O Rio Grande do Norte chega ao fim de 2025 sob um
cenário político marcado por incertezas que vão além do calendário eleitoral e
atingem diretamente o funcionamento das instituições estaduais. A combinação
entre a anunciada renúncia da governadora Fátima Bezerra (PT), prevista para
abril de 2026, e a indefinição do vice-governador Walter Alves (MDB) sobre
assumir o cargo abriu espaço para uma sucessão incomum e sem precedentes
recentes na política potiguar.
Até poucos meses atrás, a transição no comando do
Executivo estadual era tratada como um processo natural. Com a saída de Fátima
Bezerra para disputar uma vaga no Senado, caberia a Walter Alves assumir o
governo e conduzir o Estado até o fim do mandato, em dezembro de 2026. Esse
roteiro era visto como parte do acordo político que sustentou a atual gestão e
garantiu estabilidade institucional ao longo do segundo mandato da governadora.
O cenário começou a mudar com declarações recentes
do próprio vice-governador, nas quais ele admitiu a possibilidade de não
assumir o Executivo e disputar uma vaga de deputado estadual. A fala alterou o
eixo do debate político e trouxe à tona um quadro mais complexo, que passou a
envolver não apenas cálculos eleitorais, mas também riscos institucionais para
o Estado.
Caso se confirmem a renúncia da governadora e a
recusa do vice em assumir o cargo, o RN pode enfrentar uma situação rara: a
vacância simultânea dos cargos de governador e vice-governador. Pela legislação
vigente, a sucessão recairia inicialmente sobre o presidente da Assembleia
Legislativa, deputado Ezequiel Ferreira (PSDB). No entanto, o parlamentar já
sinalizou que não tem interesse em ocupar o cargo, já que a posse o tornaria
inelegível nas eleições de 2026.
Com uma eventual recusa de Ezequiel, a
responsabilidade passaria ao presidente do Tribunal de Justiça do RN (TJRN),
desembargador Ibanez Monteiro. Com isso, o Estado poderia ser levado a uma
eleição indireta na Assembleia Legislativa para a escolha de um governador que
cumpriria um mandato-tampão até o fim do período. É uma situação rara no RN,
que retira do eleitor a escolha direta e transfere a decisão para a Assembleia
Legislativa.
Esse risco institucional é um dos fatores que elevam
a tensão política neste fim de ano. Parlamentares, lideranças partidárias e
integrantes do governo avaliam que a indefinição prolongada compromete a
previsibilidade administrativa e fragiliza o ambiente político. O receio é
ainda maior em um Estado que enfrenta dificuldades fiscais, depende de
estabilidade para conduzir políticas públicas e precisa manter negociações
financeiras em andamento.
Além do aspecto jurídico, o impasse também expõe
fissuras na base aliada do governo. A aliança entre PT e MDB, que sustentou a
gestão Fátima Bezerra e garantiu espaços estratégicos ao partido de Walter
Alves, passou a ser publicamente tensionada. Declarações de aliados e
adversários políticos indicam a possibilidade de novos arranjos para 2026, o
que ampliou o clima de incerteza.
Parlamentares do PT passaram a cobrar um
posicionamento mais claro do vice-governador. O argumento é de que acordos
políticos firmados anteriormente não podem ser substituídos por indefinições ou
anúncios indiretos. Nos bastidores, a avaliação é de que a falta de clareza
prejudica tanto o planejamento administrativo quanto a organização eleitoral da
base governista.
Nesse contexto, a sucessão estadual deixou de ser
apenas uma disputa por nomes e passou a envolver o funcionamento das instituições.
A possibilidade de uma eleição indireta, ainda que prevista em lei, levanta
questionamentos sobre legitimidade política, governabilidade e o impacto de um
mandato-tampão em pleno ano eleitoral. Ao encerrar 2025, o RN se vê diante de
uma encruzilhada: preservar a previsibilidade institucional ou ingressar em um
processo sucessório marcado por soluções excepcionais.
Renúncia de Fátima aciona efeito dominó
na sucessão estadual
A decisão da governadora Fátima Bezerra de renunciar
ao cargo em abril de 2026, para disputar o Senado, tornou-se o ponto inicial de
uma reação em cadeia que reorganizou o tabuleiro político do Estado. O
movimento, esperado dentro do calendário eleitoral, ganhou contornos mais
delicados diante da possibilidade de o vice-governador não assumir o Executivo.
A renúncia impacta diretamente a base governista, os
planos do PT para 2026 e a própria estratégia de continuidade administrativa.
Nos bastidores, chegou-se a especular que a indefinição de Walter Alves poderia
levar Fátima Bezerra a rever sua decisão e concluir o mandato. A hipótese é
considerada remota, mas ajuda a dimensionar o grau de incerteza instalado no
cenário político estadual.
Entre o governo e as urnas, o cálculo
eleitoral de Walter Alves
Ao admitir publicamente que pode não assumir o
governo do Estado e disputar uma vaga na Assembleia Legislativa, Walter Alves
reposicionou sua estratégia para 2026. O vice-governador passou a tratar a
sucessão não apenas como um dever institucional, mas como uma decisão ligada ao
fortalecimento do MDB no processo eleitoral.
A movimentação envolve a construção de uma nominata
competitiva para deputado estadual e a avaliação de alianças para o governo,
incluindo uma possível aproximação com o prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra
(União Brasil). Além do cálculo político, pesa na decisão o cenário fiscal do
Estado, marcado por déficit elevado e limitações orçamentárias.
Ao fim de 2025, Walter Alves se consolida como peça
central de um xadrez político que pode redefinir tanto o comando do governo
quanto o equilíbrio de forças para as eleições de 2026.
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