Guilherme Venaglia, da CNN, em São Paulo
O Amazonas só registrou seu primeiro caso do novo coronavírus mais de 15 dias depois de a doença chegar ao Brasil, no final de fevereiro. No entanto, a evolução rápida da disseminação fez o estado da região norte alcançar um posto indesejável nesta quarta-feira (8): o de maior incidência proporcional da COVID-19 no país.
O Amazonas só registrou seu primeiro caso do novo coronavírus mais de 15 dias depois de a doença chegar ao Brasil, no final de fevereiro. No entanto, a evolução rápida da disseminação fez o estado da região norte alcançar um posto indesejável nesta quarta-feira (8): o de maior incidência proporcional da COVID-19 no país.
Segundo dados do Ministério da Saúde, o Amazonas
chegou a 19,1 casos da doença para cada 100.000 habitantes. Os casos no estado
aumentaram mais de 150% nos últimos quatro dias e alcançaram 804. São 30 mortes
confirmadas.
Em Brasília, o alerta para a situação amazonense soou
na sexta-feira (3), quando o governo estadual informou ao Ministério da Saúde
que havia ocupação de 90% dos leitos do Hospital Delphina Aziz, em Manaus, que
centraliza o atendimento dos pacientes na rede pública.
Como noticiou a CNN, o acontecido
sinalizou às autoridades federais que o estado poderia ser o
primeiro a enfrentar desabastecimento no atendimento.
Desde o início da crise, especialistas apontam que o
principal fator de ameaça do novo coronavírus, além das condições de risco, é a
elevada velocidade de disseminação da doença. Em países com o maior número de
mortes, o crescimento rápido esgotou a capacidade do sistema de saúde, situação
conhecida como “colapso”, e criou barreiras ao atendimento.
De acordo com autoridades dos diversos níveis de
governo, é esta a principal causa de preocupação com a situação do Amazonas.
Outro fator é a dispersão de população em uma grande área, em especial dos
indígenas.
Em entrevista à CNN na segunda-feira
(6), o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), disse que o sistema
de saúde da capital amazonense “já colapsou”. "Eu considero que o
sistema de saúde já colapsou. Não há UTIs [Unidades de Terapia Intensiva]
suficientes para atender a demanda. Não estamos vendo uma porta de saída. Eu
diria que, na parte privada, há exaustão”.
Medidas de contenção
Nesta quarta-feira (8), o governador do Amazonas,
Wilson Lima (PSC), decidiu trocar o comando da Secretaria de Saúde. Saiu
Rodrigo Tobias, pesquisador da Fiocruz, e assumiu a biomédica Simone Papaiz,
ex-secretária municipal de Saúde de Bertioga (SP).
Junto com a posse da nova secretária, o governador
anunciou a criação do programa Anjos da Saúde, equipe de profissionais que vai
monitorar a qualidade do atendimento de saúde e prestar atendimento
psicossocial.
Para conter o ritmo da expansão de casos, sobretudo em
Manaus, o governador Wilson Lima e o prefeito Arthur Virgílio anunciaram novas
medidas para reforçar o isolamento social.
No domingo, Virgílio assinou decreto em que permite
que seja cassado o alvará dos comerciais da capital amazonense que descumprirem
as regras de quarentena. “É preciso entender que esta não é a hora de ganhar
dinheiro. Essa é a hora de salvar vidas, a hora de ganhar dinheiro é na volta,
ela é essencial e ela volta depois”, disse, em vídeo nas redes sociais.
No sábado, em entrevista à CNN, o
governador do estado anunciou a proibição do transporte intermunicipal e
a intenção de criar regras para restringir o direito à circulação. Lima também
corre para reforçar a capacidade de atendimento do estado.
Na noite de terça-feira (7), o governador foi
pessoalmente ao aeroporto receber um carregamento de respiradores e falou sobre
a necessidade de conter a evolução dos casos hoje considerados de média
gravidade, para reduzir a demanda por leitos de UTI.
Wilson Lima disse ter procurado a Embaixada da China
para concluir compras de insumos feitas no país asiático, que concentra a
indústria dessa classe de insumos, disputados por governos locais e nacionais
do mundo inteiro. Após ver frustrada uma compra em negociação com os chineses,
o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), anunciou a conclusão
de um acordo para ampliar a produção nacional.
Indígenas
Em seus últimos pronunciamentos, ao comentar a
situação da região Norte, o ministro Luiz Henrique Mandetta tem enfatizado a
preocupação com a população indígena. Como têm menos contato com as principais
doenças infecciosas urbanas, os indígenas têm sistema imunológico considerado
mais vulnerável para o novo coronavírus.
Nesta quarta, se referiu a um jovem
de 15 anos, da tribo yanomami, que foi internado em Boa Vista (RR) com
a COVID-19. “Hoje tivemos um caso nos yanomami, o que muito nos preocupa. Há
uma preocupação do governo na saúde indígena. Estamos providenciando a retirada
de pessoas via helicóptero para poder levar a centros de atendimento de maior
complexidade”.
O ministro da Saúde afirmou que já estão fechados os
acessos às aldeias, mas que parte dos próprios indígenas acaba optando por sair
da reclusão e ir às cidades.
“Infelizmente, às vezes as próprias pessoas da
aldeia não querem [o isolamento]. Mas nós estamos com todas as equipes
trabalhando no sentido de ajudar.”

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