segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Opinião do Estadão: A fábula de Lula

 


Luiz Inácio Lula da Silva tem 80 anos e está em seu terceiro mandato presidencial. Logo, ninguém pode se dizer surpreso. Nunca houve razão para crer que Lula, mesmo com a idade avançada e a experiência, tivesse aprendido com seus inúmeros erros e pudesse ser um presidente melhor. Pelo contrário: como bom petista, Lula nunca erra. Por isso, insiste em projetos que já resultaram em imensos prejuízos para o País, na expectativa de que o resultado desta vez seja diferente.

Diz a sabedoria popular que isso é sinônimo de insanidade, mas Lula de louco não tem nada. Sua missão, desde que saiu da cadeia por uma canetada do Supremo Tribunal Federal, é reescrever a História, para que toda a saga de corrupção, desmandos e incompetência do PT no poder se transforme numa fábula de superação, prosperidade e justiça contra todos os que, na visão de Lula, sabotaram o Brasil ao se opor aos petistas.

Tome-se o exemplo da Petrobras. Há poucos dias, em cerimônia para o anúncio de obras de ampliação da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, Lula declarou que, durante muitos anos, dizia-se que aquele projeto era desnecessário. Segundo sua versão, seus adversários afirmavam que “a Petrobras não precisava de uma nova refinaria” e que “isso aqui era um processo de corrupção que envolvia a Petrobras, governo e empreiteiros”. E completou: “E muitos de vocês acreditaram, porque a imprensa falava disso de manhã, de tarde e de noite”.

Ou seja, Lula quer fazer o País acreditar que a Petrobras não foi tomada de assalto por uma quadrilha de corruptos ao longo dos governos petistas. Foi explícito: “Eles conseguiram criar como se fosse uma peste nas pessoas da Petrobras dizendo que havia corrupção. E a História vai provar que quem queria fazer a corrupção eram aqueles que diziam que tinha corrupção na Petrobras”.

O problema da versão de Lula é que ela não corresponde aos fatos, amplamente documentados. Do extenso cardápio de exemplos, tomemos o caso da própria Refinaria Abreu e Lima. Há exatos 20 anos, no lançamento da pedra fundamental da refinaria, Lula estava eufórico: a obra seria o símbolo da sociedade entre o Brasil petista e a Venezuela chavista, no escopo do “socialismo do século 21” então em voga na América Latina. O caudilho Hugo Chávez prometeu colocar o dinheiro da PDVSA, a estatal de petróleo venezuelana, no negócio, mas não pôs um único bolívar na refinaria, deixando todo o custo galopante para a Petrobras.

Não foi por falta de aviso. Na “sociedade” para a construção da refinaria, como alertou na ocasião o Tribunal de Contas da União, as responsabilidades da PDVSA nunca ficaram estabelecidas, ainda que o objetivo fosse refinar também o petróleo venezuelano – que, por ser de baixa qualidade, encareceu ainda mais o empreendimento. A escalada do custo foi brutal: orçada inicialmente entre US$ 2,3 bilhões e US$ 2,5 bilhões (ao câmbio atual, entre R$ 12,2 bilhões e R$ 13,3 bilhões), a obra consumiu cerca de US$ 18,5 bilhões (que hoje correspondem a mais de R$ 98 bilhões) e chegou a ser citada como a refinaria mais cara do mundo. Agora, para duplicar a capacidade, sugará mais R$ 12 bilhões, conforme a estimativa original.

São gastos que não se justificavam na época, a não ser como parte do projeto político de Lula e Chávez de usar as estatais de petróleo como poderosas alavancas populistas. Na Venezuela, como se sabe, o chavismo exauriu a PDVSA. No Brasil, felizmente, o governo petista caiu antes de destruir completamente a Petrobras, que se tornara então a empresa de petróleo mais endividada do mundo. Sob direção mais racional, a estatal reviu investimentos absurdos e saneou seu balanço.

Mas, para azar do Brasil, Lula voltou ao poder e está mais determinado do que nunca em converter a Petrobras em financiadora de sua megalomania demagógica. Já sabemos como isso acaba. A corrupção na Petrobras na época do petrolão não foi a causa da derrocada da empresa, mas a consequência lógica do gigantismo de projetos sem sentido, que criaram um oceano de oportunidades para a rapinagem. Preferir a versão de Lula aos fatos não é muito inteligente.

Opinião do Estadão

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

TANGARAENSE - Inscrições para Concurso da Caixa acabam hoje; veja como participar

  As inscrições para o novo concurso público da Caixa Econômica Federal, voltado para cargos de carreira profissional de nível superior, ter...