A expansão do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
(Samu 192) no Rio Grande do Norte, com a chegada de novas ambulâncias via PAC
do Governo Federal, reacendeu um impasse entre o Governo do Estado e municípios
potiguares. Os gestores municipais criticam os moldes do cofinanciamento
sugerido pela Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) e afirmam que os
municípios não podem assumir uma conta que, segundo eles, cabe ao Estado.
“O Estado quis que o serviço fosse estadual.
Assinamos uma pactuação dizendo que o Samu do RN seria de responsabilidade estadual.
E agora, porque a conta chegou, é para os municípios pagarem?”, afirmou Maria
Eliza Soares, que é secretária de Saúde de Doutor Severiano, no Alto Oeste
potiguar, e atual presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do
RN (Cosems-RN).
De acordo com o Cosems, a expansão do Samu no RN
prevê a distribuição de 35 novas ambulâncias, sendo 25 para ampliação do
serviço e 10 para reposição de viaturas antigas. A proposta estadual prevê que
os municípios passem a arcar com 60% do custo operacional das novas bases,
enquanto o Estado ficaria com os 40% restantes. Segundo Maria Eliza, o valor
total da despesa extra estimada é de R$ 9 milhões por mês. Atualmente, o Samu
RN abrange 165 municípios do RN, que são atendidos a partir de bases
estratégias. Apenas duas cidades ficam fora: Natal e Mossoró, que possuem
estruturas próprias do Samu.
“A gente não aceita os moldes como está o desenho. O
Estado quer expandir e a gente reconhece a importância, mas a proposta onera
demais os municípios. E nós já estamos pagando uma conta maior do que o ente
Estado”, pontuou a gestora, em entrevista ao AGORA RN.
Ela explica que, atualmente, os municípios já
contribuem com a manutenção das bases, com cessão de pessoal e estrutura em
cidades-polo. Como exemplo, citou a base de Pau dos Ferros, bancada pela
prefeitura local e pelos municípios pactuados, que fornecem equipes de
condutores e enfermagem. Doutor Severiano é uma das cidades beneficiadas pela
base de Pau dos Ferros.
Outro ponto criticado pelo Cosems é o desequilíbrio
territorial na distribuição das unidades de suporte avançado (USA) e básico
(USB). Enquanto a região de Mossoró, com 14 municípios, deve receber quatro
unidades de suporte avançado, a região de Pau dos Ferros, que abrange 37
municípios, terá apenas uma USA e três básicas.
“Se em uma região vai ter quatro suportes avançados
com 14 municípios, como é que uma região, com 37 municípios, só tem uma? O
desenho terminou sendo desigual. Não houve um planejamento territorial
adequado”, questionou Maria Eliza.
Ela também apontou que algumas bases básicas, como a
proposta para São Miguel, teriam pouca efetividade em municípios mais
distantes. No caso de Doutor Severiano, por exemplo, a espera por uma
ambulância básica regulada de São Miguel pode chegar a duas horas.
“Eu não vou esperar duas horas para atender um
paciente infartado com uma ambulância que só tem condutor e técnico. Se eu
tenho uma ambulância no meu município com médico e enfermeiro, é essa que eu
vou usar”, declarou a secretária.
Maria Eliza afirmou que os municípios potiguares já
ultrapassam o mínimo constitucional de investimento em saúde (15%), chegando a
aplicar de 20% a 35% de seus orçamentos próprios. Enquanto isso, segundo ela, o
Governo do Estado cumpre apenas o percentual mínimo exigido, de 12%, e figura
em último lugar no Nordeste em investimento com recursos próprios na área da
saúde.
“Já está muito caro. Nós já arcamos com a atenção
primária, com transporte para oncologia, com manutenção de estruturas, e agora
querem jogar mais essa conta para cima da gente. A gente quer pactuar, mas não
pode assumir um serviço que é de ordem do Estado.”
Segundo Maria Eliza, a proposta atual desconsidera o
que foi pactuado anos atrás, quando o Estado optou por assumir o Samu como um
serviço estadual — o que, na prática, impediu os municípios de pleitear bases
próprias com cofinanciamento federal direto.
“Se lá atrás não tivéssemos aprovado que o serviço
seria estadual, qualquer município poderia pleitear o Samu direto. Mas achamos
que, sendo organizado pelo Estado, com os hospitais regionais como referência,
o fluxo seria melhor. Agora querem dividir o custo? Se o Estado quer abrir uma
base em Areia Branca, tudo bem. Mas que banque o serviço.”
A discussão sobre a expansão do Samu motivou uma
reunião na última terça-feira 29 entre representantes do Cosems-RN e a equipe
da Sesap. Participaram do encontro diretores de várias regiões de saúde e o
secretário estadual Alexandre Motta. O Cosems apresentou um documento com
observações técnicas sobre o financiamento, a gestão regional, a regulação, os
fluxos assistenciais e a força de trabalho necessária para a execução do
projeto.
Uma nova rodada de negociações foi agendada para o
dia 15 de agosto, quando o Governo do Estado deverá apresentar um
posicionamento oficial sobre as reivindicações dos municípios. “A gente está
muito preocupado enquanto Cosems. A proposta tem boa vontade da gestão
estadual, mas falta olhar para as responsabilidades de cada ente federado. O
Estado é responsável pelo serviço. O município pode ajudar, mas não pode bancar
sozinho.”
Maria Eliza também informou que está mobilizando a
Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte (Femurn) para tratar do tema
com os prefeitos e buscar apoio institucional.
Em nota, o Governo do RN admitiu que não há um
planejamento justo entre os entes federativos para o financiamento do Samu. A
Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) informou que está propondo um
plano de expansão do serviço. “O custeio deve dobrar e chegar a aproximadamente
R$ 12 milhões por mês, sendo parte financiada pelo estado – como toda a
estrutura da central de regulação -, parte pelo Ministério da Saúde. A proposta
central da Sesap é de que os custos para manter as ambulâncias e bases descentralizadas
sejam divididos na proporção de 60% para os municípios, com base em um valor de
R$2,71 por habitante, e 40% para o estado, percentuais baseados na lei dos
consórcios interfederativos de saúde”, diz a pasta.
Agora RN
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