Um acordo pode colocar um fim na invasão do
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) a um terreno privado em
Natal. A Defensoria Pública do Rio Grande do Norte (DPERN) protocolou um acordo
extrajudicial para que os invasores desocupem o terreno do prédio do extinto
Diário de Natal, na Av. Deodoro da Fonseca, em Petrópolis, na zona Leste. A
proposta foi avalizada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas
(MLB). Os invasores agora ganharam um novo prazo: eles têm 45 dias para
apontarem um novo imóvel a ser ocupado, com despesas pagas pelo Poder Público.
O Governo do Estado aceitou pagar aluguel no valor máximo de R$ 18 mil até o
fim do ano de 2025. O acordo ainda precisa ser homologado pela Justiça para que
o prazo passe a contar.
O processo tramita na 20ª Vara Cível da Comarca de
Natal. O acordo foi definido após reunião presidida pela DPERN, com
participação do MLB e membros do Governo do Estado e da Prefeitura do Natal. A
Companhia Estadual de Habitação e Desenvolvimento Urbano (Cehab) se comprometeu
a custear o aluguel de um novo imóvel até a entrega de unidades habitacionais
do Programa Pró-Moradia, prometidas pelo Executivo Estadual para o grupo de
invasores. No acordo, há previsão de novas tratativas, caso até o fim do
próximo ano as chaves das residências não sejam entregues às famílias.
O prazo de 45 dias para o MLB indicar um novo imóvel
para os invasores do terreno na Deodoro da Fonseca só começará a contar a
partir da homologação do acordo na Justiça. A partir disso, também ficaria
definido o prazo para retirada de todas as pessoas que se encontram dentro do
imóvel, que foi invadido na madrugada do dia 29 de janeiro deste ano.
O prédio invadido é de propriedade da Poti
Incorporações. A assessoria jurídica da empresa informou que está avaliando a
proposta de acordo para desocupação do terreno sugerida pela Defensoria Pública
do Estado, MLB, Governo do Estado e Município do Natal.
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE procurou a Cehab e
questionou sobre o processo de negociação com o MLB e se já há algum imóvel
para realocação das famílias. Em nota, o órgão informou que “toda informação
sobre o referido assunto pode ser encontrada na ação e que vai cumprir o que
ficou acordado entre todas as partes”.
Na reunião para construção do acordo, o coordenador
do MLB, Marcos Antônio, teceu críticas ao Governo do Estado. Ele pontuou o
atraso para entrega das unidades habitacionais do Programa Pró-Moradia. O
integrante do movimento ainda destacou as “dificuldades do diálogo com o Estado
para resolver, inclusive por meio de fóruns oficiais, a situação da ocupação”.
Ele disse que “fechou-se o diálogo” após a judicialização do caso.
Conforme consta no documento, protocolado na
segunda-feira (6), a ocupação do prédio do extinto Diário de Natal conta
atualmente com 38 famílias. O advogado do MLB, Gustavo Barbosa, disse que o
movimento participou ativamente da definição do acordo e que aguarda a
homologação na Justiça para a efetiva resolução do caso.
“Esses 45 dias só contam a partir da homologação do
acordo pelo juiz. Não estão contando ainda. O juiz deve abrir prazo para o
Ministério Público se manifestar sobre o acordo e depois, ele acatando ou não o
parecer do MP, deve verificar se o que foi convencionado naquela ocasião está
de acordo com a legislação e com as normas específicas. Uma vez ele
identificando que não há nenhuma irregularidade no acordo, ele homologa. E essa
homologação tem força de decisão judicial. A partir da homologação é que começa
a contar os 45 dias”, disse o advogado do MLB.
Memória
A
invasão por parte do Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas do Rio
Grande do Norte a um terreno privado na zona Leste de Natal completou três
meses no último dia 29 de abril.
Com três meses de invasão, já havia decisão judicial
e prazo esgotado para que os integrantes do MLB deixassem o terreno, o que não
aconteceu desde então. A decisão é datada do dia 05 de fevereiro. Apesar disso,
os invasores permaneceram no lugar.
No dia 29 de janeiro, membros do MLB invadiram o terreno onde funcionou o
jornal Diário de Natal, na avenida Deodoro da Fonseca, e que hoje pertence à
empresa Poti Incorporações. São mais de 30 famílias da ocupação Emmanuel
Bezerra, formada no ano de 2020, quando o MLB organizou o grupo para ocupar o
prédio da antiga faculdade de Direito da UFRN. Por conta da ocupação, a UFRN
ingressou com pedido de reintegração de posse.
Após tratativas com os governos estadual e
municipal, as famílias foram transferidas para o galpão na Ribeira.
Posteriormente, passaram a reclamar que se trata de uma área que alaga com
águas das chuvas e dos esgotos ,entre outros problemas. A Prefeitura propôs
pagar R$ 600 para que cada família pudesse alugar uma casa em outras
localidades, mas a proposta foi recusada.
Depois de quase quatro anos nessas condições, o movimento
invadiu o terreno privado na Deodoro da Fonseca para pressionar pela entrega de
casas prometidas à época da ocupação do prédio da UFRN.
A promessa das casas havia sido fruto das tratativas
entre poder público e MLB. A Secretaria Municipal de Habitação explicou que
“após diversas tratativas, ficou acordado que o Município de Natal iria
realizar a doação de uma área para que o Governo do Estado pudesse construir 90
casas dentro do Programa Pró-Moradia, do Governo Federal, e que 30 destas casas
seriam destinadas aos ocupantes da Emmanuel Bezerra”. Assim, a Prefeitura
encontraria um local provisório até que as casas estivessem prontas. O prazo
seria de dois anos.
O Governo do Estado no entanto não cumpriu com o
compromisso de construir as casas. O movimento aponta que essa demora foi um
dos motivos para a decisão de invadir o terreno privado onde funcionou o jornal
Diário de Natal.
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