O governo do Rio Grande do Norte afirmou nesta sexta-feira
(4) que foi "surpreendido" por intimações feitas a 20
policiais ligados ao movimento "Policiais Antifascismo" para prestar
depoimento sobre uma investigação aberta em abril deste ano. Em
nota assinada pelo secretário do gabinete civil, Raimundo Alves Júnior, o
governo considerou o ato ilegal e fruto de perseguição política. Dos
convocados, 14 são integrantes da segurança da governadora Fátima Bezerra (PT).
"Diante dessa manifesta ilegalidade,
solicitaremos à Procuradoria-Geral do Estado que analise a possibilidade de
adoção de medidas para garantir que perseguições por motivações políticas não
tenham vez no Estado do Rio Grande do Norte", afirmou Raimundo Alves
Júnior, na nota.
A investigação aberta em abril apura a suposta criação
de um grupo paramilitar de viés político-ideológico no estado. Um relatório com
informações de dezenas integrantes do grupo foi montado durante as apurações
iniciais do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Porém, representantes afirmam que os servidores fazem parte de um movimento
político e que são alvos de uma perseguição política por parte do Ministério
Público.
As informações sobre as investigações só vieram a
público no início de agosto, após também ser divulgada a existência de um
relatório produzido dentro do Ministério da Justiça com informações de
aproximadamente 600 servidores públicos ligados a movimentos de oposição ao
governo federal.
O governo do estado afirmou que o Supremo Tribunal
Federal decidiu, no dia 20 de agosto, por 9 votos a 1, que é inconstitucional a
coleta de informações de servidores públicos motivada por seus posicionamentos
políticos.
"Lamentável que mesmo após a decisão do órgão
máximo da justiça brasileira, cujo entendimento deveria nortear a atuação de
todos os órgãos e entidades da República, instituições continuem sendo
utilizadas para atos de intimidação motivados por divergências políticas, o que
se percebe pelo fato de que 14, dentre os 20 intimados, são integrantes da
equipe de segurança da Governadora do Estado e do Gabinete Civil", afirmou
o governo.
"A questão que verdadeiramente merece ser
esclarecida, diante desse fato, é a quem incomoda a luta antifascista desse
grupo de policiais militares ao ponto de receberem intimação para serem ouvidos
pelo 'Núcleo Especial de Investigação Criminal'", afirmou ainda, na nota.
Além de policiais militares, o movimento também tem participação de policiais
civis e bombeiros, entre outros agentes de segurança pública.
Em agosto, o promotor Wendell Beetoven Ribeiro Agra,
que atua na 19ª Promotoria de Natal, responsável pelo controle externo da
atividade policial, negou que a abertura do inquérito tenha sido por motivação
política.
"Meu objetivo não é político. Nunca foi. O que o
MP, enquanto órgão controlador da atividade policial, não pode aceitar é a
falta de neutralidade político-partidária das polícias, senão a função policial
passa a ser utilizada em prol de uma ideologia e para autopromoção de agentes
públicos armados. Em outras palavras: cria-se uma polícia política. E isso não
é democrático nem lícito. O policial, como pessoa física, fora do trabalho (sem
exibir arma ou distintivo), pode ter e professar a ideologia política que
quiser. Mas, no exercício da função, tem que agir com neutralidade e
imparcialidade", disse.

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