Os corais da Área de Proteção Ambiental dos Recifes de
Corais (APARC), localizada no Litoral Norte do estado, vêm passando por um
processo de branqueamento e provocando preocupação na equipe da gestão da
Unidade de Conservação. Isso porque nunca foi registrada uma quantidade
expressiva de corais atingidos nesta área. A principal causa do fenômeno nos
corais é o aumento da temperatura das águas oceânicas, em decorrência de uma
onda de calor marinha que chegou ao Rio Grande do Norte no início do mês de
março deste ano.
O Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio
Ambiente – Idema, em parceria com a Fundação para o Desenvolvimento Sustentável
da Terra Potiguar do Rio Grande do Norte (Fundep), através do Programa de
Monitoramento Ambiental e Turístico da APA dos Recifes de Corais – Ecorecifes,
realiza um trabalho permanente na APARC para acompanhar a saúde do ambiente
recifal na região.
O coordenador do Programa, Keliton Gomes, relata que houve
uma aceleração no fenômeno de branqueamento na área, afetando mais de 70% das
colônias de corais. “Durante uma coleta de dados no início do mês de abril
verificamos um agravamento com 76,1% das colônias identificadas na área recifal
de Maracajaú, apresentando níveis de branqueamento de leve a forte e 78,5% na
área recifal de Rio do Fogo/Perobas”. Segundo o coordenador, além da coleta de
dados regular, o grupo de pesquisa da unidade individualizou colônias de corais
para acompanhar a evolução dos efeitos do branqueamento.
As equipes do Idema e do monitoramento ambiental vêm
discutindo a situação do branqueamento há pelo menos 15 dias e reforçam a
necessidade da população se sensibilizar quanto às causas e consequências do
acúmulo de gás carbônico na atmosfera. Segundo o diretor geral do Idema, Leon Aguiar,
esse é um momento também para pensarmos além do trabalho de monitorar a
situação. “As medidas não são somente o monitoramento, mas a consciência global
dos povos em buscar se adaptar às mudanças do clima, reduzir os impactos sob a
atmosfera com a redução das emissões de substâncias prejudiciais que favorecem
ao aquecimento, buscar cada vez mais soluções tecnológicas e alteração das
matrizes energéticas para soluções renováveis e ambientalmente sustentáveis”,
comenta Leon.
Os corais estão entre os organismos marinhos mais
afetados pelo aquecimento global e, consequentemente, também impactam a
existência de outras espécies. A maioria dos corais possui uma relação de
simbiose com microalgas que são responsáveis por fornecer alimentos e coloração
aos ambientes de recifes de corais. Com uma maior temperatura das águas, as
algas se reproduzem em excesso e são expulsas pelos corais, que perdem uma
importante fonte de alimento e sua coloração, deixando seu esqueleto branco
aparente através de seu fino tecido transparente.
De acordo com os estudos científicos no Brasil, a
maior parte dos corais brasileiros tem se recuperado bem desses eventos.
“Estamos observando os efeitos das mudanças globais perto da nossa realidade.
Elas são visíveis, não tem como negar. É importante ouvir a ciência nesse
momento. Existe a chance de reversão na questão do branqueamento, mas o que
está acontecendo é um sinal para ficarmos atentos à importância do cuidado com
o nosso planeta Terra, de maneira geral”, ressalta a gestora da Área de
Proteção Ambiental dos Recifes de Corais (APARC), Heloísa Brum.
A frequência e a severidade dos fenômenos de
branqueamento em massa têm aumentado nas últimas décadas, causando degradação
dos recifes em larga escala. De acordo com o professor da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN), especialista em corais e também conselheiro da
APARC, Guilherme Longo, a Grande Barreira de Corais na Austrália, por exemplo,
vive agora o seu terceiro evento de branqueamento em massa concentrados nos
últimos 5 anos. “Embora a gente escute mais sobre a Austrália, o fenômeno
também atinge os corais brasileiros desde a década de 90, porém com maior
intensidade na última década, de maneira especialmente intensa em 2010, 2016 e
2019. Agora em 2020, uma onda de calor marinha chegou ao nordeste do Brasil e
fez com que a temperatura da água do mar subisse em dois graus durante o mês de
março, causando branqueamento de corais em alguns pontos”, relata.
Segundo o professor Guilherme Longo, os primeiros
registros de branqueamento ocorridos este ano no litoral de Pernambuco e no Rio
Grande do Norte, chegaram através do projeto de monitoramento cidadão de corais
DeOlhoNosCorais, e embora o fenômeno esteja de fato intenso na APARC, ele não
se restringe à nossa região. “A onda de calor começa a perder força durante o
mês de abril e a temperatura deverá voltar ao normal até maio, permitindo uma
potencial recuperação. Por isso, se a situação de saúde pública nos permitir,
os monitoramentos devem continuar. Tão importante quanto documentar o
branqueamento é documentar a possível recuperação desses corais”, conclui.
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