Reconhecido como o Maior Cajueiro do Mundo e
um dos principais pontos turísticos do Rio Grande do Norte, a árvore centenária
localizada na praia de Pirangi, em Parnamirim,
na Grande Natal, deverá
passar por uma poda a partir de agosto deste ano.
Segundo o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e
Meio Ambiente do Estado (Idema), a medida foi determinada pela Justiça em
2024, dentro de um processo antigo, atendendo pedidos feitos por moradores e
comerciantes da região. O processo está em fase de execução.
O corte de parte dos galhos da planta, no
entanto, é visto com receio por especialistas e alguns moradores da região, que
acreditam que o corte dos galhos pode causar o envelhecimento ou mesmo a morte
da planta. A
árvore tem 136 anos.
O cajueiro tem aproximadamente 10 mil metros
quadrados de extensão e, atualmente, 1.200 metros da planta estão
fora da área cercada, sobre ruas e perto de casas e comércios do distrito
litorâneo. Os galhos tomam quase metade da avenida São Sebastião.
Uma audiência pública para discutir a poda foi
realizada na Câmara Municipal de Parnamirim, na manhã desta terça-feira (8).
Outra reunião deve acontecer à tarde. Somente após as discussões e uma análise
técnica, o Idema enviará parecer para Justiça e será definido quanto será
cortado.
Ao todo, o Idema prevê um investimento de R$
200 mil no processo de poda, que pode levar até seis meses.
O que diz quem defende a poda?
O diretor técnico do Idema, Thales Dantas, afirmou
que a planta nunca passou por uma poda, exceto pelos cortes de manejo
"higiênico", e defendeu a medida como necessária.
"Sempre que foi feito um manejo higiênico
sanitário, ou seja, cortar onde estava o cupim, a broca, mas nunca tinha tido
uma poda realmente. Houve essa determinação e a gente está agora no cumprimento
dessa sentença. O governo não está matando o cajueiro, muito pelo contrário.
Essa poda realmente é necessária para a gente estar cuidando, inclusive para
preservar, porque hoje, sem esse cuidado, pode acabar batendo um carro, causar
problemas nos galhos", disse.
"O Cajueiro de Pirangi vai
continuar sendo maior do mundo independentemente da poda e do manejo de
fitossanitário que nós vamos realizar", defendeu.
O engenheiro agrônomo Marcelo Gurgel considera que a
poda é positiva para a árvore e ressaltou que esse tipo de trabalho é realizado
anualmente em cajueiros comerciais - localizados em fazendas produtoras de caju
e castanha, por exemplo.
"São usadas serras, talvez motoserras em galhos
mais grossos, tesouras de podas, todas desinfectadas, e é feito um tratamento
sanitário para evitar a proliferação de fungos e bactérias e outros
micro-organismos", disse o profissional.
"O cajueiro é uma planta que
suporta muito bem poda. Tecnicamente, é viável. Não apresenta nenhum risco para
a vida do cajueiro. Pelo contrário, é para melhorar a saúde da planta",
defendeu.
O que diz quem é contrário à poda?
Já a bióloga Mica Carboni, que trabalhou no
cajueiro, considera que a poda poderia representar uma "catástrofe"
para a planta.
De acordo com ela, o cajueiro se expandiu porque
muitos de seus galhos tocaram o chão e também criaram raízes. Além de aumentar
a árvore em tamanho, esse processo causa o rejuvenescimento da planta.
"A poda de contenção pode gerar uma catástrofe
para esse cajueiro. Porque seria podar indiscriminadamente galhos no entorno só
para botar ele de novo dentro da do tamanho que as pessoas acham que ele deve
ter. Essa poda pode limitar o crescimento, pode atrofiar ele, pode gerar o
envelhecimento acelerado dele, que rejuvenesce enquanto os seus galhos
periféricos enraízam novamente", afirmou a bióloga.
De acordo com Mica, o enraizamento dos galhos gera
na planta os "hormônios da muda", que são devolvidos para toda planta
mãe. A bióloga afirmou que artigos científicos explicam esse processo
metabólico que geraria o rejuvenescimento da árvore.
"Só assim esse cajueiro consegue
frutificar com mais de 140 anos de idade. Um cajueiro normal frutifica até uns
40, 50 anos no máximo. E ele continua, continua vigoroso, justamente pelos seus
enraizamentos, justamente por isso ele é o maior cajueiro do mundo. E é muito
contraditório querer limitar ele. Uma rua, casas, pode se construir em qualquer
lugar. O maior cajueiro do mundo, só existe ele", defendeu.
Morador da região onde o cajueiro fica localizado, o
corretor de imóveis Francisco Cardoso também se posicionou contrário à poda e
acredita que o procedimento pode causar riscos para a planta.
"A partir do momento que a poda tirar quase
1000 metros do maior cajueiro do mundo, vai dar um impacto muito grande na
árvore. É uma grande quantidade de massa e a partir do momento que acontecer
isso, ele vai estar propício para entrada de brocas, fungos, bactérias e
infecções, trazendo até atrofiamento de galhos. Se não tiver muito cuidado,
leva a morte do cajueiro", defendeu.
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