FOLHAPRESS
O coronavírus ainda
faz novos doentes e provoca mortes todos os dias na Europa, mas esses números
diários estão decrescendo em alguns países.
Enquanto parte dos governos estendeu as quarentenas, a
redução no contágio faz crescer a discussão sobre como retomar a atividade,
paralisada há quase um mês na Itália e há três semanas na maioria dos outros
países.
Neste domingo, a Espanha divulgou o menor crescimento
de mortes diárias em nove dias: 674 em 24 horas, elevando o total para 12.418.
O número de novas infecções subiu 5%, também a menor taxa de crescimento desde
o começo da crise.
A
Espanha tem neste domingo 130.759 infectados, o segundo maior no mundo,
atrás dos EUA. O país entrou em quarentena em 15 de março, 11 dias depois da
primeira morte.
Apesar da queda nos novos registros, ainda há
hospitais com capacidade de atendimento esgotada, e o governo espanhol renovou
as medidas de isolamento até 25 de abril.
SEM CAOS NA BÉLGICA
Na Bélgica, o número diário de internações em UTIs
teve neste domingo sua maior redução: houve 16 novos pacientes internados, o
menor número desde 20 de março, quando começaram os registros oficiais.
Em quarentena desde o dia 17 de março, seis dias
depois da primeira morte, a Bélgica
não enfrentou colapso nos hospitais nesta pandemia. A ocupação dos
leitos para cuidados intensivos se manteve em cerca de 50% na última semana,
com 1.261 casos graves de Covid-19.
MENOS PRESSÃO NA ITÁLIA E NA FRANÇA
Na Itália,
que completa um mês de quarentena na próxima quinta (9), também caiu o número
diário de internações em hospitais em UTI. De 1.276 novas entradas diárias em
hospitais e 120 novos casos em UTI em 23 de março, passou a 201 internações
diárias e 15 casos em UTI na sexta (3).
Entre sexta e sábado, o número total de internados em
UTIs caiu 74, e entre sábado e domingo, houve nova redução, de 17. No total,
3.977 doentes estão em cuidado intensivo no país.
Foi neste domingo o menor incremento no número de
mortes em duas semanas, 525, e pela primeira vez, caiu o número de
hospitalizados, de 29.010 para 28.949.
No mesmo pronuciamento em que anunciou uma prorrogação
da quarentena até 13 de abril, o premiê Giuseppe Conte afirmou que espera o
aval de cientistas para começar a relaxar as restrições, mas que, apesar de
números recentes, não pode antecipar uma data.
Na noite de domingo, o Ministério da Saúde da França
também divulgou número menor de mortes: 357, elevando o total a 5.889. Nas 24
horas anteriores, 441 pessoas haviam morrido.
O número de internações em UTIs caiu por seis dias
consecutivos, para menos da metade: de 359 no dia 29 de março para 140 neste
domingo.
“BAZUCA” DE TESTES NA ALEMANHA
A desaceleração acontece também em países que têm
intensificado o número de testes (o que aumenta o número de confirmações), como
a Alemanha, que registrou números menores de novos casos em três dias
seguidos.
Do sábado para domingo, foram 5.936 casos confirmados,
elevando o total para 91.714, quarto maior número no mundo. Na véspera, o
número de casos havia subido 6.082, e, de quinta para sexta, 6.174.
O número de mortes nas últimas 24 horas subiu para
184, depois de vários dias estacionado em 140. São 1.474 mortos até agora, nono
maior número global.
Neste final de semana, a Alemanha atingiu a capacidade
de testar 100 mil pessoas por dia, segundo o instituto de controle de doenças Robert-Koch,
um crescimento de 14 vezes em relação ao começo de março. No total, já foram
feitos 1,5 milhão de exames para detectar infectados.
Os alemães preparam agora um novo programa intensivo
de testes, este para descobrir quem desenvolveu anticorpos contra o coronavírus
—o que acontece quando o corpo entra em contato com o patógeno e reage à
infecção, derrotando-a.
O Centro Helmhotz de Pesquisa de Infecções (HZI) vai
coordenar um estudo com 100 mil participantes, para detectar a presença dos
anticorpos.
Em tese, um resultado positivo poderia significar
imunidade. “Indivíduos imunes poderiam ter um certificado semelhante ao de
vacinação, que os isentasse de restrições em algumas atividades, afirmou o
coordenador do estudo, Gérard Krause.
