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Depois de afirmar que iria divulgar a lista de
países que compram madeira ilegal do Brasil, o presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) afirmou que na verdade apontará empresas
estrangeiras que estariam importando o material de forma irregular.
“A gente não vai acusar nenhum país de cometer crime
ou de ser conivente com um crime, mas temos nomes de empresas que fazem isso, e
poderiam estar nos ajudando a combater esse ilícito”, afirmou Bolsonaro durante
live semanal transmitida pelas redes sociais.
O presidente ainda não revelou o nome das empresas que
estariam envolvidas na prática ilegal.
“Nós temos o montante de madeira exportado por ano”,
começou Bolsonaro. “Só nesse contexto, a gente vê que não sai tudo da área de
manejo. Vai entrar em cena a Marinha do Brasil porque toda madeira ilegal sai
por via aquaviária. Dá pra fazer barreiras e conferir o deslocamento dessa
madeira: a que for legal passa”.
Para Bolsonaro, assim que o Brasil chegar a um “bom
termo nessa questão”, o desmatamento vai diminuir drasticamente. “É o que
queremos”.
As informações teriam sido obtidas a partir de um
rastreamento da Polícia Federal. Durante a live, ao lado de Bolsonaro, o
delegado Saraiva explicou que o método para descobrir a origem da madeira usa
três tecnologias diferentes: isótopos estáveis, uma espécie de DNA que mostra a
proveniência geográfica de produtos, além do DNA e assinatura química da
madeira.
“Jogo econômico”
Bolsonaro definiu as críticas que vem recebendo como
um “grande jogo econômico”. Segundo o presidente, os países querem atingir o
Brasil por ser uma potência do agronegócio. “Eles querem diminuir a
concorrência com toda a certeza. Isso facilita até mesmo o comércio interno de
commodities”.
O presidente ressaltou que em 2021, a Inglaterra
realiza a Cúpula das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. “É o cartão de
visita que a Inglaterra está apresentando. Vai ser feito política em cima disso
e o Brasil é o país que mais sofre com isso”.
Anteontem, durante a cúpula dos Brics, o presidente
Bolsonaro havia ameaçado entregar uma lista de países que compram madeira
ilegal. Um movimento que pode aprofundar ainda mais a crise diplomática
com países europeus.
A questão ambiental é o maior ponto de atrito
diplomático entre o governo brasileiro e demais países. No ano passado, o
presidente francês Emmanuel Macron chamou as queimadas na Amazônia de
“crise internacional” o que provocou a fúria de Bolsonaro. A
Alemanha, que é uma das maiores doadoras do Fundo Amazônia, congelou o repasse
junto com a Noruega.
Bolsonaro quer utilizar esta lista para atribuir a
esses países a culpa pelo desmatamento nas florestas brasileiras. “Estaremos
revelando nos próximos dias países que têm importado madeira extraída de forma
ilegal da Amazônia. E alguns desses países são os mais severos críticos ao meu
Governo no tocante a essa região amazônica”, disse o presidente. “Porque daí
sim estaremos mostrando que esses países, alguns deles que muito nos criticam,
em parte têm responsabilidade nessa questão”.
No entanto, Bolsonaro ignora que seu
governo reduziu a fiscalização da venda ilegal de madeira. Segundo revelou
a Folha, dois despachos internos do presidente do Ibama (Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Eduardo Fortunato Bim,
aumentaram a recirculação de madeira ilegal no Brasil e ampliou as
possibilidades de exportação irregular de madeira proveniente de espécies
ameaçadas de extinção.
O vice-presidente Hamilton Mourão amenizou a
ameaça de Bolsonaro, dizendo que ele se referia a “empresas estrangeiras” e não
às nações. Não é o país, é a empresa. O presidente deixou claro que são as
empresas, ele deixo muito claro isso aí”, disse Mourão, que coordena o Conselho
da Amazônia.
No mesmo dia, o deputado Eduardo
Bolsonaro (PSL) divulgou imagens que, segundo ele, mostram a madeira
extraída ilegalmente do Brasil. É possível ver o nome de sete países: Bélgica,
Reino Unido, Dinamarca, Holanda, França, Portugal e Itália.
“Como a maioria vai para Europa, onde muitos países se
preocupam com o desmatamento nas florestas brasileiras, esperamos que eles
cooperem fortemente para impedir a compra destes materiais”, escreveu o
deputado nas redes sociais.
Uma operação Arquimedes da Polícia Federal deflagrada
em 2017 apreendeu 120 contêineres com 2.400 m³ de madeira extraída ilegalmente
que seria vendida para Alemanha, Bélgica, Dinamarca, França, Itália,
Holanda, Portugal e Reino Unido.
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