Um levantamento realizado com base em dados do
Ministério do Desenvolvimento Social e do IBGE aponta que cerca de 1,4 milhão
de famílias brasileiras podem estar omitindo informações sobre a composição
familiar para continuar recebendo os valores pagos pelo Bolsa Família. A
análise foi feita pela empresa DataBrasil, a pedido do site Poder360, e
utilizou como base as declarações feitas no Cadastro Único em comparação com
estimativas populacionais.
O método de fraude mais comum identificado envolve a
omissão de um dos cônjuges. A estratégia é utilizada, por exemplo, quando o pai
da criança possui renda formal e, caso fosse declarado, impediria a concessão
do benefício à mãe. Para continuar recebendo os repasses, muitos beneficiários
declaram viver sozinhos com os filhos, mesmo morando com o companheiro.
A análise foi feita município por município. Em
Guaribas, no Piauí, o Censo aponta 151 domicílios formados apenas por um dos
pais, mas o Bolsa Família contabiliza 617 famílias alegando essa composição, o
que indica mais de 460 possíveis irregularidades somente nessa cidade. Casos
semelhantes foram encontrados em diversas regiões do país.
Os dados foram solicitados via Lei de Acesso à
Informação (LAI) e têm como base o mês de março de 2025.
Atualmente, de acordo com a legislação que
regulamenta o programa (Lei 14.601/2023), famílias com renda de até R$ 218 por
pessoa têm direito ao benefício. No entanto, ao omitir informações ou simular
composições familiares diferentes da realidade, muitos acabam cometendo fraude
ideológica, o que, apesar de ilegal, muitas vezes passa despercebido pelas
autoridades.
Outra forma de burlar o sistema é quando ambos os
pais, ainda que vivam juntos, declaram residir separadamente. Assim, cada um
solicita o benefício de forma individual, alegando vulnerabilidade e se
cadastrando como família unipessoal.
Ao todo, em 2.134 dos 5.571 municípios brasileiros
foi identificada alguma disparidade entre os números oficiais de famílias
monoparentais e os dados informados ao programa. A capital amazonense, Manaus,
lidera em números absolutos: há 169.721 domicílios registrados como
monoparentais no Censo, enquanto 184.772 famílias com esse perfil são
beneficiárias do programa – o que aponta para mais de 15 mil possíveis fraudes.
Proporcionalmente, o pior cenário está em Pracuúba,
no Amapá. Embora o município tenha 157 residências com apenas um dos pais, mais
de 800 famílias se declaram nesse modelo para fins de recebimento do Bolsa
Família.
Segundo a DataBrasil, considerando que há centenas
de trabalhadores com carteira assinada e dezenas de aposentados e pensionistas
no local, é pouco provável que tantas famílias estejam realmente em situação de
vulnerabilidade compatível com os critérios do programa. Isso porque a presença
de qualquer renda formal, como um salário mínimo, já basta para impedir a
concessão do benefício.
Poder 360
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