O Hospital Regional Tarcísio Maia, principal unidade
de saúde de Mossoró e indicado para casos de coronavírus, tem sofrido com a
falta de medicamentos, equipamentos e insumos que são fundamentais no combate e
no tratamento da doença. É o que relatam médicos, enfermeiros e outros
profissionais da saúde lotados no hospital neste período de pandemia.
Nesta semana, a médica Samila Pinheiro fez um desabafo
nas redes sociais que ganhou repercussão. Nele, ela disse que ter os
profissionais de saúde e alguns equipamentos, mas não ter requisitos
fundamentais como exames, gasometria, e eletrólitos "é como dirigir um
carro sem volante". "Isso é o que guia você. Sem isso, você não tem
como saber se o tratamento está sendo feito adequadamente", falou.
Ela explicou que a gasometria, por exemplo, é um tipo
de exame fundamental nesse cenário de tratamento para casos de coronavírus. É
um exame de sangue colhido de uma artéria que mede situações como a pressão de
oxigênio, gás carbônico e bicarbonato. "Se não tem gasometria, não tem a
menor condição de manejar adequadamente a ventilação mecânica. Isso compromete
e muito o tratamento do paciente", explicou.
"Isso é algo muito, muito básico. Não
tem condições de enfrentar uma epidemia de coronavírus dessa forma, sem as
medicações, sem gasometria e sem os exames básicos necessários".
Mossoró registra, até esta terça-feira (7), três das
oito mortes por coronavírus no Rio Grande do Norte.
A médica cita que ainda faltam outros equipamentos
como glicosímetros, oxímetros e tensiômetros, além de insumos e exames como
sódio, potássio, eletrólitos, coagulograma e até tomografia. Entre os
medicamentos em falta estão antibióticos, anticonvulsivantes e medicações para
realizar a intubação orotraqueal.
Segundo Samila, nenhuma previsão foi dada para a
chegada desses equipamentos, exames e medicamentos. "Mas é algo que
precisa estar presente todos os dias. É uma coisa urgente, básica, que não tem
como ficar sem", frisou ela. Outro fator alertado pela médica é a falta de
álcool em gel. "Nas enfermarias, não tem álcool em gel para os pacientes e
familiares", diz.
Samila explica que não é possível trabalhar de forma
adequada com tantas faltas e a solução geralmente é adaptar. "O que os
colegas costumam fazer é adaptar. Às vezes trocam uma medicação por
outra".
O Hospital Regional Tarcísio Maia é um dos indicados
no estado em casos de coronavírus. Na terça-feria (7), a governadora Fátima
Bezerra (PT) anunciou que a unidade abriu 10 novos leitos de UTI para atendimento
de pessoas com a Covid-19. A intenção é que nos próximos dias mais 10 sejam
abertos - o hospital já conta com outros nove leitos.
Doações e ajudas
Segundo a médica, muitos dos Equipamentos de Proteção
Individual (EPIs) para os profissionais da saúde foram doados. Samila cita
ainda que parte da hidroxicoloroquina, medicamento recomendado para pacientes
graves do coronavírus, também foi doada por empresas e colaboradores. "Do
Estado veio muito pouco", falou.
Nesta semana, o Hospital Regional Tarcísio Maia
recebeu caixas com doações de EPIs.
Entre os materiais doados, estavam luvas,
máscaras, roupas de proteção e até equipamentos eletrônicos.
Outra coisa que tem acontecido, segundo relatam
funcionários, são as famílias, alguns médicos e enfermeiros pagaremos exames
para ajudarem o paciente. "E assim a gente vai fazendo as medidas mais emergenciais.
Mas obviamente não se consegue fazer um trabalho adequado, porque muitos exames
que deveriam ser coletados e ter resultado na urgência, às vezes só tem no dia
seguinte se alguém pagar".
"Medicina é ciência, não é
adivinhação. Se você não tiver os exames disponíveis para dar o diagnóstico
correto você não consegue estabelecer o tratamento correto".
Para Samila, familiares chegarem ao ponto de precisar
comprar esses medicamentos ou exames é um "absurdo". "Você
imagina uma população carente, atendida pelo SUS, que ganha em média de um ou
dois salários mínimos tendo que gastar do próprio bolso com esses exames. E
muita gente não tem como gastar e acaba ficando a mercê do sistema".
A médica diz que acredita que a saúde do RN pode ter a
oportunidade de sair melhor dessa pandemia. "Não tem fundamento investir
uma quantia muito alta se você não conseguiu o básico para o funcionamento da
sua casa. A casa, os hospitais referência, são Tarcísio Maia, Rafael Fernandes,
Walfredo Gurgel. A nossa casa tem que ter o básico, ao menos arroz e feijão na
mesa, se não a gente não vai conseguir sustentar e dar o suporte básico
necessário pro tratamento desses doentes".
"Sem isso a gente não vai conseguir
progredir em nada na saúde do RN".


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