Pela primeira vez desde que a Operação Amicis veio a
público, o empresário Marcelo Spirydes Cunha, proprietário da marca Schalk e
apontado pela polícia como uma figura central no esquema que teria fraudado
mais de R$ 15 milhões, quebrou o silêncio. Em entrevista exclusiva, Spirydes,
que não foi indiciado no relatório parcial da investigação, se apresenta como
vítima de um golpe que manchou sua marca de 27 anos e dá sua versão para as
principais evidências que o colocaram no epicentro da investigação, incluindo a
apreensão de 596 cheques em sua residência – o estopim da operação. Com
informações do Blog do Dina.
Marcelo, por sua vez, se defende. Ele afirma que seu
silêncio até agora foi uma orientação de seus advogados. “A polícia fica
calada. Sério? Uhum. Sabe por quê? Vou lhe explicar. O meu advogado chegou para
mim e disse assim, tudo o que você falar lá, primeiro que eu fico muito nervoso
assim, eu nunca passei por um negócio desse”, declarou.
O “Museu” de cheques e a prática
comercial
A principal evidência que liga Marcelo Spirydes ao
caso são os 596 cheques apreendidos em sua casa. Para a polícia, trata-se de um
indicativo de lavagem de dinheiro. Para Marcelo, é um “museu” de maus negócios
acumulados ao longo de quase três décadas.
“Todos os cheques que voltaram, que numa carreira de
20 anos, 27 anos, eles estão todos guardados. O meu primeiro cheque que voltou
em 2000, vamos dizer assim, em 2005, estava lá na minha casa. Estava lá,
guardado. Você entendeu? Quase um museu”, explica o empresário.
Ele descreve o recebimento de cheques pré-datados
como uma prática comercial corriqueira em seu ramo, usada para viabilizar as
compras de franqueados sem capital de giro ou acesso a crédito. “A ideia de eu
recebia cheques é porque o franqueado, ele não tem o crédito pra comprar, ele
não tem um cartão de crédito com o valor que ele vai querer comprar e ele passa
um cheque, pré-datado”, afirma. Segundo ele, esses cheques eram então
negociados com uma empresa de factoring para antecipar os recebíveis.
A franqueada que virou chefe
Se ele é vítima, quem são os culpados? Spirydes
evita citar diretamente João Eduardo Costa de Souza e Layana Soares da Costa,
ambos indiciados como líderes do esquema. Ele os descreve como “meus
franqueados” e afirma que só os conhece há cerca de quatro ou cinco anos.
Ele atribui a Layana a gestão completa das
principais operações alvo da polícia. “Quando abriram a empresa, quem sempre
ficou à frente da administração da empresa é a Laiana. Ela sempre me comprou.
Ela que comprava, ela que vendia, ela que escolhia, ela dava a cara e ela não
nega”, diz. A declaração, que busca isentá-lo, paradoxalmente reforça a tese da
polícia sobre o papel de liderança de Layana.
A BMW e a desconfiança tardia
Marcelo Spirydes alega que a desconfiança só surgiu
quando os cheques começaram a voltar com mais frequência e, principalmente,
quando recebeu uma BMW como parte de um pagamento de dívida.
“Foi onde eu, quando eu comecei a desconfiar das
coisas erradas, foi quando eu recebi o carro”, relata. O veículo, avaliado em
R$ 150 mil, teria sido usado para quitar uma dívida de R$ 90 mil, mas veio com
R$ 20 mil em multas e IPVA atrasados, que ele afirma ter pago. O carro foi
apreendido pela polícia antes que ele conseguisse transferi-lo para seu nome.
A narrativa, no entanto, levanta questões. Se a
desconfiança era crescente, por que ele continuou a fazer negócios e por que aceitou
um veículo com pendências como forma de pagamento?
Contradições e pontos cegos
A versão de Marcelo Spirydes se choca com várias
evidências dos autos. Ele nega conhecer o contador José Ildo Pereira, indiciado
no esquema, mas descreve a presença de um contador desconhecido no dia em que
ele, João Eduardo e Layana foram colocar tornozeleiras eletrônicas.
Ele também minimiza sua relação com os líderes do
esquema, tratando-os como franqueados recentes. Contudo, os autos indicam que
Spirydes atuou como fiador para a J K de Moura, uma das principais empresas de
fachada do grupo, um ato que pressupõe um grau de confiança que vai além de uma
simples relação comercial.
Sobre a acusação de sonegação fiscal de sua empresa
GO Comércio, ele nega o crime. “Não existe a sonegação (…) foi imposto
declarado e não pago”, afirma, confirmando uma dívida de R$ 136 mil que,
segundo ele, está sendo paga em parcelas.
O futuro da investigação
Confiante, Marcelo Spirydes acredita que será
inocentado. “Eu acho que se a polícia for um pouquinho inteligente, só um
pouquinho, ela vai ver que eu não tenho nenhuma ligação em relação a isso.
Nada”, aposta. Ele se vê como uma vítima cuja marca foi manchada por pessoas
que se aproveitaram de sua estrutura.
Enquanto isso, a Polícia Civil segue com a
investigação. O relatório parcial é apenas o primeiro capítulo de uma história
que ainda tem muitas pontas soltas. A versão de Marcelo Spirydes adiciona uma
nova e complexa camada à trama, mas apenas a conclusão do inquérito poderá
determinar se ele é a vítima que alega ser ou uma peça-chave no elaborado
esquema da Operação Amicis.

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