A transformação da paisagem energética brasileira
tem um nome em destaque: Rio Grande do Norte. O Estado ocupa a segunda
colocação no ranking nacional de geração de energia eólica, de acordo com
levantamento recente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). Ao todo, o RN
possui 308 parques eólicos em operação, com 3.446 aerogeradores em funcionamento.
Juntas, essas estruturas somam 10,3 gigawatts (GW)
de potência instalada, representando cerca de 30% da produção eólica do Brasil.
A energia gerada pelos ventos potiguares é suficiente para abastecer
aproximadamente 5 milhões de residências por mês.
O salto do RN no setor não é recente. Desde que os
primeiros parques começaram a ser instalados no início da década passada, o
Estado passou a figurar entre os líderes do País em energia limpa. De acordo
com a ABEEólica, os investimentos associados à expansão do setor no País já superam
US$ 40 bilhões.
Além do impacto direto na matriz energética
brasileira, a energia eólica tem impulsionado a economia regional, gerando
empregos diretos e indiretos, movimentando o setor de serviços e atraindo
empresas nacionais e estrangeiras interessadas na cadeia produtiva de energias
renováveis.
O protagonismo do RN no setor, no entanto, não se
limita mais à terra firme. Em junho de 2025, o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu a primeira licença
ambiental prévia para um projeto de energia eólica offshore no Brasil. O
empreendimento será implantado em uma área a cerca de 20 km da costa do
município de Areia Branca, no litoral potiguar.
A iniciativa é liderada pelo Instituto Senai de
Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), vinculado à Federação das Indústrias
do Estado do RN (Fiern) e ao Senai-RN. O projeto terá caráter experimental e
prevê a instalação de dois aerogeradores com potência total de até 24,5
megawatts (MW).
O empreendimento, inédito no País, será conectado
por cabos submarinos ao Porto-Ilha de Areia Branca, que passará a operar com
energia limpa e autossuficiente. O objetivo é testar, validar e adaptar
tecnologias de geração de energia eólica no mar às condições ambientais e
técnicas brasileiras, além de qualificar profissionais e impulsionar a criação
de uma base industrial local voltada para o segmento offshore.
O local escolhido para o projeto foi considerado
ideal por não apresentar áreas de sensibilidade ambiental relevante, como recifes,
nem estar próximo a zonas de pesca artesanal, reduzindo o potencial de impactos
socioambientais.
Ventos que movem a economia: Senai projeta salto no
PIB local
O avanço para a geração offshore carrega consigo não
apenas a inovação tecnológica, mas grandes expectativas econômicas. De acordo
com o diretor do Senai-RN, Rodrigo Mello, a entrada do Brasil — e do Rio Grande
do Norte em especial — na energia eólica marítima pode provocar um efeito
multiplicador no Produto Interno Bruto (PIB) das cidades litorâneas.
“Nos municípios onde os parques terrestres foram
instalados, o PIB cresceu mais de 40% em média. Agora imagine o efeito disso
com investimentos que serão muito mais altos”, afirma Rodrigo.
A estimativa é de que a nova cadeia industrial
offshore (em alto mar) multiplique por até sete vezes a movimentação financeira
gerada pelos projetos onshore (na terra). Um parque terrestre considerado
grande, com cerca de 400 megawatts, equivale a um pequeno parque offshore, que
pode ultrapassar os 2 mil megawatts de capacidade instalada. “É uma revolução
econômica que se inicia nos municípios costeiros, de São Miguel do Gostoso a
Tibau, mas a cadeia logística vai espalhar os efeitos pelo estado todo”, disse
Rodrigo.
Os investimentos esperados envolvem fornecedores de
equipamentos, engenharia especializada, serviços navais e infraestrutura
portuária, entre outros setores. Segundo Rodrigo, o modelo proposto pelo Senai
prioriza o conteúdo nacional, o que significa atrair desenvolvimento industrial
local. “Não queremos apenas hospedar equipamentos fabricados no exterior. O
nosso projeto prevê soluções tecnológicas adaptadas à realidade brasileira e
desenvolvidas aqui, desde o início”.
Além da geração de energia em larga escala, o
projeto deverá transformar a dinâmica econômica de cidades com pouca
diversificação produtiva. “São municípios instalados tipicamente no semiárido,
com oportunidades econômicas limitadas. O que vamos ver é uma mudança de
patamar. É como se fosse um novo ciclo industrial, mas com energia limpa e de
grande porte”, concluiu Rodrigo.
A licença prévia do Ibama, concedida ao projeto
coordenado pelo Senai, marca o início da fase de engenharia, com duração
prevista de até 18 meses. Em seguida, haverá mais um período de aproximadamente
um ano e meio para a instalação da planta-piloto. A expectativa é que o parque
esteja em operação em até três anos.
A implantação de usinas eólicas offshore tem
potencial para criar dez vezes mais empregos que os parques tradicionais em
terra, segundo dados internacionais utilizados pelo Instituto Senai de Energias
Renováveis. Para o diretor do instituto, Rodrigo Mello, o Estado pode se tornar
líder nacional na nova indústria de energia marítima, com reflexos diretos na
geração de empregos de alta qualificação. “É uma indústria que exige muito mais
gente, tanto na fase de construção quanto na de operação. Isso já foi
comprovado em experiências no Mar do Norte e no Mar da China”, afirmou.
A Faculdade de Energias Renováveis e Tecnologias
Industriais (Faeti), vinculada ao Senai-RN, lançará nos próximos meses a
primeira pós-graduação do Brasil voltada exclusivamente à energia eólica
offshore. O objetivo é garantir que os profissionais potiguares estejam prontos
para ocupar os postos gerados com a nova cadeia industrial. “Em 2010, fizemos o
mesmo movimento com a energia eólica terrestre. Agora estamos repetindo a
fórmula com o offshore, porque sabemos que esse é o futuro”, disse Rodrigo.
Além de gerar empregos diretos, a cadeia de energia
eólica marítima deve impulsionar setores como transporte marítimo, construção
civil, metalurgia, tecnologia da informação e serviços especializados.
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