domingo, 26 de outubro de 2025

Psoríase afeta cerca de 1,5% dos brasileiros, comprometendo a pele e a autoestima dos pacientes

 


Tádzio França
Repórter

A psoríase é uma inflamação crônica metabólica que acomete pele, articulações e, segundo os dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia, afeta atualmente 1,5% dos brasileiros. Apesar de não ser contagiosa, suas lesões costumam causar preconceito e abalar a autoestima do portador. Outubro é o mês que marca o Dia Mundial da Psoríase, 29/10, ocasião que busca ampliar a conscientização sobre a doença, orientar a população quanto aos tratamentos adequados e reduzir o estigma social.

A doença se caracteriza por placas espessas e avermelhadas na pele, recobertas por escamas esbranquiçadas ou prateadas, que podem causar coceira, dor e sensação de queimação. A psoríase também pode ir além da pele, acometendo articulações e órgãos internos. O desconhecimento ainda permite que sejam difundidas uma série de inverdades sobre a psoríase, o que pode atrasar o diagnóstico e o tratamento do paciente.

“A maior causa da persistência do estigma e do preconceito é o desconhecimento geral sobre essa doença”, afirma Emanuela Menezes, dermatologista do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL). Segundo ela, a falta de informação faz com que as pessoas associem as lesões visíveis a mitos e concepções erradas, gerando repulsa e medo. “Muitos acham que é uma doença contagiosa; os próprios pacientes têm vergonha da doença devido à aparência das lesões. Há ainda o impacto na autoestima”, diz.

A dermatologista explica que qualquer pessoa em qualquer idade pode ser acometida pela doença. Não há um perfil fixo, mas a psoríase está associada a fatores genéticos, imunológicos e ambientais. Entre eles, o histórico familiar, já que ter um parente próximo com psoríase aumenta o risco de desenvolvê-la; ter doenças autoimunes, e alguns transtornos relacionados ao estilo de vida, como tabagismo, consumo excessivo de álcool, obesidade e estresse.

A doença também apresenta dois picos de incidência, conforme Emanuela. O primeiro entre 15 e 30 anos de idade, sendo a manifestação mais comum e geralmente associada a um histórico familiar da doença. O segundo pico ocorre entre os 50 e 60 anos de idade. “É importante ressaltar que a psoríase é uma doença complexa e multifatorial, e muitos desenvolvem a condição sem um histórico familiar claro ou sem a presença de fatores de risco óbvios”, completa.

Vários fatores podem desencadear ou agravar os sintomas em pessoas com predisposição. Esses fatores variam de uma pessoa para outra, mas há gatilhos comuns que incluem: estresse emocional; o uso de álcool, mesmo em pequenas quantidades, pode piorar os sintomas da psoríase; o tabagismo também está ligado à prevalência e à gravidade da doença, podendo desencadear crises.

Outros gatilhos, segundo a dermatologista, incluem lesões na pele (cortes, arranhões, picadas de inseto ou queimaduras solares); infecções no geral; uso de alguns tipos de medicamentos; algumas doenças crônicas (diabetes não controlado); mudanças hormonais (puberdade, gravidez e menopausa), entre outros. “Identificar os gatilhos pessoais e aprender a controlá-los pode ajudar a gerenciar a psoríase e reduzir a frequência dos surtos”, ressalta.

Artrite

Além da pele, a psoríase também pode afetar as articulações. A condição é chamada de artrite psoriástica, um tipo de espondiloartrite causada pela inflamação crônica do sistema imunológico, que ataca as articulações e tendões. Os sintomas comuns incluem dor, inchaço, rigidez articular, especialmente pela manhã, e dificuldade de locomoção. “A artrite psoriásica pode afetar articulações como joelhos, cotovelos, quadris, dedos e coluna, variando de leve a grave, e causando danos permanentes nas articulações se não for tratada adequadamente”, diz.

Emanuela ressalta que algumas condições oferecem risco maior de desenvolver artrite psoriástica, como psoríase, de moderada a grave, envolvimento de couro cabeludo, região interglúcea e/ou perianal, além de alterações nas unhas. “É de extrema importância que os indivíduos com psoríase sejam investigados quanto a dores nas articulações, pois podem ser um sinal inicial de artrite psoriásica. Nesses casos, é fundamental o acompanhamento com reumatologista. O diagnóstico e tratamento adequados ajudam a controlar os sintomas, prevenir danos permanentes e melhorar a qualidade de vida”, afirma.

O tratamento da psoríase objetiva controlar a inflamação, reduzir as lesões e aliviar os sintomas. Geralmente são indicados medicamentos tópicos nas formas leves, como pomadas e cremes com corticóides ou derivados de vitamina D; nas mais graves são associados terapias sistêmicas com medicamentos orais, fototerapia, e, mais recentemente, os imunobiológicos.

Segundo a dermatologista, os novos tratamentos miram nas vias inflamatórias específicas da doença, proporcionando resultados superiores, maior comodidade e maior qualidade de vida aos pacientes. “Várias opções estão disponíveis na rede privada e no SUS, e a escolha depende de vários fatores como idade, comorbidades e uso de outros medicamentos, entre outros”, explica.

Sentir na pele

O fisioterapeuta Sadote Macedo estava em um momento chave da vida, em 2012, quando as primeiras “placas” apareceram. “Estava me mudando do interior para estudar em Natal, muita ansiedade e estresse envolvidos. Então a psoríase aflorou”, diz. Ele foi diagnosticado e encaminhado para tratamento no hospital universitário. Sadote conta que chegou a ter de 80 a 90% do corpo ocupado pela doença. “Além de ser incômodo e doloroso, ainda tinha a questão da autoestima baixa e do preconceito das pessoas”, ressalta.

Sadote passou sete anos usando uma medicação pouco eficiente e que causava reações diversas nele, como náuseas. Ele se adaptou melhor com os medicamentos imunobiológicos, que usa desde 2023. “Agora não tenho mais placas aparentes, consigo ir à praia sem camisa, minha qualidade de vida melhorou bastante”, diz. Ele enfatiza que o pior aspecto da doença é o preconceito que vem da desinformação. “É algo grave, até mesmo entre pessoas esclarecidas. Fui obrigado a militar pela causa e informar as pessoas à minha volta”, conclui.

 

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