“Eu não tenho dúvida de que o que antecipou a
partida do meu pai foi a demissão que Carlos Eduardo fez com o pessoal da
Urbana. Aquela demissão foi a antecipação da partida do meu pai.
Disso, eu não tenho nenhuma dúvida”. Esse é o relato
de Isaías Germano Neto, filho de Isaías Germano Junior, um dos 244 funcionários
prejudicados pela demissão em massa na Companhia de Serviços Urbanos de Natal
(Urbana), causada em 2017 pelo ex-prefeito e atual candidato à chefia do
Executivo Municipal de Natal Carlos Eduardo (PSD). Agora, Neto teme um quinto
mandato. “Eu acho que todas aquelas famílias que foram penalizadas naquele
período não aceitam de jeito nenhum que ele tente voltar a ser prefeito de
Natal por causa da covardia do que ele fez”, diz.
A dispensa coletiva surpreendeu os funcionários no
dia 2 de janeiro de 2017, quando chegaram para trabalhar. Como relata a
jornalista Liege Barbalho, também demitida na ocasião, “os funcionários foram
demitidos, chegaram para bater um ponto e estava lá na lista (de funcionários
despedidos) no relógio do ponto”. Ela classifica o ato como “humilhante,
ultrajante, desrespeitoso, desumano.
Assim como para muitas famílias, a demissão impactou
a vida da família de Isaías Neto, que teve depressão após a perda inesperada do
emprego. “Meu pai era um pai com 37 anos de serviço, tinha um salário razoável,
foi pego de surpresa na hora da demissão dele. O salário dele caiu, acredito
que quase 70% ou 80%. Não dava para corrigir, não dava para comprar, não dava
para pagar quase nada. E aí veio a doença dele. Ele se preocupou muito, entrou
em depressão, teve parada respiratória, teve parada cardíaca, ficou na UTI.
Essa demissão foi em 2017, em 2018 meu pai veio a falecer. Ele não sustentou de
jeito nenhum”, conta.
A família de Isaías Junior dependia do salário que
ele recebia da Urbana para a manutenção das necessidades básicas. “É uma casa
em que tem uma autista que dependia do meu pai com plano de saúde, remédios
caros, idas a médico e tudo isso teve que acabar porque não tinha mais como
pagar. Foi uma coisa ruim mesmo”, afirma Neto. Para o jovem, “Carlos Eduardo
foi uma negação”.
“O que eu tenho a dizer sobre Carlos Eduardo é (que
foi) um desastre. Desumano demais”, relata.
“Esse homem deveria ser responsabilizado
criminalmente. Morreram pessoas em função do que ele fez, da atitude dele”,
concorda Walter Medeiros, um dos funcionários prejudicados. O motorista por
aplicativo, que luta há oito anos contra os prejuízos causados pela decisão,
também teme a volta do antigo gestor ao Palácio Felipe Camarão. “Eu me preocupo
muito em ele não voltar, porque, senão, ele vai fazer a mesma coisa que fez com
a gente. A gente já está no prejuízo, mas e os outros que estão lá sonhando?”,
lamenta.
A jornalista Liege Barbalho, também demitida na
ocasião, relembra a surpresa que teve no dia 2 de janeiro de 2017, quando
chegou para trabalhar. “Os funcionários foram demitidos, chegaram para bater um
ponto e estava lá na lista (de funcionários despedidos) no relógio do ponto.
Foi à queima-roupa. Humilhante, ultrajante, desrespeitoso, desumano”, ressalta.
Ainda segundo a comunicadora, todos os funcionários
atingidos estavam na empresa havia mais de 30 anos. “Nós somos fundadores,
erguemos aquilo ali com nosso trabalho, com nossa eficiência, capacidade e
força de vontade”, conta. “Se a Urbana foi mal administrada, se os gestores que
passaram não souberam administrar, não foi problema dos funcionários, não foi
problema nosso. Nós estávamos lá, dando o nosso expediente, trabalhando todos
os dias”, afirma Barbalho.
INDENIZAÇÕES
Somente em 2017 parte dos ex-servidores começou a
receber os primeiros valores devidos referentes à dispensa. Uma outra parcela
conseguiu ser paga em 2019 e ainda restam nove pessoas à espera de decisões judiciais.
No entanto, apesar de a maioria ter conseguido encerrar as pendências com a
Prefeitura, os relatos são de que os acordos realizados foram “vergonhosos”.
“(Os demitidos) fizeram pela necessidade de
sobrevivência. Porque a gente tinha um padrão e, de repente, caiu. Foi uma
coisa desrespeitosa que fizeram, teve gente que passou lá 40 anos trabalhando e
recebeu 56 mil reais de uma indenização”, relata a jornalista Liege Barbalho.
O motorista Walter Medeiros relata que se tratou de
imposição. “Eles impuseram um valor para a gente. Era a lei da mordaça. Não
teve acordo. Em momento algum teve acordo”, destaca.
Ele conta que os valores propostos são muito abaixo
do devido e lamenta pelos colegas que precisaram aceitar a oferta. “A gente tem
direito a um valor e eles querem dar 5% do que a gente tem direito. Os que
aceitaram (o acordo) primeiro, aceitaram piores condições”, diz.
SEM PREVISÃO
Após 8 anos, os ex-funcionários que ainda não
conseguiram formalizar um acordo com a Prefeitura afirmam que não têm previsão
para receber os montantes esperados. “Nós não temos previsão, só de luta. Já
são oito anos, quase uma década, que estamos vivendo dessa forma, né?
Sobrevivendo da maneira que a gente pode, né? Por
exemplo, Walter faz Uber, eu faço assessoria, tenho blog para poder ter uma
vida digna, porque ele deixou a gente em maus lençóis”, relata Liege Barbalho.
No entanto, a jornalista garante: “se não resolver da forma que seja correta,
justa, eu vou até Brasília, sim. Eu levo o processo até Brasília”. Para Walter,
é “muito pouco provável” chegar a um acordo interessante com a Urbana.
MEDO
Os ex-servidores temem o retorno de Carlos Eduardo à
gestão da capital potiguar. “O que a gente pretende, na verdade, é fazer por
onde que esse rapaz não tenha novas oportunidades, né?”, diz o motorista. “De
prejudicar a vida dos natalenses, porque, se ele voltar, com certeza vai prejudicar
a vida de mais natalenses. Ele paga de bom moço, mas na realidade ele é um lobo
em pele de cordeiro. Dando uma de bom rapaz, mas na realidade ele é uma pessoa
do mal, porque ele prejudicou a vida de mais de mil pessoas sem justificativa
alguma”, completa a comunicadora.
“Ele tinha que fazer uma autoanálise para ver se ele
pensaria em voltar a Prefeitura, porque eu não vejo ele nada de capaz, muito
pelo contrário, eu acho ele perseguidor. É perseguidor do trabalhador. A
concepção que eu tenho dele é que ele é um oportunista, um mau caráter, que
ele, para chegar ao poder, é como aquele dito popular: ele vende a mãe ao
diabo, ele quer estar lá no poder”, diz Liege. “Então eu acho ele um
mau-caráter, um oportunista que quer voltar para o comando da cidade mais uma
vez para o bel-prazer dele, porque ele prejudicou muita gente. E eu falo desse
meu caso. Quantos outros casos existem, que ele fez?”, finaliza.
Diário do RN
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