A situação da Cúpula do Clima das Nações Unidas
(COP-30) em Belém “pode se transformar em caos” se demorar a resposta para
garantir hospedagem acessível aos participantes. Isso é o que Evans Njewa,
presidente do LDC (sigla em inglês para Nações Menos Desenvolvidos), grupo que
sugeriu tirar a conferência do Pará em carta na semana passada.
No documento, 29 delegações de países criticam os
altos preços de hotéis e quartos de aluguel, além da dificuldade de hospedagens
com condição adequada. O presidente da COP, embaixador André Corrêa do Lago,
admitiu preços 15 vezes acima do que o normal.
Apesar das promessas de solução pelo Brasil, Njewa
reclama, em entrevista ao Estadão, sobre não ter “todas as respostas” para o
impasse. Os países terão reuniões com o Brasil para discutir a crise - a
próxima deve ocorrer na segunda-feira, 11.
Procurada, a Secretaria Extraordinária da COP diz
que o plano de acomodação está sendo implementado em fases - no primeiro
momento, a oferta é de de 2,5 mil quartos com valores fixadas de US$ 100 a US$
600.
O LDC representa 44 nações designadas pela ONU como
menos desenvolvidas, a maioria delas do continente africano, mas também há
países da Ásia, Caribe e ilhas do Pacífico. Njewa também é representante de
meio ambiente e clima do governo do Malawi.
O custo elevado da viagem pode levar países - tanto
ricos quanto pobres - a reduzir sua participação. A Áustria anunciou nessa
semana que o presidente Alexander Van der Bellen não vai participar do evento
climático.
Países pobres tiveram menor contribuição histórica
para o aquecimento global, mas são os que mais sofrem com impactos da alta de
temperatura, como eventos climáticos extremos. Por isso, a participação deles
nas negociações é vista como essencial.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou
a agenda ambiental como uma das prioridades de sua gestão e negociou para
sediar a COP na Amazônia. Agora, porém, vê risco de vexame diante da crise
logística.
Leia
a entrevista na íntegra abaixo.
Se os preços de hospedagem para a COP em Belém forem
mantidos, podem inviabilizar a participação dos países menos desenvolvidos?
Transmitimos nossas preocupações em relação aos
desafios de hospedagem ao presidente designado da COP-30 (Corrêa do
Lago) e recebemos garantias das autoridades brasileiras de melhores
arranjos de hospedagem serão assegurados para os delegados dos Países Menos
Desenvolvidos.
Confiamos que esses compromissos serão honrados
integralmente, pois é crucial que nossos representantes não sejam excluídos das
negociações devido a desafios logísticos ou de hospedagem. A participação plena
e equitativa deve ser garantida.
Teremos algumas reuniões nas próximas semanas onde
parte do feedback deles e outras questões se tornarão mais claras.
O que essa possível ausência na cúpula significaria
para a primeira COP em um país em desenvolvimento em vários anos?
A maioria dos países menos desenvolvidos não tem
capacidade financeira para cobrir os altos custos de hospedagem de suas
delegações.
Parceiros de desenvolvimento (como ONGs e
agências multilaterais) também têm restrições orçamentárias e não
conseguem arcar com essas despesas. A situação atual coloca pressão excessiva
em todos os lados e corre o risco de limitar a participação dos países
menos desenvolvidos em negociações críticas.
Qual é o sentimento atual do grupo em relação a essa
situação?
Estamos inundados com solicitações urgentes de
nossos membros e grupos de jovens, todos buscando desesperadamente por apoio e
orientação sobre como garantir hospedagem acessível. No momento,
nós simplesmente não temos todas as respostas. Se a ação demorar, a
situação pode se tornar em caos.
A perspectiva de muitos do nosso grupo sendo
deixados de fora da COP-30 devido aos obstáculos logísticos seria não apenas
lamentável—seria uma falha séria de inclusão e justiça.
Quais são as expectativas sobre o resultado da
carta?
Que as nossas preocupações sejam tratadas.
Estadão
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