando pra ser humilhado", lamentou.
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