Quais são as consequências de uma tatuagem? Se o
desenho for feito com material esterilizado, com profissionais qualificados e
com os cuidados com a cicatrização, não há muito que pode acontecer. Porém, um
novo estudo mostra que existe a possibilidade de consequências mais severas.
O estudo, publicado em janeiro deste ano na revista
científica BMC Public Health, analisou os dados de três mil irmãos gêmeos da
Dinamarca, tentando relacionar o surgimento de câncer e linfomas em pessoas
tatuadas.
A pesquisa foi feita pela Universidade do Sul da
Dinamarca (SDU) em colaboração com a Universidade de Helsinki, na Finlândia.
Resultados
Os resultados mostraram que pessoas com tatuagens,
especialmente as de grande porte (maiores que uma palma da mão), apresentaram
maior probabilidade de diagnóstico de câncer. No caso do linfoma, o risco foi
até três vezes maior.
O estudo é do tipo observacional, isso significa que
ele analisou, de forma retrospectiva, a presença de tatuagens e casos de
câncer, buscando identificar uma relação entre eles. Esse tipo de pesquisa pode
apontar associações importantes, mas não comprova que ter tatuagem causa
câncer.
Especialistas ouvidos pelo jornal O Globo consideram
os resultados relevantes, mas ressaltam que eles devem servir como ponto de
partida para novos estudos. Ainda não existem dados o suficiente para alertar a
população ou causar preocupações.
Ao portal de notícias, o médico hematologista do
A.C.Camargo Câncer Center, Arthur Braga, afirma que atualmente, o foco está na
busca de fatores de risco para o câncer, e essa nova pesquisa mostra evidências
para começar uma discussão, que precisa ser aprofundada.
Carlos Chiattone, coordenador do Comitê de Linfomas
da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH),
disse ao portal que os estudos observacionais podem não identificar um possível
terceiro motivo que pode levar ao maior risco de câncer.
O estudo destacou o linfoma como o principal tipo de
câncer observado. O linfoma é um câncer do sangue que se origina no sistema
linfático, uma rede de vasos, gânglios (também chamados de nódulos ou
linfonodos) e órgãos como timo, baço e amígdalas. Esse sistema é responsável
por produzir e transportar linfócitos, células de defesa do organismo.
De acordo com os pesquisadores dinamarqueses, existe
a possibilidade que ao longo do tempo, a tinta da tatuagem pode penetrar na
pele e ser absorvida pelos linfonodos. A partir daí, poderia desencadear um
processo de inflamação crônica, que, com o tempo, levaria ao crescimento
descontrolado de células, resultando no desenvolvimento do câncer.
Outros estudos similares
Outros estudos publicados anteriormente encontraram
algumas relações entre tatuagens e linfomas, mas nada completamente conclusivo.
Em um estudo da Universidade Lund, na Suécia, publicado no eClinicalMedicine,
analisou dados de 1,4 mil casos da doença, comparando-os com 4,2 mil indivíduos
saudáveis, diagnosticados entre 2007 e 2017.
Em nota à imprensa, Christel Nielsen, líder do grupo
de estudo, afirmou que “o risco de desenvolver linfoma era 21% maior entre as
pessoas tatuadas”, mas a pesquisa não tinha encontrado uma relação entre o
tamanho da tatuagem e o risco.
Ainda, outro estudo da Dinamarca apontou associações
entre tatuagens e um maior risco de câncer de pele, mas sem evidências
suficientes. Ao Globo, Doluval Lobão, chefe da Dermatologia do Instituto Nacional
de Câncer (Inca), explica que não há robustez sobre a indução do câncer por
conta das tatuagens. Ele explica, entretanto, que é possível que alguém tenha
uma lesão pré-malignas e tatuagens próximas podem dificultar a observação e a
identificação.
InfoMoney
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