segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

‘Espião’ no PT informa para aliados de Motta que Lindbergh convoca milícia digital contra ele

 


O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), passou os últimos dias inconformado. Não com a pressão de aliados de Jair Bolsonaro para votar o projeto de anistia ao ex-presidente, que está preso, e muito menos com as críticas do governo Lula. A revolta de Motta é com o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ) que, na sua avaliação, faz dobradinha com Sóstenes Cavalcante (RJ), o comandante da bancada do PL.

Há pouco menos de duas semanas, um “espião” petista repassou a assessores de Motta uma informação que pôs ainda mais lenha na fogueira. Segundo relatos que chegaram à cúpula da Câmara, Lindbergh propôs, durante recente reunião com integrantes da bancada do PT, uma forte campanha contra Motta nas redes sociais.

O “informante”, que estava naquela reunião, teve o nome mantido em segredo por auxiliares do presidente da Câmara. De acordo com esses aliados, ele contou que, 24 horas após o plenário aprovar o projeto de lei antifacção – com várias mudanças em relação ao texto original do governo –, Lindbergh e outros petistas traçaram um plano de ataque.

A ordem era detonar Motta nas redes sociais, com a ajuda de influenciadores que apoiam o governo Lula. No último dia 19, depois que a fuga do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) para os Estados Unidos foi descoberta, tudo piorou e Motta virou alvo de milícias digitais. A exemplo de Bolsonaro, Ramagem foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na trama golpista.

No X, influenciadores ligados ao PT escreveram que o presidente da Câmara era cúmplice da “bandidagem bolsonarista”.

“Eu acho que o presidente da Câmara precisa ter maturidade na relação política e institucional, e não ficar atrás de ‘ouvi dizer isso, ouvi dizer aquilo’, até porque isso é mentira”, afirmou Lindbergh ao Estadão. Motta não respondeu.

A relação do Palácio do Planalto com o Congresso está em pé de guerra por temas variados: de queixas sobre falta de pagamento de emendas à derrubada de vetos presidenciais no projeto que afrouxa o licenciamento ambiental, passando pelo descontentamento com a indicação de ministro do STF.

No meio desse imbróglio, Lindbergh pareceu não ligar para o fato de Motta anunciar publicamente o rompimento com ele.

“Eu ficaria preocupado, sim, se a Gleisi tivesse rompido comigo”, amenizou ele, numa referência à ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, com quem é casado. “Hugo Motta tem que colocar a mão na consciência e ver o que causa essa rusga com a militância do PT e com o governo. Por acaso ele queria que eu, como líder do PT, ficasse calado diante da escolha de Guilherme Derrite para relator do projeto de lei antifacção?”, perguntou Lindbergh.

A estocada era ao secretário de Segurança do governo de São Paulo, comandado por Tarcísio de Freitas, visto como adversário do presidente Lula nas eleições de 2026. Derrite está de saída do cargo.

Sóstenes, por sua vez, irritou Motta por insistir em emplacar um destaque no projeto, com o objetivo de equiparar organizações criminosas a terroristas. A duras penas, o presidente da Câmara já havia negociado a retirada desse trecho da proposta e ficou furioso com a intervenção do deputado do PL. “Nenhum destaque que faça equiparação vai passar nessa Casa”, avisou.

Em conversas reservadas, Motta tem observado que Lindbergh e Sóstenes combinam o jogo com ele e, depois, para ficar bem na foto, partem para o ataque diante das câmeras de TV, no plenário e nas mídias digitais.

“Há um princípio bíblico que diz: ‘A boca fala do que o coração está cheio’”, filosofou Sóstenes. Para o líder do PL, Motta tem ciúme de sua amizade com Lindbergh. “Esse clima de animosidade não é bom. Se eu puder fazer algo para acalmar os ânimos, farei”, resumiu.

Ex-presidente da Frente Parlamentar Evangélica, Sóstenes é bolsonarista roxo, mas já foi filiado ao PT. Quando jovem, era daqueles de andar com estrelinha vermelha no peito e distribuir panfletos do partido nas ruas. Foi nessa época que conheceu Lindbergh.

O líder do PT era presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). “Fomos caras-pintadas juntos”, lembrou Sóstenes, que, anos depois, quando Lindbergh ocupou uma cadeira no Senado, trabalhou com ele.

 “Hoje, cada um de nós tem posições políticas totalmente opostas, mas eu não vou brigar com um amigo”, insistiu o deputado do PL.

Diante dos holofotes, porém, não é o que parece: na tribuna da Câmara, Sóstenes defende Bolsonaro com unhas e dentes e vocifera contra Lula; Lindbergh, na outra ponta, comanda a mais aguerrida oposição ao ex-presidente.

Agora, por exemplo, o líder petista diz que está se formando uma “bancada de foragidos” na Câmara, com Ramagem e Carla Zambelli condenados pela Justiça e vivendo fora do País – sem perder o mandato –, além de Eduardo Bolsonaro. Os três são do PL, partido capitaneado por Sóstenes na Câmara.

No Salão Verde da Câmara, no entanto, os líderes do PT e do PL são só sorrisos depois que as luzes se apagam. E isso não é de hoje.

“Eu, se fosse você, não ficava criticando governador, não, meu irmãozinho”, disse Sóstenes para Lindbergh após a operação policial deflagrada há um mês, no Rio, contra o Comando Vermelho. “Eu quero que você erre, mas não está na hora de ganhar politicamente”, completou ele, ajeitando a gravata do colega.

O petista não se deu por vencido. “Estou com saudade de vocês aqui pedindo anistia. Cadê?”, ironizou Lindbergh. Com celular em punho, caminhou apressado em direção à saída, quando, de repente, resolveu voltar para dar um recado a Sóstenes. “Não solte a mão do capitão!”, gritou o petista, em tom de revanche. E foi embora.

Estadão

 

 

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