Após o Governo do Rio Grande do Norte anunciar que
fará um edital para beneficiar integrantes do Movimento Sem Terra (MST-RN) no
Distrito de Irrigação do Baixo Açu (Diba), entidades do setor produtivo do
Estado criticaram a medida e avaliam ir à Justiça para derrubar o loteamento. O
Governo anunciou que publicará o edital para seleção de famílias até o final de
outubro, com um lote de 460 hectares. O anúncio acontece após acampamento feito
pelo MST na governadoria e reunião com a governadora Fátima Bezerra.
Segundo a Federação da Agricultura do RN (Faern), a
medida pode gerar prejuízos e trazer insegurança para os produtores do Diba,
que possui 6.300 hectares de perímetro irrigado. “A Faern lamenta profundamente
essa decisão infeliz do Governo em fazer um assentamento dentro de um distrito
de irrigação, o único que funciona no Estado. Isso poderá ser o fim do próprio
distrito, pois nenhum empresário vai querer investir num distrito onde se
encontra o MST. Só temos a lamentar e vamos buscar de todas as formas junto aos
órgãos e entidades para que isso não ocorra, para podermos impedir esse
desastre que o Governo quer causar no Distrito de Irrigação do Baixo-Assu”,
critica o presidente da Faern, José Vieira.
O presidente da Associação do Distrito de Irrigação
Baixo-Assu (Diba), Michel Cosme, considera que a ocupação vai aumentar os
custos. “Estamos vendo isso com bastante preocupação. É muita
irresponsabilidade desse governo colocar 100 famílias aqui. Para se ter ideia,
todo o bombeamento de águas para as áreas é rateado entre todos os produtores.
A vinda de 100 famílias em 400 hectares para dentro do projeto vai aumentar
nosso custo em 30%, pelo menos”, critica.
Em janeiro do ano passado, produtores do Diba já
haviam denunciado ao Governo do Estado a invasão no distrito de integrantes do
MST. “Isso vai impactar diretamente os produtores do Diba e novos
investimentos. Com certeza nenhum empresário vai investir aqui sabendo que na
porta da entrada de sua propriedade vai ter um assentamento dos Sem Terra”,
acrescenta Michel Cosme, presidente da Associação do Diba.
O Diba teve seu projeto de implantação iniciado em
1989 pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e pelo Governo
do RN com desapropriação de 9.020 ha. A área irrigável é de cerca de 6.300
hectares, com 2.700 de área em funcionamento e pouco mais de 1.000 já licitados
pelo Governo. Atualmente, 240 produtores juntos produzem 100 mil toneladas/ano
de frutas como melão, banana, mamão, limão, coco, entre outras.
Pressão
Nesta segunda-feira (28), após cinco dias acampados na Governadoria, o
Movimento Sem Terra do Rio Grande do Norte (MST-RN) desmobilizou o acampamento
no centro administrativo. As lideranças do grupo tiveram reunião com a
governadora Fátima Bezerra (PT), que sinalizou com a publicação do edital para
regularização do assentamento no Baixo-Assu, no Oeste do RN, até o final de
outubro deste ano.
Segundo o secretário de Desenvolvimento Rural e da Agricultura Familiar
(Sedraf), Alexandre Lima, os 460 hectares que serão destinados ao MST são de um
loteamento que não está sendo utilizado entre os municípios de Afonso Bezerra,
Alto do Rodrigues e Carnaubais. O perímetro irrigado será destinado para a
agricultura familiar.
“Esse edital é para seleção de famílias. A divisão,
topografia, já está feita. Já temos a planta. Vamos fazer os arruamentos, abrir
as estradas para o pessoal fazer ter acesso e fazer o piqueteamento
(identificação) dos lotes. São lotes de irrigação, não são lotes de casa.
Dentro dessa área tem uma área comunitária, que pode ser usada para construção
de uma agrovila. Os 100 lotes são para produção irrigada”, explica Alexandre
Lima. “Estamos nos comprometendo com o arruamento, limpeza, lotes e o processo
de seleção e posteriormente com a estruturação para que eles possam irrigar as
áreas. São lotes irrigados para a agricultura familiar. É uma área de 460
hectares dentro do projeto Baixo Assu”, diz.
O acampamento no Centro Administrativo é o
desdobramento de uma marcha iniciada em Ceará-Mirim, que passou por São Gonçalo
do Amarante e chegou a Natal no início da semana passada. Cerca de 800 pessoas
participaram da mobilização, que teve como primeiro destino a sede do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ocupada na terça-feira (22).
Após uma audiência no instituto, os manifestantes seguiram em caminhada para a
Governadoria na manhã da quarta-feira (23), onde também bloquearam
temporariamente um trecho da BR-101.
Durante toda a semana passada, o protesto realizado
em Natal fez parte da mobilização nacional do MST chamada Semana Camponesa, que
ocupou 20 sedes do Incra em diferentes estados. No caso do Rio Grande do Norte,
a principal reivindicação é a retomada das políticas públicas de reforma
agrária, que segundo o movimento estariam paralisadas tanto no âmbito federal quanto
no estadual.
Além da regularização fundiária e da efetivação de
assentamentos, o MST cobra a retomada de políticas de crédito voltadas à
moradia e produção, bem como a reestruturação do Programa Nacional de Educação
na Reforma Agrária (Pronera), que, segundo o movimento, enfrenta
descontinuidade e escassez de recursos. A coordenação do MST afirma que “há
cursos paralisados em todo o país e milhares de jovens do campo sem acesso ao
ensino superior público”.
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