Jornalistas que ajudaram a enterrar a Lava Jato, como
se os procuradores e os juízes da operação anticorrupção tivessem ferido de
morte o Estado de Direito, agora se escandalizam porque uma das personagens
atingidas pela Lava Jato no exterior recebeu asilo do governo Lula.
Eles dizem que não há justificativa para que a
ex-primeira-dama do Peru Nadine Heredia tenha sido acolhida no Brasil depois de
ter sido sentenciada a 15 anos de prisão, assim como o maridão, o ex-presidente
Ollanta Humula, que está em cana.
Ambos foram condenados por ter levado uma bola de
US$ 3 milhões da Odebrecht para financiar a campanha eleitoral que levou o gajo
à presidência do Peru, em 2011.
Nadine Heredia refugiou-se na embaixada brasileira
em Lima, alegando perseguição política e a necessidade urgente de tratar um
câncer, e escapou para cá, em avião da FAB, com a ligeireza de um delivery de
ceviche.
Os seus advogados brasileiros, um deles pertencente
àquele intrépido clube do charuto e do vinho conhecido por Prerrogativas,
afirmam que Nadine Heredia foi injustiçada pelos promotores e juízes peruanos
da mesma forma que os condenados pela Lava Jato o foram pelos procuradores e
juízes brasileiros.
É claro que colou, e eu não entendo, juro, qual é a
surpresa dos meus colegas jornalistas. Para mim, é lógico que, se colocamos os
condenados brasileiros pela Lava Jato na rua, e um deles na Presidência da
República, também garantamos liberdade a condenados estrangeiros que foram
pegos pela operação nos seus países.
A Lava Jato não era uma “organização criminosa”,
como gosta de apregoar por aí o decano do STF e aquele outro integrante do
tribunal que não gosta da Transparência Internacional? A Odebrecht e outras
empreiteiras não eram dirigidas por gente proba que foi torturada pelos
fascistas de Curitiba? O nosso Lula também não foi vítima desse gente
horrorosa? Pois então. Venham a nós as criancinhas colhidas pelos tentáculos
internacionais da quadrilha.
Ademais, precisamos fazer valer a antiga tradição de
sermos valhacouto de corruptos (tivemos até um paraguaio), ladrões (tivemos até
um inglês), traficantes (temos até um búlgaro), terroristas (tivemos até um
italiano) e assassinos (o mesmo italiano). Acusados de o serem, quer dizer.
A Lava Jato vigarista também ameaçava o nosso belo
histórico de terra da eterna presunção de inocência. Já não ameaça mais, ainda
bem, com a graça de Deus e a elegância do STF. Bem-vinda, Nadine Heredia.

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