"Estamos ali pra salvar o amor de alguém",
afirma a fisioterapeuta intensivista Danielle Neiva Santos de Aquino Araújo, de
38 anos, que atua em hospitais do Rio Grande do Norte e do Ceará, na linha de
frente de combate ao coronavírus. Em 15 anos de profissão, ela afirma que esta
é a situação mais grave que vivenciou. Bem mais que a crise da gripe H1N1, por
exemplo.
"Naquela época, uns 10 anos atrás, eu estava
grávida. Atendi pacientes com H1N1, mas a situação agora é muito mais
difícil", diz.
Para ela, o senso de responsabilidade seu e de seus
colegas aumenta ao perceber que os próprios pacientes e seus familiares colocam
no trabalho deles a esperança da cura, no combate à Covid-19, mas ela considera
que os trabalhadores da área não são "super-humanos".
"Nós temos medo. Mas temos coragem. Quando
entramos na UTI e vemos aquelas pessoas deitadas, as únicas pessoas que elas
têm somos nós, a única esperança científica somos nós, profissionais da saúde;
e a fé que nós temos e todas as famílias têm para que eles se levantem e saiam
embaixo de palmas", afirma, emocionada.
A profissional é de Mossoró, no Oeste potiguar, onde
trabalha há 15 anos. Além do Hospital Wilson Rosado - uma unidade privada - há
cinco anos ela passou a fazer plantões também no Hospital Universitário Valter
Cantídio, em Fortaleza.
A rotina de trabalho interestadual é puxada: ela faz
plantões de 12 horas em Mossoró, dorme e segue para Fortaleza, onde realiza
três plantões noturnos seguidos. Após os três dias, ela volta para a cidade do
Oeste potiguar, onde a rotina é reiniciada. O marido, que é psicólogo e reduziu
atendimentos nesse período, está acompanhando Danielle, mas ela também se
preocupa. "Acabo expondo ele", considera.
As viagens também ficaram mais longas por causa dos
bloqueios sanitários nas estradas, principalmente no Ceará. Na comparação entre
as duas realidades que está enfrentando, Danielle conta que ambas são
dramáticas, mas a capital cearense vive um momento ainda mais delicado, na sua
opinião.
"Fortaleza está muito mais tenso, está uma cidade
mais difícil, as contas estão mais complicadas. Você percebe as pessoas
tentando se adequar a esse novo modelo de saúde, de tentar abrigar mais
pessoas, abrir mais leitos. Os hospitais estão mais cheios, tivemos mortes,
muito mortes", relata.
Ao mesmo tempo, ela também afirma que há vitórias que
reacendem a esperança de dias melhores.
"No meio daquele furacão todo, a gente consegue
salvar pessoas, reunir os nossos conhecimentos e tirar aquelas pessoas dali,
porque nós temos uma missão. Estamos ali para salvar o amor de alguém. Tem
alguém esperando e é isso que nos motiva todos os dias", lembra.
Vários pacientes marcam os profissionais e trazem
novos desafios. A fisioterapeuta afirma que atualmente atende a um professor
surdo que está com Covid- na UTI. "Para saber se o paciente está deixando
a sedação a gente geralmente pergunta se ele está bem, pede para apertar a mão.
Com ele, essa comunicação é mais um desafio", exemplificou.
Enquanto cuida dos "amores" de outras
pessoas, a profissional sente saudades dos seus. Ela e o marido optaram por
deixar a filha com os avós, de 70 anos, para evitar a contaminação deles. A
distância já dura dois meses e é quebrada apenas por visitas realizadas a cada
15 dias, aproximadamente. "A gente fez isso para preservá-la", conta.
"Vamos vencer. Estamos a cada dia vencendo esse
momento", conclui a profissional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário