A um ano e três meses das eleições de 2026, o
governo Lula vai mudar o slogan, na tentativa de mostrar que sua identidade não
pode ser confundida com a do Centrão. O mote “União e Reconstrução” será
substituído agora pela ideia de que o terceiro mandato do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) tem lado.
A estratégia para recuperar a popularidade perdida
consiste em focar a propaganda oficial na mensagem de que combater privilégios
significa abrir espaço para que mais gente prospere na vida. Na prática, o
governo quer ir além da toada “ricos contra pobres”.
O plano é bater na tecla de que programas lançados
recentemente, como o que prevê linhas de crédito mais baratas para a reforma de
casas, não foram feitos apenas para os menos favorecidos, mas também beneficiam
a classe média.
Ministros foram orientados a destacar, ainda, que o
principal adversário do País é o sistema de desigualdade, montado para
beneficiar 1% contra 99% da população.
O Palácio do Planalto encomendou pesquisas
qualitativas, que medem as percepções dos eleitores, para definir o novo slogan
do governo. Já se sabe, porém, que o lema vai misturar os conceitos de
trabalho, justiça social e enfrentamento aos privilégios com a defesa do
Brasil. O toque nacionalista ganhou força após a ofensiva do presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump, contra o País.
O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social
(Secom), Sidônio Palmeira, tem conversado com os colegas sobre essa nova linha,
que recebeu sinal verde de Lula. Nos bastidores, auxiliares do presidente dizem
que um governo de coalizão – no qual cada um puxa para um lado – acaba sem
identidade. É por isso que, hoje, todas as iniciativas de ministros têm de
passar pelo crivo da Secom.
Levantamentos do Planalto e do PT revelam que
eleitores estão desencantados porque esperavam mais de Lula do que a reedição de
programas como o Bolsa Família, o Farmácia Popular e o Minha Casa, Minha Vida.
No diagnóstico dos entrevistados, essas ações já “fazem parte da paisagem” e é
preciso ir além.
A troca do slogan “União e Reconstrução” por um mote
que indique o rumo da segunda metade do governo e aponte para 2026, quando o
presidente deve disputar novo mandato, já vinha sendo planejada por Sidônio.
Tudo foi acelerado, no entanto, após a crise entre o
governo e o Congresso por causa do decreto que prevê o aumento de alíquotas do
Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Partidos que ocupam 14 ministérios e não pretendem
apoiar o PT nas eleições de 2026 – a maioria deles do Centrão – ajudaram a
derrubar o decreto de Lula, que, por sua vez, recorreu ao Supremo Tribunal
Federal (STF). O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, alega que a equipe
econômica precisa dos R$ 10 bilhões previstos com as mudanças no IOF para
fechar as contas públicas.
Uma audiência de conciliação entre as partes foi
marcada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes para terça-feira, 15. O
magistrado suspendeu todas as decisões tomadas até agora. O imbróglio
estremeceu a relação entre Lula e a cúpula do Congresso, principalmente com o
presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Nessa queda de braço, uma campanha do PT nas redes
sociais martelou que Lula quer cobrar mais tributos do “andar de cima”, chamado
agora de BBB (Bilionários, Bancos e Bets), para levar adiante a proposta de
isentar quem ganha até R$ 5 mil do Imposto de Renda. Monitoramentos feitos pelo
Planalto indicaram que a tática foi bem-sucedida.
Na quarta-feira, 9, após Trump anunciar a taxação de
50% sobre produtos brasileiros e justificar a medida sob a alegação de que o
julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe não
deveria ocorrer, Lula voltou a usar o boné com o slogan “O Brasil é dos
brasileiros”.
Publicitário que comandou a campanha petista, em
2022, Sidônio completa seis meses à frente da Secom na segunda-feira, 14. Neste
período, enfrentou uma crise atrás da outra, atuou como bombeiro, mas também
comprou muitas brigas, até mesmo com Haddad.
O chefe da equipe econômica não queria, por exemplo,
revogar a norma da Receita Federal que ampliava a fiscalização de transações
financeiras, incluindo o Pix.
À época, um único vídeo do deputado Nikolas Ferreira
(PL-MG), com informações distorcidas sobre a operação, ultrapassou 200 milhões
de visualizações. Haddad resistiu muito antes de recuar, mas acabou vencido.
“Eu vim aqui para fazer um doutorado. Estou ministro
hoje e amanhã posso não estar”, disse Sidônio ao Estadão. “Não tenho interesse
político”.
Em janeiro, quando assumiu a Secom no lugar de Paulo
Pimenta (PT) – que foi demitido por Lula e voltou para a Câmara dos Deputados
–, o marqueteiro prometeu recuperar a aprovação de Lula e do governo em três
meses. Não foi o que ocorreu.
Até agora, o chefe da Secom não conseguiu fazer com
que Lula resgatasse a popularidade. Pior: o presidente perdeu apoio no
Nordeste, região que sempre foi reduto eleitoral do PT, e entre os mais pobres.
Pesquisas em poder do Planalto indicam que Lula
começou a se levantar, mas ainda de forma lenta. As sondagens também mostraram
que, na opinião dos eleitores, ele precisa falar mais com a população.
Lula não quer dar tantas entrevistas, mas Sidônio
insiste. “Sou uma pessoa determinada”, garante o ministro franzino, que não
come doce, só toma café amargo, mas diz estar disposto a fazer do limão uma
limonada.
Foram tantas as turbulências enfrentadas por Sidônio
desde janeiro que seus auxiliares até fizeram uma planilha. Nela,
contabilizaram 12 crises em seis meses: de boatos infundados sobre a taxação do
Pix a descontos indevidos de aposentados do INSS, passando pelo preço dos
alimentos e a queda do então ministro Juscelino Filho.
“Comunicação é sempre um desafio, mas o Sidônio tem
experiência, sensibilidade e vai avançar mais ainda”, afirmou ao Estadão o vice-presidente
Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio.
Se depender da oposição, no entanto, o ministro
entregará os pontos. Irritados com postagens nas redes sociais que se referem
ao Legislativo como “Congresso da mamata” e atacam Hugo Motta, deputados
convocaram Sidônio para explicar as últimas campanhas da Secom.
O ministro garante que essas mensagens não têm a
digital do Planalto e conseguiu adiar sua ida à Câmara para agosto, depois do
recesso parlamentar. Até lá, o novo slogan do governo já deve estar na praça.
Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário