Veja
Em qualquer mercado que envolva commodities, quem
produz a matéria-prima normalmente fica com as menores margens de lucro. Para
recuperar o investimento e ganhar algum dinheiro, o agricultor, o pecuarista, o
minerador e o pescador precisam produzir e vender grandes volumes. Com a
cannabis não é diferente. Nos locais onde é permitido plantá-la, o preço da
erva in natura vem caindo consistentemente, principalmente porque a demanda
pelo produto legal não acompanha o crescimento da oferta, cada vez maior. Essa foi
uma das primeiras lições que aprendi quando comecei a acompanhar esse universo
mais de perto. As melhores oportunidades estão nas atividades que agregam valor
aos insumos e entregam produtos mais sofisticados aos consumidores: remédios,
concentrados, comestíveis, cosméticos etc.
Aqui no Brasil, o plantio de cannabis segue proibido,
mas a dinâmica é a mesma. Os negócios mais atrativos para investidores e
lucrativos para seus donos estão na indústria, não na agricultura (a afirmação
aqui é um tanto óbvia, mas no mundo da cannabis ainda há uma tendência de
supervalorização do cultivo). Nesse contexto, avalio como extremamente positivo
o anúncio feito pela brasileira Entourage Phytolab na semana passada. A startup
de biotecnologia, com sede em Valinhos (SP), desenvolveu uma fórmula que dobra
o potencial de absorção do canabidiol (CBD) pelos pacientes. Na prática,
significa que o mesmo efeito terapêutico pode ser obtido com metade da dose,
tornando o tratamento mais barato e mais eficiente.
Os resultados da Fase 1 dos testes com o novo produto,
selecionado entre mais de 50 formulações, foram apresentados durante o
International Cannabinoid-Derived Pharmaceuticals Summit (ICDP), um dos
principais eventos globais dedicados à pesquisa com canabinoides. Para Caio Santos
Abreu, CEO da Entourage, o custo dos tratamentos pode cair até 60% com a nova
tecnologia. “Trata-se de uma conquista inédita não só no Brasil, mas no mundo.
Os cientistas que acompanharam o anúncio ficaram bastante impressionados com os
nossos resultados”, contou Abreu. O produto segue agora para as fases finais de
teste e devem chegar ao mercado no ano que vem, segundo as estimativas da
empresa. “O processo é lento, mas tem que ser assim, esse é o caminho que
escolhemos, a via farmacêutica. Estamos confiantes de que em breve vamos
oferecer aos brasileiros um produto de alta qualidade, eficaz e com preços
justos”, diz o executivo.
Além da absorção mais eficiente, os ensaios mostraram
que a nova fórmula da Entourage reduz a variação dos efeitos do medicamento
entre os diferentes pacientes. “Em geral, os tratamentos à base de canabinoides
produzem efeitos diferentes de pessoa para pessoa”, afirma Manuel De Prá, chefe
de pesquisa e desenvolvimento da empresa. “A variabilidade dos nossos
resultados é três vezes menor que a dos produtos disponíveis no mercado
atualmente. É um grande avanço, que dá mais confiança aos médicos na hora de
prescrever”, completou. Ao que tudo indica, a Entourage acertou ao apostar na
biotecnologia para se diferenciar, aqui e lá fora. Apesar de todo o nosso
potencial agrícola, há também outros caminhos para que o Brasil se torne uma
referência no mercado global de cannabis, agregando conhecimento em uma área
ainda pouco explorada pela ciência.
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