Padre Costa, diretor do colégio diocesano seridoense
Caicó enviou carta aberta para a governadora Fátima Bezerra pedindo para não
retornar as aulas. Padre Costa foi o mesmo que em julho aproveitou a
ocasião da 1ª Novena da Festa de Sant’Ana 2020, em Caicó, para fazer críticas
ao presidente Bolsonaro diretamente do púlpito da igreja. Segue:
OUVI O CLAMOR DO PE. COSTA DE CAICÓ: Não coloquemos em
risco a saúde e a própria vida dos nossos alunos, professores, funcionários e
seus familiares, por causa de três meses de aula.
Tenho ouvido algumas vozes que ousam falar em nome das
Escolas particulares do RN, reclamando o retorno às aulas presenciais, ainda
que de modo parcial, com a promessa do cumprimento de um protocolo de
biossegurança. Não poderia me omitir, como Padre da Diocese de Caicó, Professor
da UERN e Diretor do CDS – Caicó, de dirigir-me a todos aqueles que têm a
responsabilidade de coordenar o Sistema Educacional do Estado do RN, público e
privado, chamando-os a refletir sobre o que isso pode significar diretamente
para um terço da população do RN, até porque, como diz Jesus em Lucas, 19,40:
“Se eles calarem, as pedras falarão”.
1. Nem todas as
escolas privadas reclamam pelo retorno às aulas presencias. Há escolas
privadas, e o Colégio Diocesano Seridoense de Caicó é uma delas, que têm
clareza e consciência de que o retorno às atividades presencias pode colocar em
risco o esforço que todos têm feito para manter o COVID19 sob controle, no
nosso Estado.
2. A grande maioria das
famílias não aceitam e não mandarão seus filhos para a escola. Assim sendo, as
crianças destas famílias terão direito a continuidade do ensino remoto;
3. Com isto, as escolas
terão que duplicar a carga horária de seus professores e técnicos
administrativos, para atenderem ao chamado “Ensino Híbrido”, pois as turmas que
tiverem ensino presencial pela manhã, terão obrigatoriamente que ter o ensino
remoto à tarde e vice- versa;
4. A grande maioria dos
nossos professores já têm dois regimes de trabalho. Muitos são professores do
estado e de município, do estado e particular, de município e particular e de
mais de uma escola particular. Como ficará a vida daqueles professores que se
encontram nessa situação? Parodiando o que diz Jesus em Mateus, 23, 4: “Não
coloquemos fardos pesados e difíceis de suportar nos ombros dos outros, quando
nós mesmos não podemos carrega-los”;
5. Mais do que nunca temos
a consciência da importância do professor em sala de aula, no entanto, diante
da preservação do bem maior e sabendo que este é o único meio de nos mantermos
preservados desta pandemia, nossos pais e alunos têm se sentido relativamente
satisfeitos com o trabalho de ensino remoto;
6. Se até o momento nossas
crianças estiveram preservadas do COVID19, como não culpar a escola, caso uma
criança que esteja frequentando a escola venha a ser infectada? Tal
probabilidade nos coloca diante de possíveis desdobramentos jurídicos imprevisíveis;
7. É falaciosa a
argumentação de que esta ou aquela escola esteja preparada para o início
das aulas presencias tendo em vista o cumprimento de um protocolo de
biossegurança;
8. Quem conhece
minimamente a criança, sabe perfeitamente que ela não se enquadra dentro de
protocolos. A lógica de um protocolo de biossegurança não atinge a consciência
infantil e dos adolescentes. A criança surpreende sempre! Por isso não se trata
de ter ou não condições financeiras, estruturais, físicas ou sanitárias. Trata-se
da compreensão ou não do mundo infantil e adolescente;
9. Alguns podem
argumentar: tudo já voltou a funcionar: comércio, academias, igrejas, etc. A
Escola é diferente de tudo isso. Ela é única. Ela não se assemelha a nada
daquilo utilizado como argumento para ser reaberta. Se assim o fosse, nós não
precisaríamos de psicólogo, assistente social, psicopedagogo, inspetor de
disciplina e outros profissionais de apoio no processo ensino-aprendizagem.
Querer comparar a escola a outra instituição, de qualquer natureza, é
verdadeiramente não conhecer o que seja uma escola;
10. Apesar dos inúmeros
esforços das famílias e das escolas em manterem o ensino remoto, de certo temos
um prejuízo de conteúdo e de dias letivos, mas isso pode ser recuperado o que
não podemos recuperar é a vida. Eu não compreenderei em hipótese alguma que
gestores educacionais coloquem em risco a saúde e a vida de um terço da
população do nosso estado com o pseudo argumento de salvação do ano letivo, até
porque temos prejuízo, mas o ano letivo não está perdido. Ademais, três meses
de aulas presenciais não garantem a recuperação de nenhum prejuízo escolar;
11. Por fim, quero exortar
a todos os destinatários referidos no início desta carta a continuarmos com os
mesmos esforços e a darmos continuidade ao ano letivo do modo como estamos
fazendo, até a sua conclusão, suplicando a Deus que ilumine a mente dos
cientistas do mundo inteiro para que descubram logo uma vacina capaz de
erradicar ou ao menos controlar tão cruel pandemia. Rezemos igualmente pelos
nossos representantes educacionais, para que iluminados pela Luz divina possam
ter o discernimento em todas as decisões e que não se deixem levar por pressões
ou interesses de grupos. Deus nos abençoe a todos!

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