‘PASSAPORTE DE IMUNIDADE’ NO REINO UNIDO
É essa uma das estratégias também do Reino Unido, que
vem estudando a ideia de um “passaporte
de imunidade”, segundo o secretário da Saúde, Matthew Hancock. O país
negocia 17,5 milhões testes de anticorpos e tem planos para submeter um quarto
da população a eles em meados deste mês.
Conselheira-adjunta para assuntos médicos do governo
britânico, Jennie Harries disse também neste domingo que regiões do país em que
haja mais imunidade podem voltar à atividade antes. O retorno será feito “com
muita cautela”, no entanto, para evitar uma segunda onda de infecções.
A ideia é arriscada, segundo cientistas, porque ainda
não se sabe com certeza se quem se curou da doença desenvolveu imunidade
duradoura. “Certificados de imunidade podem dar uma falsa segurança, que leve
as pessoas a reduzirem cuidados indispensáveis”, escreveu a professora de imunologia
da Universidade de Edimburgo, Eleanor Riley, no jornal britânico Guardian.
Se depender desses “passaportes”, a volta ao normal
dos britânicos vai atrasar: nenhum dos nove diferentes tipos de kits de teste
recebeu aprovação até este final de semana.
Além disso, o Reino Unido entrou em quarentena apenas
duas semanas depois de registrada a primeira morte: em 21 de março foram
fechados bares e restaurantes, no dia 23, suspensas as aulas e apenas no dia 24
houve ordem para que saídas de casa fosem evitadas.
Embora tenha divulgado um número positivo neste final
de semana —o pico esperado para internações em UTI caiu de 30 mil leitos com
equipamento de respiração para 18 mil—, há relatos de superlotação e falta de
equipamentos em hospitais brigânicos, e o número de casos está em aceleração.
Chegou a 47.806 neste domingo, com 4.934 mortos.
O pouco tempo de quarentena e a crise nos hospitais
não impede, porém, uma pressão crescente por um “mapa da retomada” no Reino
Unido. Recém-escolhido líder
do Partido Trabalhista, Keir Starmer pediu um plano púlbico em
entrevista à rede de TV BBC: “O governo precisa publicar a estratégia de saída
do lockdown. O público quer saber quando isso vai terminar”.
A oposição se soma a vozes dentro do próprio governo,
como Rishi Sunak, o equivalente ao ministro das Finanças no Reino Unido.
Segundo o Sunday Times, Sunak tem pedido que a pasta
da Saúde comece a discutir um cronograma para a retomada da atividade
econômica, algo que ainda não é possível do ponto de vista técnico, segundo um
dos principais conselheiros do governo, o epidemiologista Neil Ferguson, do
Imperial College.
OS PIONEIROS ESLOVÁQUIA E DINAMARCA
A volta ao normal não será simples, como mostra
preocupação recente do governo da Eslováquia, primeiro país europeu a reabrir
parte das lojas, em 28 de março, quando
não registrava nenhuma morte por Covid-19.
A Eslováquia adotou confinamento total no dia 12 de
março, quando apenas dez pessoas haviam contraído o coronavírus. Foram
proibidas viagens, e as fronteiras ficaram abertas apenas para residentes no
país. Todos os eventos culturais, esportivos e religiosos foram suspensos,
assim como partidas esportivas. O governo eslovaco também proibiu visitas a
hospitais e casas de idosos e suspendeu aulas em todas as escolas.
Na última quinta (2), após o registro do primeiro caso
fatal no país, o premiê Igor Matovic voltou a cogitar um fechamento mais
rigoroso, mas o recuo não tem apoio da oposição.
Na Dinamarca, outro
país que mencionou publicamente como retomar as atividades, a
primeira-ministra Mette Frederiksen alertou que, quando ela acontecer, será
“gradual, suave e controlada”.
O país escandinavo foi um dos primeiros a reagir
depois que a Itália decretou quarentena, em 9 de março. Dois dias depois, o
governo dinamarquês proibiu viagens entre seu país e a Itália, e no dia 14
fechou as fronteiras para todos os não residentes.
Também fechou bares, restaurantes, lojas e suspendeu
as aulas em todas as escolas.
Em entrevista em 30 de março, quando havia 2.577 casos
confirmados e 77 mortes no país nórdico, Mette disse que reavaliaria as medidas
de restrição depois da Páscoa. Neste domingo, o país registra 4.369 casos e 179
mortes.
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