A decretação da prisão domiciliar do ex-presidente
Jair Bolsonaro (PL), que completa uma semana nesta segunda-feira (11), gerou um
motim de aliados no Congresso Nacional e consequências políticas para governo,
oposição e centrão.
A avaliação de integrantes do Executivo é a de que o
presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), saiu fragilizado no
processo de debelar o protesto bolsonarista, o que gera um temor de
instabilidade no Congresso Nacional, cenário nunca desejado por nenhum governo.
O centrão aproveitou a turbulência e conseguiu
colocar na ordem do dia mais uma proposta de blindar congressistas contra ações
do STF (Supremo Tribunal Federal).
Já a oposição se reagrupou na unificação de um
discurso contra o ministro Alexandre de Moraes, o autor da ordem de prisão, e
conseguiu acenos de que algum projeto de anistia aos condenados pelo 8 de
Janeiro será discutido.
Após cerca de 30 horas sem conseguir abrir uma
sessão devido à ocupação da Mesa da Câmara, Motta só conseguiu voltar à cadeira
de presidente no final da noite de quarta (6), por meio de um acordo costurado
pelo antecessor, padrinho de sua candidatura e líder do centrão, Arthur Lira
(PP-AL).
A volta à ribalta do ex, e o desfecho atabalhoado da
retomada física do plenário, em que quase se perdeu em meio ao empurra-empurra
de deputados, sendo jogado de lá para cá por aliados e bolsonaristas, acabou
gerando em integrantes do governo Lula a impressão de que Motta pode não
consegui controlar o plenário daqui para frente.
Isso liga o alerta em relação ao avanço da pauta
prioritária do Palácio do Planalto no Legislativo, que é centrada em medidas
com vistas a melhorar a avaliação da gestão petista às vésperas do ano
eleitoral.
O governo tem como carro-chefe de suas medidas
atuais a elevação da faixa de isenção do Imposto de Renda.
Num primeiro momento, integrantes do governo
elogiaram a postura de Motta, assim como a do presidente do Senado, Davi
Alcolumbre (União Brasil-AP), de convocar reunião de líderes partidários e
indicar que seriam punidos os parlamentares que não desocupassem o plenário da
Casa.
Isso chegou a ser discutido em reunião no Palácio do
Planalto entre todos os ministros do PT e lideranças da legenda, na
quarta-feira (6), um encontro que já estava marcado para a discussão de
conjuntura política.
Um dos petistas presentes, inclusive, afirmou que o
governo deveria aproveitar aquele momento para “se aproximar de vez” dos dois
parlamentares, isolando o bolsonarismo. Segundo relatos de participantes, foi
feito o diagnóstico de que o governo deveria se afastar dessa crise e
direcionar o foco à sua agenda.
A avaliação positiva sobre o presidente da Câmara,
no entanto, foi mudando ao longo da noite de quarta diante do recuo de Motta em
punir de imediato os bolsonaristas e da dificuldade em retomar o plenário da
Casa, passando a impressão de que o deputado não tem força política suficiente
e depende de Lira para manter controle do plenário.
No final desta sexta-feira (8), a Mesa da Câmara
decidiu enviar para a Corregedoria da Casa todos os casos de parlamentares
representados por partidos políticos. Só após um parecer do órgão, a Casa irá
decidir se sugere ou não o afastamento do mandato de amotinados ao Conselho de
Ética.
Um aliado do petista diz ainda que Motta sofre muita
pressão do senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil de
Bolsonaro, e que o deputado precisa se descolar de seu padrinho político para
conseguir exercer a presidência da Câmara.
Nesta sexta (8), Lula se queixou da postura dos
bolsonaristas dizendo que eles são traidores da pátria e deveriam “ter
impeachment”.
Do lado da oposição, também houve um reagrupamento
no discurso. Aliados de Lula vinham desde julho tocando nas redes sociais uma
ofensiva classificando o Congresso e o bolsonarismo como defensores de ricos e de
privilégios, campanha à qual, após o tarifaço anunciado por Donald Trump, foi
acrescentada a defesa da soberania nacional.
Isso vinha gerando bate-cabeças entre
oposicionistas, que foram forçados a atuarem na defensiva.
As sucessivas ordens de Moraes contra Bolsonaro
—primeiro, a tornozeleira eletrônica e, depois, a prisão domiciliar—, porém,
voltaram a inflamar e unificar o bolsonarismo, ao menos no discurso, o que
possibilitou o motim que paralisou os plenários de Câmara e Senado por cerca de
dois dias.
Se a bandeira do impeachment de Moraes não emplacou
na cúpula do Congresso, a discussão de alguma anistia voltou a ser considerada
possível, embora as versões variem a depender dos grupos políticos ouvidos.
Folha de S.Paulo
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