Como explicar um fenômeno que mistura o solstício
europeu com cheiro de milho assando? A Festa Junina chegou ao Brasil no século
XVI, trazida pelos portugueses, e logo ganhou sotaque próprio: a quadrilha
incorporou o ritmo africano, a fogueira bebeu da tradição indígena, e a fé se
espalhou em torno de três santos católicos – Santo Antônio, São João e São
Pedro. De “Joanina” virou “Junina” e, desde então, se transformou em um dos
maiores símbolos da cultura popular brasileira: celebra a colheita e agradece a
chuva no sertão.
Mas junho não é apenas tempo de tradição. É também
uma força econômica que movimenta cadeias produtivas inteiras. A mais recente
pesquisa do Instituto Locomotiva, realizada em parceria com a QuestionPro,
mostra que o São João vem se consolidando como um motor relevante da economia
criativa no país. O levantamento ouviu 1.500 pessoas de todas as regiões e
revelou que 81% dos brasileiros pretendem participar de alguma atividade junina
em 2025.
O tipo de celebração varia, mas o envolvimento é
amplo: 50% querem ir a festas de rua gratuitas, 41% preferem comemorações com
amigos e família, e 37% destacaram as tradicionais quermesses de igreja. A
diversidade de formatos mostra como a Festa Junina continua viva, se
reinventando sem perder suas raízes.
E com a festa vem o consumo: quatro em cada dez
brasileiros pretendem gastar mais de R$ 200 durante o período. No Nordeste,
esse índice sobe para 46%, o que ajuda a explicar os números impressionantes da
região. Em Caruaru, o São João de 2024 reuniu 3,7 milhões de pessoas e
movimentou R$ 688 milhões. Em Campina Grande, a expectativa é de ultrapassar R$
740 milhões em 2025.
E no centro dessa celebração toda, um personagem
simples se destaca: o bolo de milho. Escolhido por 48% dos entrevistados como a
comida junina favorita, ele deixa para trás canjica, pamonha e até a paçoca. Mas
mais do que um doce típico, o bolo de milho representa a memória afetiva do
Brasil: remete à infância, à casa da avó, à mesa compartilhada em comunidade.
Os dados nos mostram um país que sabe celebrar suas
tradições ao mesmo tempo em que movimenta a economia local. Pequenos
empreendedores, músicos, costureiras, agricultores, ambulantes e comerciantes
são diretamente beneficiados. E a sociedade como um todo também ganha: porque
manter vivas as nossas manifestações culturais é preservar a pluralidade, fortalecer
a identidade nacional e gerar renda.
O mês de junho tem o som da sanfona, o cheiro de
milho cozinhando e a lembrança de que, quando o Brasil se reconhece nas suas
raízes, ele também encontra caminhos de desenvolvimento. Cultura não é só
memória — é futuro.
VEJA
Nenhum comentário:
Postar um comentário