Há futuro
para os profissionais cubanos do Mais Médicos que queiram ficar no Brasil,
considera Osmany Garbey Charadan, de 37 anos. O médico chegou ao país na
primeira leva de profissionais do país caribenho, em 2013, casou-se com uma
brasileira anos depois e formou sua família no Rio Grande do Norte. A maior
preocupação dele, no entanto, é com o público atendido pelo programa. "O
maior prejudicado vai ser a população mais pobre. São oito mil médicos a
menos", comenta.
O Ministério
da Saúde de Cuba divulgou, nesta quarta-feira (14), a decisão de não fazer mais parte do programa
Mais Médicos porque mudanças anunciadas pelo novo governo
brasileiro descumpririam as garantias acordadas desde o início do projeto, há
cinco anos.
Osmany
chegou ao país logo após o lançamento do programa e deixou o Mais Médicos em
2016, quando se casou com a potiguar Merley Maria Charadan, de 23 anos. O casal
tem um filho de 1 ano e 9 meses. Desde então, revalidou o seu diploma, trabalha
no Programa Saúde da Família (PSF) no município de Serra de São Bento e faz
plantões na rede pública, em outras cidades potiguares. Atualmente, também faz
uma pós-graduação em Pernambuco.
"Não
sei quantos (médicos) vão ficar no Brasil. Depende dos projetos de cada um,
muitos têm filhos, família. Eu vim em uma situação diferente, era solteiro e
não pensava em ficar. Eu sabia que o programa não era para sempre. Mas conheci
minha esposa, me apaixonei", disse.
Dúvidas
Apesar de
não fazer mais parte do Mais Médicos, o profissional considera que as dúvidas
do governo quanto à formação dos cubanos não são válidas. Ele afirma que todos
os médicos têm formação de seis anos e mais dois anos de residência, com
especialidade em medicina familiar.
"O
presidente fala mal dos médicos cubanos, duvidam de nossa formação. Os 8 mil e
poucos médicos cubanos que estão ainda no programa todos são especialistas em
medicina familiar, com mais de 5 anos de experiência, e todos trabalharam em
algum momento fora de Cuba, têm experiência internacional", afirmou.
Ele também
considerou que todos os médicos se inscrevem no programa e vêm ao país sabendo
das condições salariais. "Ninguém vem enganado. Quem quer vir, vem. Quem
não quer, não vem, e não acontece nada", pontuou.
Sem cubanos
O Rio Grande do Norte poderá perder 142
profissionais se os médicos cubanos realmente deixarem o país.
Eles são pouco mais de metade dos 282 profissionais que atuam no estado e,
segundo a Secretaria Estadual de Saúde, estão distribuídos em 67 municípios
potiguares.
Para sanar a
deficiência de médicos na rede pública com a saída dos cubanos o Estado
pretende se articular com o Conselho dos Secretários Municipais de Saúde para
discutir quais estratégias serão criadas para cobrir esses vazios.
Em nota, o
Governo de Cuba afirmou que considera que a ideologia do presidente eleito do
Brasil em 2018, Jair Bolsonaro, ameaça a integridades dos profissionais
cubanos. E também não admite que o gestor questione a preparação dos médicos
para condicionar a permanência deles no programa.
Já o
presidente eleito Jair Bolsonaro afirmou, através de uma rede social, que o governo cubano não aceitou as
condições estabelecidas para manter o programa Mais Médicos.
“Condicionamos a continuidade do programa Mais Médicos à aplicação de teste de
capacidade, salário integral aos profissionais cubanos, hoje maior parte
destinados à ditadura, e a liberdade para trazerem suas famílias. Infelizmente,
Cuba não aceitou”, justificou.
"Tomara
que o desenlace dessa situação seja o melhor possível para o bem da população
pobre e necessitada", concluiu Osmany.
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