Um grupo de mulheres
agricultoras do assentamento Mulunguzinho, na zona rural de Mossoró,
na Região Oeste do Rio Grande do Norte, ganhou uma fábrica para trabalhar na
produção de polpas de frutas.
"Decididas a
Vencer" é o nome do grupo formado por 11 mulheres. Segundo Francisca
Lourdes da Silva, uma das fundadoras e quem sugeriu o nome, essa denominação se
baseia força de vontade de cada uma delas.
Agricultora desde
criança, ela aprendeu a trabalhar no campo com os pais. Para Francisca, ver
tudo isso, que antes era só um sonho e agora se transformou em realidade é uma
alegria que não cabe no peito.
“Quando a gente chega
aqui que a gente vê na despolpadeira, começa a sair a polpa e a gente começa a
ensacar e a envasar… você ver tudo como está agora, pra nos é uma alegria
grande”, conta Francisca Lourdes da Silva.
O grupo de mulheres
existe há mais de 20 anos e o trabalho sempre foi assim: uma ajudando a outra. Primeiro
elas começaram com o plantio de hortaliças orgânicas, depois decidiram investir
na produção de polpas de frutas.
Antes da fábrica, a
produção era feita em casa. Mas o negócio deu tão certo que elas sentiram a
necessidade de regulamentar a atividade. Foi quando começou a luta pela fábrica
de polpas.
“Como elas já tinham a
experiência da produção de polpa foi o projeto que elas desenvolveram que agora
se concretiza de uma forma bastante significativa, valorizando o trabalho das
mulheres e a produção do semiárido, aqui no nosso estado”, explica Ive Aliana
Carlos, responsável técnica do Centro Feminista 8 de março.
A fábrica foi montada em
junho deste ano com recursos do governo do RN, resultado de um acordo de
empréstimo com o banco mundial por meio do projeto Governo Cidadão. O
investimento está orçado em 592 mil reais. O convênio com a Rede Xique-Xique,
associação que ajuda na comercialização de produtos da agricultura familiar,
foi fundamental para a conquista do espaço.
A fábrica começou a
funcionar em agosto e já forneceu o primeiro carregamento de polpas para o
programa de aquisição de alimentos. No primeiro edital, dividido em duas
entregas, elas conseguiram vender cerca de R$ 15 mil reais para o compra
direta.
“Quando eu recebi o
comunicado que ia sair nossa polpa para o compra direta, eu quase não
acreditada, porque foi muita peleja, muitos sonhos pra ver nossa polpa no
mercado. E chegou o momento que quando foi avisado, eu disse: ‘é brincadeira’.
Mas era verdade. Eu espero que não fique só nessa entrega, que venham muitas e
muitas e que tudo venha a dar certo”, falou a agricultora Maria Antônia da
Silva.
A primeira entrega
aconteceu no mês de setembro. Foram entregues 800kg de polpas de frutas nas
escolas estaduais. A próxima remessa será de 500kg só de polpa de goiaba,
totalizando 1.300kg ao Compra Direta. Mas a produção ainda deve atender a
outros mercados.
“A gente já tem o
consumidor que a gente entrega porta a porta. E agora a gente tem a realização
de dizer que hoje nós não estamos mais só vendendo porta a porta. Estamos para
um público muito maior”, falou a agricultora Ivaneide Alves.
A responsabilidade de
manter tudo dentro dos padrões de qualidade é de Ivaneide. Ela conta que a
fábrica é uma adaptação a todo conhecimento que elas já tinham quando produziam
em casa.
“Tenho a responsabilidade
de ajudar para que saia uma polpa de qualidade, pra onde a gente chegar poder
garantir que foi bem feita, que foi bem produzida e seguiu todos os trâmites. E
uma coisa que a gente não tem medo de sair daqui e vender a qualquer outra
pessoa, sem ter risco”, disse a agricultora Ivaneide Alves.
Apesar de toda a experiência
adquirida ao longo dos anos de produção caseira, elas foram treinadas para usar
as máquinas e mesmo com tudo funcionando elas vão continuar sendo assistidas
pelos próximos dois anos.
A Emater também vai
oferecer assistência técnica nos quintais produtivos e auxiliar no processo de
políticas públicas.
“O grande gargalo da
produção da agricultura familiar sempre foi a comercialização e especificamente
polpa de frutas, que tem que ser um produto certificado, pra elas é uma
conquista muito grande. E pra gente é ótimo, porque a gente consegue inserir
elas nas políticas públicas, de maneira correta, certificada e garante que esse
recurso chegue ao agricultor familiar”, falou Moacir Souza, técnico da Emater.
Esse é um exemplo de
força e união de mulheres trabalhadoras do campo, que juntas conquistaram
autonomia e sabem que com o apoio e dedicação de cada uma nunca estarão
sozinhas.
“É uma geração de renda
que chegou pra complementar a renda familiar. Só pra gente é um sonho que nós
sempre sonhamos”, disse Francisca Lourdes da Silva.
“Deus honrou a gente. Foi
um grupo que sempre lutou e conseguiu”, falou Maria Antônia da Silva,
agricultora.
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