A cada três dias, em média, um jovem é internado no
Rio Grande do Norte por infarto agudo do miocárdio. Dados do Sistema de
Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), do Ministério da Saúde, apontam que
102 pessoas com até 39 anos precisaram de atendimento hospitalar por infarto em
2024 – uma média de uma internação a cada três dias e meio.
O levantamento revela que, entre 2015 e agosto de
2025, foram registradas 870 internações por infarto nessa faixa etária no
estado. O pico ocorreu em 2021, com 105 casos, seguido de 2024 e 2023, com 102
e 99 registros, respectivamente. Mesmo com dados parciais, 2025 já contabiliza
77 internações até agosto.
O infarto agudo do miocárdio, conhecido popularmente
como ataque cardíaco, é causado pela interrupção do fluxo sanguíneo que irriga
o coração, podendo levar à morte se não houver atendimento rápido.
Embora seja mais comum em pessoas acima dos 50 anos,
o aumento entre os jovens preocupa especialistas. Fatores como estresse,
sedentarismo, tabagismo, uso de drogas, esteroides anabolizantes e consumo de
alimentos ultraprocessados estão entre as principais causas.
Os números reforçam a necessidade de atenção à saúde
cardiovascular ainda na juventude. A adoção de hábitos saudáveis, a prática
regular de exercícios físicos e o acompanhamento médico são medidas essenciais
para reduzir o risco de complicações cardíacas.
Jovens estão infartando mais por causa do estilo de
vida
Os jovens estão infartando mais por causa do estilo
de vida. É o que aponta a cardiologista Carla Karini, presidente da Sociedade
Brasileira de Cardiologia no Rio Grande do Norte (SBC-RN). Segundo ela, embora
a maior parte dos casos de infarto ainda ocorra em pessoas acima de 50 anos, há
um aumento perceptível entre os mais jovens – tendência associada a hábitos
nocivos que começam cedo.
“São jovens que, desde a infância e adolescência,
vêm com obesidade, sedentarismo, estresse e ansiedade. Esses fatores se somam e
terminam levando ao infarto”, disse ela, em entrevista ao AGORA RN. De acordo
com a cardiologista, o problema é multifatorial, mas a raiz está, sobretudo, no
comportamento.
A médica chama atenção para um fator silencioso: o
desconhecimento sobre as próprias condições de saúde. “Muitos desenvolvem
colesterol alto e nem sabem. Estamos chamando atenção para a pressão acima de
12 por 8. Essa parcela da população precisa de intervenção precoce no estilo de
vida”.
‘Pandemia de obesidade’ e cigarro eletrônico agravam
riscos
mportamento cotidiano tem grande influência. “Os
jovens estão fumando mais, não cigarro convencional, mas cigarro eletrônico,
que passa uma aparência de ser menos nocivo, mas não é. Eles são tão nocivos
quanto, ou piores”, explicou. “Tudo é muito fácil: você pede comida em casa,
assiste filme em casa, e isso faz com que os jovens fiquem mais sedentários e
se alimentem pior”.
“A alimentação, o sedentarismo, o fumo e o álcool –
que é extremamente calórico e danoso para o coração – se somam. Vivemos uma
‘pandemia de obesidade’, aumento no uso de cigarros eletrônicos, anabolizantes
e testosterona. Tudo isso está fazendo com que essa população infarte antes dos
40 anos”.
A médica cardiologista elencou ainda outros fatores
que podem impulsionar infartos. “Nos idosos, o infarto é mais comum pela
formação de placas de gordura dentro dos vasos. Já os jovens podem infartar por
outras causas, como o uso de cocaína, que provoca espasmo coronariano, ou
doenças autoimunes, que causam inflamações nas artérias. Mulheres jovens também
podem infartar por dissecção espontânea de artérias coronárias”, detalhou.
Prevenção
Para prevenir, a presidente da SBC-RN reforça a
importância da avaliação precoce e do autoconhecimento sobre os fatores de
risco. “Quem tem histórico familiar de infarto deve ser acompanhado desde a
infância. Conheça seus números: veja sua pressão arterial, controle o peso, o
colesterol, a glicose e observe o histórico da família. E, se for usuário de
drogas, a atenção deve ser ainda maior”, alertou.
A médica também comenta a recente atualização das
diretrizes sobre hipertensão, divulgada no Congresso Brasileiro de Cardiologia.
“A partir de 12 por 8, o paciente é classificado
como pré-hipertenso. A ideia é intervir precocemente nos que têm maior risco
para desenvolver hipertensão, infarto e AVC”, frisou. “Isso não significa que
ele vá usar medicação, mas que precisa mudar o estilo de vida. Sair do
sedentarismo, reduzir o peso e controlar os fatores de risco”.
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